Aécio parece reunir as melhores condições de ampliar o leque de possibilidades futuras para o Brasil e seus cidadãos.
Acredito que há, grosso modo, três estereótipos de eleitores de Aécio Neves. Primeiro, o eleitor tradicional do PSDB, o que tem garantido a longa dominância do partido no governo dos dois estados mais populosos da federação (desde 1995 em ambos os casos, salvo apenas por um mandato de Itamar Franco em Minas Gerais entre 1999 e 2003). Segundo, os que consideram a gestão da economia no governo Dilma desastrosa e acreditam que Aécio tem os melhores programa e quadros para que o país siga se desenvolvendo. Terceiro (e, provavelmente, o mais relevante no contexto da próxima eleição), os que estão cansados de Dilma e do PT e simplesmente querem mudança. Existem, claro, sobreposições dessas categorias. Considero-me com dois terços de um pé em cada uma delas, e abaixo detalho minha visão da candidatura de Aécio sob essa ótica.
1.
É de se lamentar alguns aspectos da recente polarização do debate (ou melhor, pseudodebate, já que as partes geralmente preferem fazer eco das próprias opiniões a dialogar entre si) político no Brasil — refiro-me ao que reduz qualquer coisa à direita do PT a “reaça” e os petistas a “petralhas.” Essas caricaturas, grosseiras como se feitas com um bloco de carvão, de alguma maneira revelam características da história recente dos partidos: no caso do PSDB, as alianças com grupos efetivamente conservadores e a ascensão de políticos dessa orientação, como Geraldo Alckmin. Porém, também enterram nuances e um passado do qual os tucanos deveriam se orgulhar.
Nomes de partidos no Brasil são quase aleatórios (quando não beiram o sarcasmo — Paulo Maluf é um dos bastiões do Partido Progressista, por exemplo), mas a “Social Democracia” no nome do PSDB tem razão de existir. O ideal de país de seus fundadores é espelhado muito mais nas sociais democracias europeias e seus estados de bem-estar social do que no liberalismo americano. (Assim também é, diga-se de passagem, a Constituição de 1988, da qual tanto o PSDB quanto o PT têm sido razoáveis fiadores.) Isso, aplicado ao Brasil, implica no avanço de uma agenda progressista, de expansão de direitos, que é difícil de ser conciliada com o rótulo “reacionário”, ou mesmo “conservador”.
O PSDB tem se esforçado para se afastar do modelo de partido que representa meus ideais. Sintomas emblemáticos não faltam: do aparente desânimo de Fernando Henrique Cardoso à virada conservadora de José Serra, um dos políticos de história mais interessante do país (quando terminar de ler a biografia, escrevo aqui sobre ele). Ainda assim, sobra algo da tal agenda progressista a que se apegar: por exemplo, Aécio é o único candidato entre os mais bem colocados nas pesquisas que (ao menos ainda) defende o casamento entre pessoas do mesmo sexo; FHC se posiciona abertamente a favor da legalização da maconha. Copiando a opinião do camarada Celso Barros sobre o PT, acredito que o PSDB ainda pode ser salvo de si próprio. Dessa maneira, o voto em Aécio é a maneira para fortalecer o partido e testar suas convicções contra a dura realidade da presidência, que tanto custou também ao progressismo do PT.
2.
“É a economia, estúpido”. O chavão cravado por James Carville durante a campanha vitoriosa de Bill Clinton para a presidência dos Estados Unidos em 1992 é tanto um trunfo quanto uma âncora para a candidatura de Aécio. Se há um raro consenso entre economistas de diversas orientações intelectuais que a “nova matriz econômica” bateu em um muro, outros fatores fazem com que o programa econômico de Aécio, personalizado por Armínio Fraga, não seja uma venda fácil. Apesar da forte desaceleração do crescimento do PIB durante o mandato de Dilma, os indicadores relacionados ao mercado de trabalho seguem fortes. Além disso, há a dificuldade natural de se mostrar de forma clara os efeitos de longo prazo de escolhas de política econômica e a associação imediata, fácil de ser explorada por marqueteiros, entre governos do PSDB e mal estar econômico.
