Grécia: a geopolítica e o jogo duplo de Tsipras

por Paulo Roberto Silva (14/07/2015)

Não dá para afirmar ainda que a Grécia permanecerá na Zona do Euro

tsipras-parlamento

Do plebiscito ao acordo com a Comissão Européia, a Grécia atravessa um cenário em que a geopolítica está apitando muito mais que a economia. E a geopolítica não liga muito para firulas ideológicas. Assim como Stalin e Roosevelt puderam se sentar lado a lado em plena Segunda Guerra, e Nixon e Mao chegaram a importantes entendimentos, Obama e Hollande jogaram duro na questão grega apenas por poder. Obama mirou a Rússia, e Hollande a Alemanha. O acordo de domingo foi uma vitória dos dois.

Para tirar vantagem deste jogo, Tsipras está atuando de forma ambígua e adotando papéis contraditórios. Para o público interno, o acordo, redigido com frases duras e humilhantes para a Grécia, é vendido como vitória e resultado do referendo que rejeitou a austeridade. Para a comunidade internacional, um compromisso com os investidores e o projeto europeu.

No fundo, Tsipras tenta ganhar tempo, embora não esteja claro exatamente para o quê. O acordo precisa ser ratificado pelo parlamento grego, e uma recusa seria uma saída honrosa da Zona do Euro. Mas e se o parlamento aprova? Aí ele terá que cumpri-lo. Por isso talvez Tsipras esteja enfatizando o aspecto anti-austeridade do acordo, como os financiamentos para a atividade econômica e a reestruturação da dívida, enquanto não lembra de seu compromisso com privatizações.

Enquanto Estados Unidos, França e menos ostensivamente Itália atuavam para enfiar um acordo goela abaixo de Tsipras e Merkel, a Rússia não se moveu. Talvez para não comprometer sua tradicional discrição. Talvez por falta de condições objetivas. Diferentemente da Europa, a Rússia não tem recursos para investir de pronto. E, se a Grécia contava com apoio chinês, bem, a crise da bolsa de Shangai colocou esse apoio em stand by. Tanto que a possibilidade de o país acessar o Banco dos BRICS sequer foi discutida oficialmente, de acordo com comunicado russo.

Contudo, ainda não estão fechadas as oportunidades de a Grécia se abrir para a Rússia. Tudo dependerá da aceitação ou não do acordo no Parlamento grego. E mesmo esta aceitação é um campo de batalhas interessante para Putin, Obama, Hollande e Merkel jogarem suas fichas.

Paulo Roberto Silva

Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.

Avatar
Colabore com um Pix para:
[email protected]