O partido pode ser a “tábua de salvação” para muitos, e é justamente aí que reside o problema.
A oficialização do Partido Novo é, sem dúvida, um marco histórico, ao menos a nível simbólico, na história política brasileira. Pela primeira vez, surge no país um partido abertamente liberal, com um programa inovador e realmente engajado na redução do Estado e em favorecer a livre iniciativa, a liberdade econômica e a liberdade individual.
Os precedentes históricos de partidos próximos ao liberalismo são escassos e pouco lisonjeiros no Brasil. Podemos citar o Partido Liberal, do Império e, mais recentemente, no período pós-redemocratização, o extinto PL (que se fundiu com o PRONA e se transformou no PR), o nanico PSL e o antigo PFL, atual DEM, o mais expressivo politicamente no Brasil nos últimos tempos.
A história do PFL é confusa e cheia de idas e voltas. O partido surgiu a partir de uma dissidência do PDS, “herdeiro” da ARENA, e foi inflado por coronéis do calibre de José Sarney e ACM. Sem dúvida, porém, o partido teve uma grande importância no governo FHC, indicando o vice-presidente Marco Maciel e sendo a principal base de apoio do governo. Após 2002, no entanto, o partido foi perdendo sua expressividade, mudando de nome, passando por outra dissidência, que deu origem ao PSD e se envolvendo em escândalos de corrupção, através de Arruda e Demóstenes.
Apesar de menor do que já foi, o DEM parece ter se fortalecido um pouco, ideologicamente, após a debandada de Kassab e seus aliados, e faz um importante papel na oposição atualmente, principalmente através do senador Ronaldo Caiado. O que contribui negativamente para a fama do partido é ser um “herdeiro” da ARENA, carregando a pecha da ditadura e o fato de ser comandado por coronéis locais.
O Novo, por sua vez, aparece como a grande referência partidária para os liberais, cansados de serem sub-representados politicamente no país e da oposição hesitante feita pelo PSDB. Dessa forma, o partido pode ser a “tábua de salvação” para muitos, e é justamente aí que reside o problema.
Diante da atual situação política e econômica e do descontentamento crescente com o PT, ao mesmo tempo em que os partidos de oposição adotam posturas pouco aprováveis por grande parte da população que se opõe ao governo, o Novo surge para preencher um vácuo político que, no entanto, pode atrair para o partido pessoas pouco ou nada identificadas com as ideias liberais.
Neste momento, a euforia pela oficialização do Novo e a proximidade do esgotamento do prazo para filiações a fim de concorrer às eleições municipais do ano que vem pode ser uma armadilha. O partido não deixa claro qual será o critério para aceitar filiados ou para aceitar candidatos. Muita gente se identifica com ideias liberais genéricas, como redução de impostos, redução da burocracia, liberdade econômica e liberdade individual, mas sem um conhecimento teórico mais aprofundado sobre o assunto.
Além disso, o Novo demonstra que não pretende ser um PSTU ou um PSOL às avessas, ou seja, um partido ideológico e com pouca ou nenhuma expressão eleitoral. Desse modo, o jogo eleitoral pode fazer com que o partido faça perigosas concessões, permitindo a candidatura e o comando do partido, principalmente a nível local, por parte de pessoas pouco ou nada compromissadas com as ideias da liberdade.
Resta saber se o partido vai conseguir, na prática, se manter fiel às suas ideias ou se vai cair na euforia do seu próprio surgimento e permitir ser representado por pessoas que pouco conhecem sobre sua história e sobre as ideias liberais. Num país como o Brasil, em que a política, principalmente no âmbito local, costuma ser conduzida por pessoas inaptas politicamente e guiadas por um pragmatismo perverso, não é difícil que o partido seja descaracterizado.
Cabe ao Novo zelar pela manutenção das suas ideias e criar mecanismos que evitem oportunistas, políticos profissionais e coronéis locais, caso contrário rapidamente será mais uma parte da velha política.
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GabrielTL
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Claudio Malagrino
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Claudio Malagrino