Por que votar em Dilma Rousseff

O enorme avanço brasileiro nos últimos anos resulta das particularidades que diferenciam Lula e Dilma dos seus antagonistas.


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O governo Dilma Rousseff é indissociável do programa político-partidário inaugurado na primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma elegeu-se canalizando o imenso respaldo público do antecessor para uma proposta inequívoca de continuidade. Sua nova candidatura parte do mesmo princípio e remete, portanto, ao trabalho iniciado em 2003. Por isso a opção pela presidenta, além de possuir fortes apelos biográficos, técnicos e éticos, também agrega o êxito do projeto nacional que ela personifica.

E não se trata de um sucesso qualquer. Todas as estatísticas relevantes de escopo federal melhoraram no ciclo petista. Mesmo quando não chega aos índices históricos da miséria e do desemprego, o viés evolutivo contempla setores díspares como ciência e tecnologia, produção cultural, infraestrutura, exportações, transportes, meio ambiente, educação, moradia, esporte, saúde, turismo etc.

Seria ocioso realizar aqui levantamentos específicos de tamanha abrangência, mas eles estão disponíveis para averiguações. De qualquer maneira, um panorama abrangente pode ser obtido através dos Índices de Desenvolvimento Humano. Ali notamos que a melhoria da qualidade de vida do brasileiro teve uma guinada radical e inédita a partir de Lula, sem interrupção até o momento.

A imprensa oposicionista esforça-se para diluir as conquistas do período 2003-2014 em longas curvas históricas, que agreguem os anos FHC (1995-2002) e até os anteriores, como se fossem gestações das melhorias futuras. A eterna mitificação da “estabilidade monetária” que teria catapultado o lulismo alimenta a falácia de que o país vive há três décadas um processo homogêneo e inevitável de aprimoramento. Tudo isso para não admitir que o avanço brasileiro resulta exatamente das particularidades que diferenciam Lula e Dilma dos seus antagonistas.

Ocultar as distinções qualitativas das principais forças do cenário eleitoral é uma forma de validar o discurso oportunista que prega a mudança de governo sem esmiuçar as conseqüências dessa opção. Quando os maiores inimigos do protagonismo estatal admitem preservar os bem-sucedidos programas federais vigentes (Bolsa Família, PAC, Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos, Pronatec, Brasil Sem Miséria, entre tantos outros), eles querem minar o cerne identitário da trajetória petista, apropriando-se exatamente das marcas administrativas que justificam a sua manutenção.

O cerceamento das comparações também ajuda a amenizar o retrospecto negativo dos adversários da presidenta. Esquecendo as privatizações escandalosas, a compra de votos parlamentares, as máfias bilionárias, o apagão elétrico, o sucateamento infraestrutural e outras máculas da fase demo-tucana, o cidadão deixa de notar que jamais tiveram equivalentes, em porte e gravidade, nos governos Lula-Dilma.

É graças à amnésia coletiva acerca dos verdadeiros desastres administrativos do passado que se disseminam os factoides irrisórios destinados a provar uma suposta incapacidade gerencial de Dilma. A memória da torturante instabilidade vivida pelo país nos anos 1990 revelaria o viés manipulador dos diagnósticos sombrios atuais, baseados nos mesmos critérios que outrora serviam para incensar aquelas gestões econômicas e para relativizar nossos problemas diante das crises internacionais.

Ninguém precisa ser petista de carteirinha para rechaçar os projetos políticos que têm alguma chance de vencer Dilma. Primeiro porque escamoteiam uma essência neoliberal, privatista e elitizada incompatível com o modelo de inclusão social inaugurado por Lula. Segundo, e talvez mais importante, porque agregam forças conservadoras que impediriam os avanços legislativos necessários e levariam a graves retrocessos para os direitos individuais, a democratização dos bens culturais e educativos, a regulamentação da mídia, os movimentos populares etc.

A ameaça está bem representada nos porta-vozes do antipetismo: os reacionários doentios da internet, os hipócritas da mídia corporativa, os terroristas do mercado financeiro, a grã-finagem demófoba, os moralistas fariseus que aplaudiram as execuções sumárias de Joaquim Barbosa enquanto ele presenteava os mensaleiros tucanos com a impunidade certa. É inconcebível que tais espectros ideológicos usufruam os enormes benefícios políticos do pré-sal, dos Jogos Olímpicos, da infraestrutura dos transportes, das novas reservas elétricas e de todas as melhorias sociais construídas por Lula e Dilma.

Entre as plataformas viáveis da corrida eleitoral, a defendida por Dilma é a única de caráter verdadeiramente progressista. A campanha de Marina Silva afasta-se dessa linha já nos perfis de seus assessores mais próximos, egressos do grande capital e do tucanato arrependido. Ela própria expressa valores típicos do conservadorismo, que preenchem a vaziez programática da Rede com um incômodo ranço personalista.

