Enquanto as ruas pedem o impeachment, Dilma entrega o poder permanecendo nele
Neste 16 de agosto as ruas se encheram novamente contra o governo Dilma. Menos gente que 15 de março, mais que 12 de abril, mais do mesmo. A construção de uma alternativa ao status quo pela centro direita ainda é uma tarefa a ser realizada, em meio à heterogeneidade da oposição das ruas, que vai dos libertários mais radicais aos conservadores menos esclarecidos.
No vácuo deixado pela oposição, a classe política armou no decorrer da semana uma estratégia de salvação da República. O seu objetivo não é a transformação das instituições, mas a estabilidade política e econômica, ou aquilo que Gramsci chamava “pequena política”.
A face pública desta estratégia é a chamada Agenda Brasil. Defendida pelas Organizações Globo e pela Folha em editorial, proposta pelo presidente do Senado e bancada pelo ministro da Fazenda, trata-se de uma agenda política interessante economicamente, mas o fim do período petista. Seu conteúdo é o programa que Dilma disse recusar-se a implementar.
Além disso, trata-se de uma solução ” por cima”, bem dentro da tradição política brasileira. Da Independência à ascensão do primeiro governo de esquerda, quase todas as transições de governo e regime no Brasil se deram por acordo com as elites, e defendendo seus interesses. O petrolão nada mais é do que a versão petista deste tipo de acordo. A Agenda Brasil acaba com o período petista, implanta uma pauta liberal, mas sem turbulência.
E, neste contexto, o que faz Dilma? Olhando de fora, parece que o grito por impeachment das ruas neste domingo se faz surdo. Mas o petismo está ferido de morte. Seu fim era a única unanimidade do dia. Sua permanência apenas sustentará seu desgaste, enquanto a troika Temer-Renan-Levy faz os ajustes dolorosos e necessários para a construção de uma nova ordem política e econômica a partir de 2018.
Paulo Roberto Silva
Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.
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