O Partido Novo e os perigos do coronelismo

O partido pode ser a “tábua de salvação” para muitos, e é justamente aí que reside o problema.


Partido Novo na fase de coleta de assinaturas, 2013

Partido Novo na fase de coleta de assinaturas, 2013

A oficialização do Partido Novo é, sem dúvida, um marco histórico, ao menos a nível simbólico, na história política brasileira. Pela primeira vez, surge no país um partido abertamente liberal, com um programa inovador e realmente engajado na redução do Estado e em favorecer a livre iniciativa, a liberdade econômica e a liberdade individual.

Os precedentes históricos de partidos próximos ao liberalismo são escassos e pouco lisonjeiros no Brasil. Podemos citar o Partido Liberal, do Império e, mais recentemente, no período pós-redemocratização, o extinto PL (que se fundiu com o PRONA e se transformou no PR), o nanico PSL e o antigo PFL, atual DEM, o mais expressivo politicamente no Brasil nos últimos tempos.

A história do PFL é confusa e cheia de idas e voltas. O partido surgiu a partir de uma dissidência do PDS, “herdeiro” da ARENA, e foi inflado por coronéis do calibre de José Sarney e ACM. Sem dúvida, porém, o partido teve uma grande importância no governo FHC, indicando o vice-presidente Marco Maciel e sendo a principal base de apoio do governo. Após 2002, no entanto, o partido foi perdendo sua expressividade, mudando de nome, passando por outra dissidência, que deu origem ao PSD e se envolvendo em escândalos de corrupção, através de Arruda e Demóstenes.

Apesar de menor do que já foi, o DEM parece ter se fortalecido um pouco, ideologicamente, após a debandada de Kassab e seus aliados, e faz um importante papel na oposição atualmente, principalmente através do senador Ronaldo Caiado. O que contribui negativamente para a fama do partido é ser um “herdeiro” da ARENA, carregando a pecha da ditadura e o fato de ser comandado por coronéis locais.

O Novo, por sua vez, aparece como a grande referência partidária para os liberais, cansados de serem sub-representados politicamente no país e da oposição hesitante feita pelo PSDB. Dessa forma, o partido pode ser a “tábua de salvação” para muitos, e é justamente aí que reside o problema.

Diante da atual situação política e econômica e do descontentamento crescente com o PT, ao mesmo tempo em que os partidos de oposição adotam posturas pouco aprováveis por grande parte da população que se opõe ao governo, o Novo surge para preencher um vácuo político que, no entanto, pode atrair para o partido pessoas pouco ou nada identificadas com as ideias liberais.

Neste momento, a euforia pela oficialização do Novo e a proximidade do esgotamento do prazo para filiações a fim de concorrer às eleições municipais do ano que vem pode ser uma armadilha. O partido não deixa claro qual será o critério para aceitar filiados ou para aceitar candidatos. Muita gente se identifica com ideias liberais genéricas, como redução de impostos, redução da burocracia, liberdade econômica e liberdade individual, mas sem um conhecimento teórico mais aprofundado sobre o assunto.

Além disso, o Novo demonstra que não pretende ser um PSTU ou um PSOL às avessas, ou seja, um partido ideológico e com pouca ou nenhuma expressão eleitoral. Desse modo, o jogo eleitoral pode fazer com que o partido faça perigosas concessões, permitindo a candidatura e o comando do partido, principalmente a nível local, por parte de pessoas pouco ou nada compromissadas com as ideias da liberdade.

Resta saber se o partido vai conseguir, na prática, se manter fiel às suas ideias ou se vai cair na euforia do seu próprio surgimento e permitir ser representado por pessoas que pouco conhecem sobre sua história e sobre as ideias liberais. Num país como o Brasil, em que a política, principalmente no âmbito local, costuma ser conduzida por pessoas inaptas politicamente e guiadas por um pragmatismo perverso, não é difícil que o partido seja descaracterizado.

Cabe ao Novo zelar pela manutenção das suas ideias e criar mecanismos que evitem oportunistas, políticos profissionais e coronéis locais, caso contrário rapidamente será mais uma parte da velha política.

Amálgama




Caio Vioto

Mestrando em História pela Universidade Estadual Paulista.


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MAIS RECENTES


  • GabrielTL

    Achei que o que contribuia negativamente à fama do DEM e do Caiado era que o Senador mantêm trabalhadores sob regime análogo à escravidão em suas fazendas.

    • Claudio Malagrino

      Você tem provas disso? Ou é só pitaco?

      • GabrielTL

        O MTE encontrou carvoeiros trabalhando em regime de escravidão na fazenda da família do Caiado: http://reporterbrasil.org.br/2014/07/tio-de-ruralista-entra-na-lista-suja-do-trabalho-escravo/

        Além disso, ele recebeu doação de empresas que estão na lista suja do trabalho escravo do Ministério do Trabalho: http://www.cartacapital.com.br/politica/empresas-com-trabalho-escravo-financiaram-61-candidatos-820.html

      • GabrielTL

        Respondi com os links. Se não aparecer é porque o moderador não aceita comment com link (alguns são assim)

    • Dura_Realidade

      Assim como alguns dos “nobres” ministros empossados por Lula e Dilma, escravagistas segundo o MP… Edson Lobão foi 2x “ministro de minas e energia”. Mas isso é apenas o “normal” na regra do toma lá… E só, não tem contrapartida alguma certo?

  • Claudio Malagrino

    O processo de criação do Partido Novo foi “bottom-up”, trata-se de uma parcela da sociedade composta por pequenos empresários e profissionais liberais em busca de representatividade política. Exatamente o oposto que ocorreu com o PSDB, um partido de caciques que foi em busca de um eleitorado e que sofre crises de identidade até hoje.