O discurso do feminismo estereotipado deu origem a um fenômeno muito interessante: homens culpados sem crimes.
Tenho muitas dúvidas sobre feminismo. Já fui de esquerda, como qualquer um que procura ter bom coração e ter uma boa atuação na Terra. No entanto, a gente sabe que nenhum sistema de esquerda funciona e, ainda, ideologias esquerdistas nada têm a ver com boas práticas de convívio em sociedade. Mas não é sobre isso que quero falar.
O feminismo estereotipado é a pauta.
Não pretendo entrar em detalhes neste exemplo, porque gera fadiga, tampouco me importa os envolvidos, por isso não lhes vou dar nome. Apenas o ocorrido vai servir para apresentarmos um “certo estudo de caso”.
Recentemente, o perfil de um famoso blog voltado para tecnologia e universo “nerd” pediu desculpas a uma moça por algo que foi escrito há dois anos. A menina ofendeu-se e, na ocasião, a fan base dos rapazes do blog defendeu os autores contra a reclamante. Tentando aproximar-se de tamanha dor reclamada pela moça, um dos rapazes desse blog escreveu o seguinte: “Cresci numa sociedade machista e isso me contaminou. A cura está na informação e na responsabilidade. É isso estou sempre aprendendo.”
O gesto é, evidentemente, uma reflexão diante de um sensível clamor. Em resumo, o cara está verdadeiramente com a consciência pesada pelo que disse há dois anos. Mas não foi suficiente; não houve um pacto de paz, um cigarrinho passivo não foi fumado, não viraram amigos. Cada um continuou na sua arquibancada. E o resto, se você é um usuário de redes sociais, já sabe o que aconteceu.
Em Vamps e Vadias, livro escrito por Camille Paglia logo após Personas Sexuais, ela aborda essa crescente confusão em torno do que chama de “cultura do estupro”: o estupro em sua definição criminal foi substituído por olhares, fiu-fiu e até mesmo uma noite frustrante de sexo consensual.
É essa definição de Camille que nos dá base para explicar o que é o feminismo estereotipado – a concepção de que homens e mulheres estão travando uma guerra, e todo o comportamento do “patriarcado” (homens, basicamente) é interpretado como agressão. É fácil ver malabarismos para converter imagens, textos, tweets, propagandas e qualquer produção cultural como pré-concebidas e muito bem arquitetadas ofensas às mulheres.
É como o socialismo (ainda não foi implementado corretamente): a ideia é de que vivemos em uma sociedade patriarcal e que é necessário transformar a sociedade para ser plena para as mulheres, desprezando toda a construção social anterior, já que, antes, sua mãe, sua avó e outras ancestrais foram sempre oprimidas. A experiência delas não vale de nada para a construção da sociedade em que as mulheres serão, finalmente, “empoderadas”. É claro que a esquerda se apoderou do discurso em defesa das mulheres há algum tempo.
O discurso do feminismo estereotipado deu origem a um fenômeno muito interessante: homens culpados sem crimes. Os homens culpados são aqueles que, ainda que não tenham jamais desrespeitado uma mulher, precisam desculpar-se ou amenizar sua atitude por todos os homens que não o fizeram anteriormente. Mais uma vez, é enxergado o “gênero masculino” como culpado e não o indivíduo criminoso.
Esses homens que pedem desculpas sem terem feito nada são a consequência do feminismo estereotipado, eles se desculpam “pelo gênero”. Como se eu, branca, fosse sempre pedir desculpas a qualquer rastafári percussionista baiano pelos meus antepassados portugueses e tratá-los com alguma deferência apenas pela cor da pele, para dar um exemplo bem chinfrim.
O combate ao feminismo estereotipado começa com os homens entendendo que não adianta se desculpar por serem homens; o status quo do feminismo estereotipado começa com a eterna ofensa, ou seja, vocês não serão da mesma sociedade que elas.
Esqueçam e façam como Jesus mandou: ame o próximo como a ti mesmo.
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eduardokn
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Camilla Lopes Pacheco
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Jonathan Harker