Ademais, a falta de base partidária forçaria um eventual governo Marina a aliar-se com a direita parlamentar (PSDB, DEM, PPS, Solidariedade, PSD), especialmente se o apoio desta for decisivo no segundo turno. Administração neófita, liderada por figura de reconhecida incapacidade aglutinadora, a aventura da “terceira via” tende a virar um mal disfarçado regresso dos interesses que orbitam ao redor de Aécio Neves, José Serra, Agripino Maia, Roberto Freire e assemelhados.

Resumindo, o voto em Dilma Rousseff tem duas sólidas justificativas complementares. A de viés positivo baseia-se no fato de que a reeleição permitirá a continuidade do ciclo administrativo mais bem-sucedido da história democrática brasileira. A de viés negativo nasce da rejeição aos seus adversários, que ameaçam os avanços petistas e acenam para o retorno de um programa nefasto, já amplamente desaprovado pela população.

Amálgama




Guilherme Scalzilli

Historiador, jornalista e escritor, colabora com a Caros Amigos e o Le Monde Diplomatique Brasil. Autor, entre outros, do romance Crisálida.


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MAIS RECENTES


  • Raphael Tsavkko

    Ou seja, votar em Dilma simplesmente porque ela seria a “menos pior”? É isso? E, claro, isso esquecendo genocídio indígena, homofobia institucional, repúdio a direito das mulheres, privatizações, repressão…

    • André Martins

      Pelo que está no texto não é isso.

      • Raphael Tsavkko

        Pra mim a maior parte do texto se dedica a dizer que os outrossão piores do que em si defender o petismo – este que é indefensável.

        • André Martins

          Vejamos cada parágrafo:
          1º, 2º e 3º => defende o legado do PT.
          4º, 6º, 7º e 8º => ressalta as diferenças entre as administrações do PT e PSDB, mostrando porque a do PT é boa e a do PSDB é ruim.
          5º e 9º => ataca quem quer mudar sem pensar nas consequências da mudança.
          10º e 11º => ressalta as diferenças entre as propostas do PT e PSB, mostrando porque a do PT é boa e a do PSB é ruim.
          12º => resumo de tudo.

          Existe uma diferença entre bom e menos pior quando se faz comparações. Para quem acha que existe um ótimo ideal, e utiliza esse ótimo idealizado como fonte de comparação então todo o resto se torna menos pior, e tudo igual.

    • Edna Dias

      Não, porque nunca na história desse País vivemos tantas transformações econômicas e sociais. O seu problema é de memória curta, ou desinformação.

  • Antonio Livoni

    Querer fazer comparações com Governos anteriores, é se fazer de esperto, é a mesma forma de comparar a evolução da especie desde a contagem do Calendário Gregoriano, porque tudo tem um início, e, podemos contar com isso na implantação do Plano Real, é natural que os Governos posteriores a Ele levariam a vantagem, desde que, mantivessem a linha, e, não trocassem os pés pelas mãos, nosso dinheiro foi mal aplicado no Governo Dilma, os numeros apresentados foram de uma CONTABILIDADE MAQUIADA, e isso é IMPERDOÁVEL, já que estamos apresentando uma falsa aparência, meu amigo que já se foi Sr. Avelino Macanhã dizia “Matou outra pessoa” “Sim, então vamos ter que contratar um bom advogado para te defender”. Agora querer maquiar esse assassinato é pior. Mais médico programa eleitoreiro, se tivessem elaborado um plano de carreira e concursos publicos igual a Juiz e Promotor, teriamos solucionado todo esse problema, privilegiariamos o Médico Brasileiro, e não estariamos mandando nossas riquezas para o Exterior, os estrangeiros poderiam participar do concurso, desde que fIzessem, o REVALIDA.

  • Jorge

    Gostei do texto. Mas quando você diz sobre melhorias nos transportes, talvez eu esteja pensando apenas em âmbito municipal da minha família, mas não consigo ver quais foram as melhorias empregadas pela Dilma especificamente. Você pode dizer alguma?

    • André Martins

      Eu rodo bastante por rodovias federais e o que eu vi foram melhoras absurdamente significativas entre os governos do PT e PSDB, sem falar que os pedágios (quando tem) são uma fração dos paulistas. E tem ainda os investimentos em portos, aeroportos (o de Cláudio não foi o PT que fez) e ferrovias. Basta pegar uma revista especializada no setor e acompanhar.

      • William

        Também rodo bastante por rodovias, tanto federais quanto estaduais, na maior malha rodoviária que é a de Minas, a única melhoria que vejo são nas rodovias privatizadas. Investimentos em portos em CUBA não vale ok? E os aeroportos foram terceirizados, as reformas estão nas mãos da iniciativa privada. Se vc realmente pegasse uma revista especializada no setor André Martins, saberia da falácia que vem contando.

