O fraco governo Dilma traz menos risco à Lava Jato que um eventualmente poderoso governo Cunha
Pois se até Satanás pode se disfarçar de anjo de luz, quanto mais
seus ministros podem se passar de ministros da Justiça
São Paulo
Dia 17 de julho é o dia em que os católicos se lembram dos 40 mártires do Brasil. Tratam-se de 40 missionários jesuítas que foram abordados por piratas protestantes em pleno Oceano Atlântico há 500 anos. Todos naufragaram. A lição que fica é: desde o descobrimento o Brasil sofre nas mãos de piratas religiosos, como Malafaia, Crivella, e o maior de todos, Eduardo Cunha.
No mesmo 17 de julho, cinco séculos depois, Eduardo Cunha anunciou sua oposição ao governo Dilma. O antipetismo anda tão exacerbado que os inocentes úteis da oposição o saúdam como grande aliado. Sinal de estupidez política. Cunha está mais para o truculento Costa e Silva que para o pobre golpista Auro Soares de Moura Andrade, o presidente do Congresso que legitimou o golpe militar.
De todas as frentes políticas em ebulição, a Lava Jato é a mais civilizatória, e a única de onde pode emergir um Brasil melhor. Por isso, Eduardo Cunha trata de deslegitimá-la, colocando Sérgio Moro, PF e MPF no mesmo saco. Os movimentos de rua são facilmente manipuláveis – eles já o estão saudando. A oposição parlamentar é débil, pusilânime e incompetente. O PT está no volume morto. O único empecilho ao projeto de poder de Eduardo Cunha é a Lava Jato.
Se todo problema fosse o governo Dilma, Eduardo Cunha agiria para vê-lo sangrar e se estabelecer como o governo de fato. Mas a Lava Jato o está alcançando. Daí que ele tenha mudado de estratégia, e colocado o impeachment na mesa. Só com o poder de direito nas mãos Cunha pode enquadrar a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz Sérgio Moro.
Por isso, um fraco governo Dilma contribui mais para o avanço democrático e institucional que pode advir da Lava Jato que um eventualmente poderoso governo Cunha. Seja diretamente, seja tendo Michel Temer como seu títere. Cunha é perigoso. O bandidão Alberto Youssef teme por sua vida nas mãos dele. Júlio Camargo titubeou. Imaginem-no com poder.
Resta torcer para que haja um mínimo de bom senso e habilidade política entre aqueles que podem barrá-lo em suas pretensões, como a oposição e seus pares no PMDB. O sucesso de Cunha será também a derrota deles, esperamos que entendam.
E em um eventual governo Cunha, todos os colaboradores do Amálgama teriam que pedir asilo político no exterior.
Paulo Roberto Silva
Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.
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