Independência ou morte!

Quem precisa de bens e serviços estrangeiros ou mesmo de tecnologia e capital alienígenas? Orgulho, audácia... isso mais do que basta para erguer edifícios e encher barrigas.

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Pelo que entendi de tudo o que andei lendo na Folha e no New York Times, na Carta Capital e The Nation, no FB e na Internet em geral, a Grécia está como está porque tem sido sistematicamente pilhada por sanguessugas internacionais: capitalismo, imperialismo, banqueiros, rentistas, usurários, ricos, ricaços e magnatas, os alemães, ingleses e americanos etc.

Toda essa gente, em resumo, deve sua prosperidade à miséria dos gregos. O que eles têm a mais é exatamente o que os gregos têm a menos, e o que sobra àqueles é precisamente o que falta a estes. Não fosse a pilhagem a que foram submetidos, os gregos é que viveriam bem, e os demais, mal.

É mais do que patente, portanto, que a Grécia, ao aderir à União Européia, caiu numa arapuca, pois, enquanto pensava estar ingressando num clube de mútua cooperação, foi de fato sequestrada, levada a um lugar remoto e, desde então, vem sendo cruelmente forçada a produzir para todos os demais membros, que a ordenham impiedosamente e lhe extraem, drenam-lhe sem pausa todos os fluidos vitais, fluidos esses sem os quais o resto da Europa, quiçá do mundo, não poderia viver um dia sequer.

Tendo tudo isso em vista, não há outra solução: é preciso tomar medidas radicais. Cabe aos gregos cortarem de vez os cordões umbilicais que atam os parasitas alemães, os bancos, os aproveitadores, oportunistas, exploradores, europeus e capitalistas em geral à generosa e quase inesgotável opulência helênica. De uma vez por todas, a União Européia vai ter que aprender a se virar por conta própria e a sobreviver apenas com seus próprios recursos, sem se beneficiar, como diria Blanche du Bois, da bondade alheia. Numa linguagem um pouco menos delicada, alemães, suecos, holandeses, britânicos, dinamarqueses, austríacos etc. não podem passar a eternidade mamando nas tetas da bela Helena, podem? É hora de Atenas lhes dar um basta e, fechando as fronteiras, não importar mais nenhum bem ou serviço, deixando assim de exportar suas valiosas divisas.

É hora também de fechar as portas a essas nuvens de gafanhotos vorazes chamados turistas estrangeiros, que nada mais fazem que invadir as belas paisagens e praias balcânicas, para nem falar de suas maravilhosas ilhas, devorando vorazmente todos os seus recursos e deixando atrás, além de lixo, o quê? Outrora, seus inúteis Deutsche Marks e, hoje em dia, seus ainda mais inúteis Euros.

Pois bem. Os gregos hão de, orgulhosamente, dar-lhes uma lição de brio e racionalidade administrativa, pois, fechando-se ao mundo exterior, à globalização, à vileza do troca-troca mercantil, à promiscuidade do turismo, ao jogo sujo das altas finanças internacionais, viverão apenas daquilo que são capazes de produzir nas suas próprias terras com seu próprio trabalho.

Que povo, no fim das contas, precisa de mais do que isso? Quem precisa de bens e serviços estrangeiros ou mesmo de tecnologia e capital alienígenas? Quem precisa de finanças, mercado, capitalismo, combustíveis fósseis, adubos químicos, ciência moderna? Tudo isso, como se sabe, não passa de uma grande armadilha criada para escravizar povos independentes e torná-los dependentes dos donos internacionais do poder (que vocês, obviamente, sabem quem são).

O orgulho, a audácia, a coragem, o amor pela natureza e pelos excluídos, bem como o ódio aos inimigos do povo, que odeiam os pobres — isso mais do que basta para erguer edifícios e encher barrigas. Os amigos dos gregos sabem, sem sombra de dúvida, que, como sempre acontece, também neste caso o idealismo dos devedores insolventes triunfará sobre o realismo mesquinho e tacanho dos credores. Basta de tomar o elevador: tomemos o poder!

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