Após o panelaço de quinta-feira, mais uma vez tentaram tachar os opositores de elitistas. Mas os mais pobres são os que mais querem o fim do governo Dilma.
Logo após o panelaço contra a presidente Dilma Rousseff na última quinta-feira, 6 de agosto, os poucos defensores do petismo (mas que concentram o poder na elite falante e midiática) trataram de narrar o protesto como um levante das elites insatisfeitas com os ganhos dos pobres.
Os petistas tratam seus opositores como um autômato que denominam “elite”. Esta elite é má, fria e sádica. Nada perderam durante os maravilhosos anos de PT no poder, mas não se conformam com a ascensão social dos pobres. Quem são os pobres? Pela inferência, só poderiam ser os petistas.
Os petistas manejam palavras de acordo com sua vontade de poder. Para eles (e para a maior parte da esquerda hoje), não existe realidade, mas só narrativas. A Lava Jato não trata de fatos, a crise econômica e política não tratam de fatos, os bilhões roubados para comprar base parlamentar e financiar campanhas tampouco podem ser observados como fatos. O que existe é uma narrativa das “elites” contra o PT, não interessa o que se prove.
Não importa se a inflação corrói o bolso dos que menos tem, não importa se uma quadrilha assaltou o Estado e solapou a democracia, não importa se a presidente faz o inverso do que prometeu, tudo isto não passa de uma narrativa contra o partido dos pobres, o PT. Para o petista, a realidade é o seu umbigo e a verdade é o seu desejo.
O descolamento da realidade é gerado por essa onipotência dos que pensam serem artífices do real. Petistas e seus opositores de esquerda tratam os que simplesmente possuem menos propriedades, bens e rendimentos como uma categoria carregada de sentido histórico, onde sua predestinação é ser “empoderada” — os petistas se arvoram o Messias do “empoderamento”; já seus opositores de esquerda criticam sua insuficiência em romper com as elites e “empoderar” os pobres. Não há realidade (com suas perdas e ganhos) na pobreza para estes, mas só uma projeção histórica do esquerdista diante do espelho. A categoria se torna reflexo de um desejo metafísico imanentizado no mundano. O pobre do esquerdista sempre tem as características heroicas que ele deseja para si: o agente da rebeldia contra toda realidade.
No entanto, a última pesquisa Datafolha demonstra que este raciocínio está completamente equivocado. Os protestos e pedidos de afastamento do cargo da presidente Dilma não são obras de uma elite malévola. Os pobres desejam e anseiam pelo impeachment mais do que os ricos.
Segundo o Datafolha, 66% das pessoas acreditam que o Congresso deveria abrir um processo para afastar Dilma da presidência. 28% responderam que não e 5% não sabem. Observando o resultado de acordo com a renda familiar mensal, teremos algumas surpresas. Vejamos o gráfico:
De acordo com a pesquisa, quanto menor é a renda mensal, maior é a vontade pelo impeachment. A resposta positiva para o afastamento da presidente diminui quando a renda vai subindo. Assim, 69% dos que possuem uma renda familiar menor do que dois salários mínimos desejam o impeachment de Dilma. Entre os mais ricos, que possuem uma renda familiar mensal acima de dez salários mínimos, este índice cai para 59%. Entre os que ganham entre dois e cinco e cinco e dez salários mínimos, o percentual varia, respectivamente, para 67% e 63%.
Uma boa explicação para isto é o fato de que qualquer crise econômica incomoda primeiro – e atinge mais – aquele que possui menos. Estes também se sentem enganados pelas mentiras contadas pela presidente na campanha.
Por região, as duas onde as pessoas mais anseiam pelo impeachment é Centro-Oeste e Nordeste. Na primeira região, 74% responderam positivamente a pergunta, contra 67% da segunda. A faixa etária que mais deseja o afastamento da presidente são os mais jovens, com 74% dos entrevistados.
A expectativa de afastamento também é maior entre os mais pobres. No geral, 38% acreditam que ocorrerá o impeachment, 53% desacreditam e 9% não sabem. A faixa por renda onde as pessoas estão mais esperançosas de afastamento são os que recebem menos de dois salários mínimos, onde 40% acreditam e 48% dos entrevistados continuam céticos.
Ao contrário da loucura repetida pela esquerda, os protestos contra Dilma no dia 16 de agosto e o seu pedido de afastamento não são frutos de um golpe planejado por uma elite malvada, mas o anseio da maioria dos brasileiros, em especial dos que menos possuem. Golpe é roubar dinheiro público para comprar maioria parlamentar e patrocinar campanhas eleitorais, corrompendo o sentido da democracia.