Cenários para a Grécia pós-referendo

É cedo ainda para dizer, mas a vitória do “Não” à austeridade no referendo grego pode dar em consequências econômicas e geopolíticas que estavam fora de cogitação até outro dia. Rapidamente:

Economia grega: fora do Euro, com juro alto e desvalorização

Muito dificilmente a Grécia permanece na zona do Euro a partir de agora. Sua saída é questão de tempo, e será vendida pela União Europeia como uma punição. Mas isso seria uma combinação de duplipensar e autoengano.

Na prática, e isso explica porque Nobels como Paul Krugman defendem a saída da Grécia do Euro: o país retomaria a autonomia da política monetária. E isso significa, se as autoridades gregas forem espertas, uma combinação de moeda desvalorizada, para impulsionar o turismo e as exportações, e elevação dos juros e do compulsório, para evitar uma crise bancária. Essas duas medidas permitiriam ao governo aliviar a política fiscal mitigando o risco de inflação.

Zona do Euro: reduzir ou acabar

A saída grega abre portas para outras rupturas com o Euro, tais como Espanha e Portugal. Na França esta hipótese é colocada, menos por razões econômicas que pelo nacionalismo francês.

Para evitar o fim da União Monetária, poderia ser avaliada uma redução de seu alcance a países que apresentam produtividade similar. Alemanha, França, o ex-Benelux, Dinamarca, Áustria e talvez Itália seria uma associação interessante. Tirar Espanha, Portugal, Irlanda e outros da União pode evitar novos desequilíbrios fiscais no futuro.

Rússia e Turquia

Fora da União Monetária, a Grécia pode encontrar na Rússia um parceiro interessante. Para os russos, um acordo valeria como contraposição à atuação europeia na Ucrânia, e os colocaria no Mediterrâneo. Para a Grécia, seria uma fonte alternativa de capital e reservas.

Outro parceiro que pode render frutos à Grécia seria a Turquia. Nesse caso, a capacidade econômica mais restrita dos turcos e pendências históricas – a dominação da Grécia pelos otomanos – restringiriam seu impacto.

O projeto europeu

No fundo, o que está em jogo é o projeto europeu. Enquanto no Leste, submetido durante anos ao Pacto de Varsóvia, uma Europa unida é vista como saída para a prosperidade e mesmo segurança contra o imperialismo russo, no Ocidente a resistência cresce. Não é à toa que o Não grego foi apoiado não só pela esquerda, mas pela direita francesa e o nacionalismo escocês.

Cada vez mais, a Europa Ocidental vê o projeto europeu como um projeto alemão, e o temor da Alemanha forte que remonta aos tempos de Carlos V põe combustível na fogueira do nacionalismo.

Para além de toda ideologia

De qualquer forma, recomendo aos leitores que olhem os rumos da Grécia fora da lente ideológica. A esquerda não deve esperar que desta crise saiam estatizações ou medidas anticapitalistas. A direita não pode ver liberalismo apenas na aceitação do pacote da Troika. O jogo é complexo, e está só começando.

Paulo Roberto Silva

Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.

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