Marina Silva, o PSB e as eleições

por Paulo Roberto Silva (14/08/2014)

Quais forças definirão o futuro da candidatura do PSB nos próximos dias

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A coligação Unidos pelo Brasil, reunida em torno da candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva, tem até 23 de agosto, ou seja dez dias contatos a partir da trágica morte de seu candidato, para definir quem o sucederá na disputa pela presidência da República. É pouco tempo, e isso impõe necessariamente um atropelo à boa educação do luto e do respeito ao pesar da família Arraes para decidir-se rapidamente o novo candidato.

Se, por um lado, a decisão que será tomada é imprevisível, é possível mapear quais serão as linhas de força que a balisarão, dentro do intrincado jogo político interno à aliança. Neste artigo, nosso objetivo é mapear essas inhas de força e apontar como elas podem interferir tanto na decisão que será anunciada até 23 de agosto quanto em seus desdobramentos eleitorais.

As linhas de força seriam:

  • O cacife eleitoral de Marina
  • Os interesses do PSB
  • Lideranças da Rede
  • O fator PPS
  • Outros partidos da coligação

O cacife eleitoral de Marina Silva

Os olhos dos eleitores rapidamente se voltaram a Marina após a confirmação da morte de Eduardo Campos. Afinal, ela teve 19,33% dos votos no primeiro turno de 2010, em uma ocasião na qual o governo Lula tinha aprovação de 83% dos eleitores. Além disso, a última pesquisa Datafolha que incluiu um cenário com seu nome a colocava na segunda posição, com 27% do eleitorado.

Além disso, Marina ainda é vista como a candidata que melhor representa o espírito das manifestações de junho de 2013 – se Zé Maria ou Luciana Genro tivessem este potencial, suas intenções de voto seriam maiores. Por isso, ela tem potencial para atrair votos incertos que hoje estão com Aécio e Dilma, podendo crescer mais ainda.

Isto tudo, mais o potencial alavancador que a morte de Eduardo Campos pode trazer à candidatura, tornam-na a melhor opção para a coligação do ponto de vista meramente eleitoral. Contudo, isso por si só não assegura a certeza desta escolha. Este dado da realidade deverá ser considerado em relação às outras linhas de força.

Os interesses do PSB

O PSB estava unido em torno da candidatura Campos, mas não necessariamente em torno do nome de Marina Silva. As relações do grupo de Marina e do PSB não eram as melhores, e se davam de forma desigual.

Alguns líderes do PSB têm uma maior proximidade com o PSDB. É o caso de Márcio França, líder do partido em São Paulo e vice de Alckmin. Maçom e com carreira política construída na contraposição ao PT, de quem tirou a prefeitura de São Vicente em 1996, França sempre manteve boas relações com os governos tucanos de São Paulo. Além disso, seu relacionamento com correligionários egressos do petismo, especialmente Luísa Erundina, não é dos melhores. Some-se a tudo a resistência de Marina à coligação com o PSDB de São Paulo. Esses elementos apontam Márcio França como um dos potencialmente mais resistentes à candidatura Marina neste momento.

Outros líderes tem maior proximidade com o PT, especialmente o vice-presidente Roberto Amaral. Vários se ressentem de terem perdido cargos na administração federal. Essas lideranças também teriam ressalvas à candidatura Marina, mas por motivos diferentes daqueles que estão próximos ao PSDB.

Há também os candidatos nos estados. Para líderes como Lídice da Mata, Renato Casagrande, Rodrigo Rollemberg ou Romário, a ausência de uma candidatura nacional pode gerar dificuldades para o processo estadual. Além disso, nenhum deles estaria em condições de abandonar seu projeto estadual para ocupar o lugar de Campos como candidatura tampão.

Nesta hora faz falta a figura de Ciro Gomes, que abandonou o partido para ir ao Pros, justamente por divergências com Eduardo Campos. Ele poderia substituir Campos, mantendo a vice de Marina, sem prejuízo para os projetos estaduais. Mas esta opção não é possível agora: Ciro Gomes não está mais no PSB e seu Pros apóia Dilma.

Dado este cenário, o PSB tem duas escolhas possíveis. Uma seria a neutralidade. Desta forma, parte do partido apoiaria Dilma, parte Aécio, e parte ainda se voltaria a outros candidatos, como Eduardo Jorge do PV. A outra seria um apoio a Marina no modelo Sarney, ou seja, se Marina for eleita ela teria que comprometer a constituir um governo do PSB. Chamo esta escolha de modelo Sarney pela semelhança que guarda com o acordo entre Ulisses Guimarães e Sarney após a morte de Tancredo Neves.

O modelo Sarney é interessante do ponto de vista eleitoral, mas não garante 100% de apoio das lideranças do partido. Até porque Marina Silva não é Sarney, e não existe hoje no PSB um líder com a estatura de Ulisses Guimarães para articular um acordo assim em nome do partido. Por isso, mesmo um apoio a Marina nestes moldes não asseguraria a fidelidade de todas as lideranças, e algumas traições a favor de Dilma ou Aécio são inevitáveis.

Lideranças da Rede

Caberá a lideranças da Rede a capacidade de articular dentro do PSB e da coligação o apoio que Marina precisaria para assumir como candidata. Dentre todos, o nome com maior potencial de exercer este papel parece ser o deputado Walter Feldman. Com origem no PCdoB e muito tempo no PSDB, tem trânsito entre diversas correntes e partidos, e pode estabelecer o diálogo com a ala do PSB que está próxima dos tucanos. Resta saber se Feldman está disposto a exercer esse papel.

O fator PPS

De todos os partidos da coligação, o PPS é o que pode ser o fiel da balança pró-Marina. O partido mantém relações próximas com a candidata desde sua ruptura com o PV. Além disso, o PPS tem tradição em lançar candidatos independentes à presidência, desde 1989. As únicas vezes em que esta tradição foi interrompida foram 1994, 2006 e 2010, em todas apoiando um candidato da oposição – respectivamente Lula, Alckmin e Serra.

Se o PPS decidir-se pelo apoio à candidatura Marina, isto pode ser um elemento a mais a favor de um modelo Sarney de acordo entre as lideranças do PSB e Marina Silva

Outros partidos da coligação

Os outros partidos da coligação não têm potencial de influenciar de forma crucial os rumos da substituição de Eduardo Campos. PPL e PHS tendem a fechar com Marina, PSL e PRP são indefinidos.

Hipótese mais provável

Dadas essas linhas de força mapeadas, podemos indicar, como hipótese mais provável, a busca de um acordo em torno da candidatura de Marina em um modelo Sarney com o PSB. Mas mesmo esta é uma hipótese incerta, dada a imprevisibilidade do comportamento de diversos fatores envolvidos.

Paulo Roberto Silva

Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.

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