  • Hagen Marilia

    http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/as-perguntas-que-dilma-nao-quis-responder-na-tv

    • Marcos Lúcio

      Veja é tendenciosa. Procure outras mídias para se informar melhor. Ou compare o que se lê em jornais/revistas de direita com outros de esquerada (http://www.conversaafiada.com.br/economia/2014/07/31/dilma-tem-numeros-para-mostrar-e-o-arrocho/). Agora, aos que só sabem “ler” Veja, meus pêsames.

      • William

        Você vem me falar de Veja tendenciosa e me posta um link do Paulo Henrique Amorin? Só pode estar de brincadeira Marcos Lúcio.

  • Ana Marcia Cruz Vieira

    Avanços no Brasil???? Sim, avanços na corrupção, na luta de classe, na implantação de socialismo….

    • Edna Dias

      Querida Ana Maria, os avanços na corrupção que você se refere é que houve de fato uma maior seriedade à este respeito. Mais transparência nos processos e punições. A luta de classes é histórica em uma sociedade capitalista como a nossa e não culpa de Dilma, coitada. Agora, quanto a implantação do socialismo, nunca na história desse país tivemos um governo tão atuante quanto à transferência de renda e outros programas sociais que buscam um maior equilíbrio entre as classes. Desse ponto de vista, digamos que sim, Lula e Dilma deram o primeiro passo, isso é ruim?

      • Rafael Corrêa Simões

        Nunca se viu tanta corrupção na hist´ria desse país. A gente percebe muita transparência, principalmente nos empréstimos a fundo perdido feitos na calada da noite pra outros países, perdão de dívidas, , falsas promessas (reposição Rio São Francisco, Trem bala etc), mensalões, desvios de verbas públicas, lavagem de dinheiro, superfaturamento ( estádio e refinarias etc), STF e congresso comprado, impunidade de políticos corruptos.
        Bolsa Família marketing feito pelo PT, só o povo que é ignorante acredita nessa engodo, programa já existente no governo anterior, ela é apenas uma continuação. Uma economia em recessão, inflação crÔnica, desemprego e pobreza. Hoje, quem ganha mais 1000 reais é considerado classe média, pelos critérios adotados pelo governo, é por isso que não temos pobres no Brasil. Isso é ridículo!!! Os critérios para determinar que está empregado quem é está empregado é tão desonesto quanto o próprio governo. Ex.: se tu vende pulseirinha na esquina e tem uma rendinha, mesmo que sem formalidade nenhuma, pro governo tu não é desempregada. é por isso que os níveis de desemprego estão lá embaixo. Isso é ridículo!!!
        Forte ligação com países comunistas autoritários ( Cuba, China, Rússia, Venezuela),isso é péssimo pro Brasil. Fora o próprio foro de São Paulo, aliança com grupos terrorista…o PT é uma aula de sujeira e corrupção.

        • Ellen

          Os mensaleiros foram condenados pelo STF e você diz que ele é comprado pelo PT? Se o Supremo não é autônomo como você supõe é porque foi comprado pelo PSDB- vide o mensalão mineiro que está quase engavetado.

          E viva a China comunista, segundo potência mundial e cresce 10% ao ano!

          • Hsaad

            Muda pra China,demorou!

  • Zenaldo e Cidoca

    DILMA E LULA REVOLUCIONOU O BRASIL E SÓ DE TER DEIXADO TODOS OS BRASILEIROS EM UMA CLASSE IGUALITÁRIO ISSO JÁ É O SUFICIENTE E SOBRE CORRUPÇÃO SEMPRE EXISTIU E VAI EXISTIR! O DIFERENCIAL DE DILMA E LULA É PORQUE FEZ E VAI FAZER POR TODOS OS BRASILEIROS SEM DISTINÇÃO!

  • Luana

    Vou citar um grande exemplo que eu pesquisei no facebook de porque votar na Dilma:

    Vejo tantos “gente” reclamando do Bolsa Família, da Bolsa de Estudos, do Programa Minha Casa Minha Vida, do governo do PT… Aí tu vai no perfil deles e um trabalha na Câmara, outro é Sócio Proprietário de tal empresa… Claro, esses tem muito direito de achar ruim tais programas, pois não os beneficiam. Mas agora POBRE, que foi beneficiado por algum programa do governo, reclamando?! Não, isso já é demais pra mim!
    Não digo que o governo tem falhas, todos tem. Todos governos tem lavagem de dinheiro, corrupção, desonestidade… Mas não há como negar, o Brasil esta mudando, e MUITO! Quando que eu iria me imaginar com 21 anos, cursando uma faculdade, tendo minha casa, tendo uma moto? Nem nos meus melhores sonhos! Te garanto. E não tenho tudo isso porque o Governo bateu na minha porta e me ofereceu. Eu corri atrás, batalhei, conquistei. O governo tem tantos projetos, a maioria desconhecido pela população, que se quer se interessa em saber.
    – Autor desconhecido