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Após Jeremy Corbyn comparar Israel ao Isis, temos que parar de fingir que ele é um bufão amável

por Amálgama Traduções (01/07/2016)

Jeremy Corbyn é um dos políticos mais sórdidos e cínicos que já apareceram no cenário nacional.

Stephen Pollard, The Telegraph
trad. Daniel Lopes e João Rodrigues

Duvido que Shami Chakrabarti pudesse imaginar, quando concordou em produzir um relatório sobre antissemitismo para o Partido Trabalhista (e sobre “outras formas de racismo”, como Jeremy Corbyn sempre nos lembra), que, quando ele fosse publicado, o líder trabalhista estaria em tão maus lençóis.

Mas estou absolutamente certo de que ela não esperava que o lançamento do relatório fosse memorável, não por suas próprias palavras – nota B+, passemos adiante –, mas pelo fato do líder do Partido Trabalhista ficar passivamente assistindo enquanto uma das parlamentares do partido era insultada.

Ela tampouco poderia ter imaginado que o mesmo líder trabalhista acharia apropriado comparar em seu discurso Israel ao Estado Islâmico.

O encontro da manhã de ontem foi um dos eventos mais extraordinariamente terríveis na história do Partido Trabalhista. Ele não cobriu de vergonha apenas Jeremy Corbyn, mas todos que apoiam sua liderança.

Não é preciso repisar assuntos antigos, mas lembremos por que, para início de conversa, a senhorita Chakrabarti teve que fazer seu relatório. Há alguns meses, durante várias semanas, uma série de incidentes presumidamente antissemitas surgiram nos meios trabalhistas, o que levou a suspensões e expulsões. Foi pedido à senhorita Chakrabarti que examinasse o que estava acontecendo e fizesse algumas recomendações.

Seu relatório é bonzinho, embora hesitante. Não diz nada que qualquer pessoa não antissemita não pudesse dizer sobre como alguém deve-se portar em um debate político, e sobre como o uso de algumas palavras e comparações, tais como entre nazistas e Israel, são ofensivas. E ele faz umas recomendações monótonas que mudarão pouco a realidade.

Enquanto relatório, o material é essencialmente uma perda de tempo. Mas, em vista do que aconteceu ontem de manhã, ele é também altamente instrutivo.

Pense por um momento no que aconteceu. Em um evento de lançamento de um relatório sobre atitudes trabalhistas em relação ao antissemitismo, o líder do Partido Trabalhista – em uma fala previamente preparada – achou que a coisa mais apropriada para se dizer fosse: “Nossos amigos judeus não são mais responsáveis pelas ações de Israel ou do governo Netanyahu do que nossos amigos muçulmanos pelas ações de vários autointitulados estados ou organizações islâmicas.”

Pode-se dizer que ele não percebeu a ironia de estar lançando um relatório condenando comparações inapropriadas de Israel. Mas, como explicarei, não foi falha de percepção; foi tudo deliberado. Alguns disseram que suas palavras não comparam Israel com o Isis. Ficamos na dúvida se eles sabem mesmo ler. O argumento foi que tanto Israel quanto o Isis são extremistas, terroristas, dê o nome que quiser. E, se muçulmanos são decentes porque não apoiam as ações do Isis, da mesma forma judeus são decentes quando (e apenas quando) não apoiam Israel.

Pode-se descrever sua fala como atrapalhada, ou mesmo estúpida – e, desde que ele se tornou o líder trabalhista, a narrativa geralmente tem sido de que Corbyn não está à altura da função, não a compreende, não deve mesmo ser levado a sério. Mas isso é dar-lhe um crédito que ele não merece.

A verdade é muito mais desagradável. Ficou claro em seu discurso que, para Jeremy Corbyn, antissemitismo é algo a ser transformado numa arma. Sua observação não foi feita sem pensar, um mero deslize. Foram realmente suas palavras – ou provavelmente as de Seumas Milne. Numa reunião sobre antissemitismo, ele chegou à conclusão de que a coisa mais apropriada seria comparar Israel ao Isis. Isso é uma política de subentendidos da extrema-esquerda. Como o “antissionismo” é uma característica marcante da extrema-esquerda, o antissemitismo vira uma ferramenta.

Se você duvida, considere o que mais aconteceu durante aquela manhã. Uma integrante do parlamento, que passou toda sua carreira política combatendo o racismo, que trabalhou na Tenha Esperança, Não Ódio e tem lutado contra a islamofobia e, como Corbyn colocou, “todas as formas de racismo”, foi escolhida para ser atacada por um ativista da Momentum (uma organização dentro do Partido Trabalhista). Escolhida e insultada bem na frente de Corbyn.

Escolhida e insultada diante de Corbyn, enquanto o líder trabalhista permaneceu impassível e assistindo. Escolhida e insultada por ser parte de uma conspiração – clássica metáfora antissemita –, enquanto Corbyn não disse absolutamente nada.

A parlamentar, Ruth Smeeth, teve que deixar o encontro de tão perturbada com o insulto. E essa parlamentar é judia. O que Corbyn sabia muito bem. Isso não é o Corbyn “infeliz” da caricatura. É o cinismo do verdadeiro revolucionário.

Paremos com essa ideia ridícula de que Jeremy Corbyn é um bufão amável que simplesmente não tem habilidade. Como o dia de ontem mostrou, Jeremy Corbyn é um dos políticos mais sórdidos e cínicos que já apareceram no cenário nacional.

Ele não vê problema em ficar parado, sem falar ou fazer nada, enquanto uma parlamentar trabalhista judia é violentamente insultada em um evento sobre antissemitismo. Pode não ter sido seu plano, mas tudo se encaixa com sua versão de extrema-esquerda cheia de subentendidos sobre Israel e judeus. Tzipi Livni, a ex-ministra do exterior israelense, foi quem melhor se expressou em seu Twitter:

As palavras de Corbyn implicam um sério déficit de juízo moral. Assim como nem todos os muçulmanos devem ser culpados pelo Isis, nem todos os britânicos devem ser culpados por Corbyn.

Amálgama Traduções

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