Assumindo uma variação do PIB per capita próxima a zero neste ano, a média de crescimento anual desta variável no governo Dilma terá sido ao redor de 0,86% ao ano. A esse ritmo, o país levaria 95 anos para alcançar o nível atual de renda de Portugal, geralmente visto como o primo pobre entre os países desenvolvidos (estou assumindo, para simplificar, uma taxa de câmbio constante). É preciso tanto encontrar formas de acelerar o crescimento quanto garantir que não haja retrocesso na estabilidade. A evidência histórica mostra que os países ricos assim se tornaram mais por sustentar taxas relativamente baixas de crescimento (cerca de 2% anuais, em termos per capita) por longos períodos do que por tentarem induzir crescimento acelerado e, muitas vezes, insustentável. A tartaruga vence essa corrida.
A relutância da candidata à reeleição em incluir na sua pauta de campanha ideias para a economia é um reconhecimento tácito de seu fracasso nessa seara e uma preocupante indicação para o futuro. Não se sabe se, passadas as eleições, o governo reconheceria seus erros ou, contrariando evidências, dobraria a aposta em sua versão de “desenvolvimentismo.” Salvo por alguma reviravolta, os nomes disponíveis para os cargos mais importantes são os mesmos que fracassaram nos últimos quatro anos — aí incluído o da própria presidenta, que, ao que parece, tem a última palavra nas grandes decisões econômicas.
Armínio Fraga não tem o toque de Midas, mas tem prestígio, conhecimento e equipe para promover medidas poucos populares, porém necessárias: ajustar preços relativos (sobretudo de energia), tentar combater a inflação, estancar a deterioração das contas do governo e repensar o papel dos bancos estatais. Não acredito que promoverá um novo milagre econômico (isto depende muito mais do Congresso e, de maneira indireta, de escolhas da sociedade, além de uma boa dose de sorte), mas afastará o risco de retrocesso na estabilidade e colocará de forma clara as alternativas entre as quais o país precisa escolher. Se não existe almoço grátis, alguém precisa, de quando em quando, mostrar o cardápio com as opções e seus respectivos preços.
3.
O leitor deve estar cansado de ouvir sobre a importância teórica para a democracia do fortalecimento de partidos e sua alternância no poder. No contexto atual, além da insatisfação de boa parte da sociedade com o ritmo e a direção do desenvolvimento socioeconômico, acredito que entre (obviamente) a oposição e até petistas mais moderados haja uma percepção de que uma troca de comando seria importante. Em 12 anos no poder, o PT enrolou-se no fisiologismo, inviabilizou muitas de suas principais lideranças, embebeu-se na Realpolitik brasileira e perdeu grande parte do seu potencial de oferecer novidades. Nesse mesmo período, o PSDB sofreu alguma descaracterização e viu parte de seu poder nacional diluir-se. Uma inversão de papeis forçaria um novo equilíbrio de interesses, uma renovação em dois dos principais partidos do país, e levaria potencialmente bons novos quadros a Brasília.
Claro que parte importante do apelo deste argumento perde força com a reviravolta na campanha provocada pela morte de Eduardo Campos. Marina parece ser a candidata que mais representa o espírito do tempo, de cansaço com a “velha política” e o impressionante dinamismo de um aspecto da democracia brasileira: a disposição do eleitor de olhar para além das opções mais “viáveis” e tomar riscos. Resta ao eleitor de Aécio, portanto, acreditar que, considerando esses riscos, ele tem o potencial de fazer o melhor governo — o que, na minha opinião, justifica-se pelo o que coloquei nos itens anteriores.
Como deve estar evidente, esta não é uma declaração de voto apaixonada. Por trás dela estão as minhas convicções que a democracia brasileira está bastante consolidada; que os três principais candidatos não representam risco a ela e têm como principal objetivo o desenvolvimento do país; e que a capacidade do executivo de influenciar decisivamente o rumo do Brasil é bem menor do que as campanhas e nosso otimismo querem nos fazer acreditar. Podemos não ter grandes estadistas na corrida eleitoral (quando tivemos?), mas todos os principais candidatos parecem aptos a representar relativamente bem a maioria do eleitorado e respeitar a Constituição. Se esses hoje parecem pré-requisitos elementares, comparemos a situação de hoje com o próprio Brasil de 20 anos atrás ou outras grandes democracias relativamente jovens de hoje.
Dito isso, Aécio parece reunir as melhores condições de ampliar o leque de possibilidades futuras para o Brasil e seus cidadãos, sem comprometer as conquistas do passado democrático recente — que, repito, não foram poucas, nem pouco profundas.
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Hugo Silva
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