Livro de Flavio Morgenstern expõe a realidade de movimentos "horizontais" e "sem líderes" como o Passe Livre e o Fora do Eixo.
1.
Dentre os bons lançamentos da editora Record, Por trás da máscara é mais um livro estimado pelo público que o consome: pessoas interessadas em sair das cartilhas “anti-capitalista”. A obra detalha os acontecimentos das famosas “jornadas de junho” de 2013. O autor refere-se ao “ano que não acabou”, e expõe com precisão vários estratagemas de movimentos como Passe Livre (MPL) e Fora do Eixo (FdE), que se auto intitulam “horizontais”, “coletivos”, entre outros adjetivos que permeiam seu linguajar de ressentimento.
Com uma significativa porção de ironia, cada uma das seis partes do livro trata de um assunto detalhadamente. No começo, Morgenstern disserta sobre o Ocuppy Wall Street – uma série de eventos (de teor “contra o capital”) que ocorreu em Nova York e que inspirou as redes de protestos no Brasil desde 2011. As estratégias usadas para aglomerar e positivar esse tipo de evento são descritas no livro e, quanto mais entramos no âmago da leitura, mais notamos os sutis mecanismos de manipulação das massas. O autor traça um paralelo entre o Occupy e as manifestações nacionais de junho de 2013 – estratégias parecidas e uma massa ignorante o bastante para cair em toda sorte de engodo do jogo político.
Não sendo apenas informativo, mas também didático, Por trás da máscara explica como a infantilidade dos adeptos desses movimentos produz rupturas na sociedade. Através do conceito de infowar (guerra de narrativas), esses movimentos mancomunados com partidos de extrema-esquerda inspiram-se em regimes totalitários, mistificando as massas (que só conhecem na imaginação) para utilizá-las como alavanca de seus desejos. Não tendo um objetivo claro em suas pautas e reivindicações, elas podem dirigir suas narrativas a qualquer sentimento de insatisfação. Soa familiar? É exatamente o que os protestos de junho de 2013 significaram. Os 20 centavos eram apenas pano de fundo para outras questões.
O primeiro engodo do Ocuppy Wall Street começa em sua forma: não eram organizações espontâneas, pelo contrário, eram muito bem orquestradas por líderes (community organizers) e “gurus” revolucionários como Saul Alinsky, que escreve livros com métodos de badernas para propósitos bem claros como aumentar o poder do estado (além de aumentar os bolsos dos anti-capital, claro), utilizando-se de baboseiras próximas da mentalidade cool-left que permeia o imaginário de tantos desinteressados pela verdade e pelos fatos (quanto mais perto do nariz, menos parecem enxergar). São os justiceiros sociais que encarnam Robin Hood e possuem como herói todo aquele que pensa por imagens e slogans e, em nome de abstrações como “a sociedade” e “a desigualdade”, têm livre acesso a todo tipo de furo na lei. Claro, para o “bem”. É o sentimentalismo das ideologias e exaltação do estado “protetor”.
Além de Salinsky, outro teórico faz as vezes de guru revolucionário dos jovens entediados: Slavoj Zizek, que é reconhecido por flertes com regimes totalitários e por sua defesa da violência revolucionária. Slavoj disse sobre o Führer: “Hitler tinha um problema: o de não ter sido suficientemente violento”. Zizek só não exalta o nazismo por achar que o Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei “não ousou perturbar a estrutura básica do espaço social capitalista moderno”. Esse mesmo sujeito é bem recebido para entrevistas em revistas moderninhas como Cult, além de servir de bússola para “apaixonados pela causa” como o brasileiro Emir Sader, que vive tuitando sobre as maravilhas econômicas do governo petista das minorias e dos trabalhadores.
2.
Dando início à explicação das redes “desorganizadas” (muito bem organizadas) de movimentos como o MPL, o livro descreve as artimanhas e estratagemas para angariar apreciadores utilizando termos como “justiça social” e “minorias”. Morgenstern traz informações que exemplificam como esses movimentos conseguem fazer com que a polícia seja tida como fascista e violenta. Ainda que erre em suas manobras e cometa inúmeras falhas táticas (incluindo, sim, alguns abusos), os policiais passam de “agentes da lei” para “seres desprezíveis sem qualquer traço de humanidade” em questão de cliques fotográficos, como a imagem do policial mau que agride o manifestante bonzinho. Morgenstern, na verdade, mostra que a violência não é ocasionada pela polícia, mas por uma organização que calcula suas ações para vender imagens para a mídia e viralizá-las nas redes sociais, causando uma onda de paixões e comoções vazias.
A tarifa de ônibus, tão dissecada pela grande mídia, passava longe das finalidades e objetivos reais dos movimentos de junho de 2013. Veja o que diz Raquel Alves, estudante de Letras na USP e ativista do MPL, em entrevista à revista Época (p. 168): “Infelizmente, o vandalismo e a violência são necessários, para que apareça na mídia. Se saíssemos em avenidas gritando musiquinha, ninguém prestaria atenção.”
Os que vendem um mundo ideal, com o almoço grátis da tarifa zero de ônibus, são adeptos da “violência pela paz”, partindo sempre do aumento da intervenção estatal, sem saber exatamente o que isso significa para o povo que eles tanto dizem amar, mas que não passa de uma projeção: é o pobre glamourizado pela esquerda fetichista brasileira que adota atores e comediantes cariocas como sociólogos e economistas. Mal sabem que o pobre é que mais sofre com suas reivindicações mimadas e com seus mecanismos de ampliação do estado. Mussolini já sabia disso: “Tudo no estado, nada contra o estado, e nada fora do estado”. É a minoria da população classe média e rica que fala em nome do pobre e chama mais da metade da população brasileira de fascista.
Citando José Ortega y Gasset, Morgenstern explicita o homem-massa e traça um paralelo com suas observações sobre as manifestações de junho de 2013. O homem-massa é aquele que passa pela experiência da vida como um ser deslocado, que só sente-se pleno em meio a uma massa que o limite da difícil tarefa de pensar, de ser. É o homem que não contribui, mas reivindica seus “direitos”, mesmo sem saber o que é exatamente um direito. É quase uma descrição precisa dos frequentadores das universidades brasileiras. Homens que funcionam no automático e gostam de ir with the flow, repetindo palavras de ordem e mantras que seus gurus revolucionários por um “mundo melhor” ditam.
A natureza do homem-massa está no cerne dos regimes autoritários. E como relata Morgenstern, “o homem-massa nem sempre é um homem de pouco conhecimento”. Eis as nossas federais. Mesmo que o homem-massa esteja sempre disposto a entrar no automatismo da massa, Flavio sublinha que o perigo está mais na abstração e ausência de objetivos pontuais da massa do que em sua composição particular. As manifestações que ocorrem agora (2015) parecem ter objetivos mais nítidos. Só a “mídia golpista” não vê – e talvez os 7% que odeiam a mídia golpista. É de pouca inteligência ou extrema falta de sensatez não perceber que o inimigo, na verdade, é o amigo progressista midiático que nem sequer cita os nomes de partidos estampados nas bandeiras (geralmente vermelhas ou vermelhas e amarelas) das manifestações de junho de 2013 (PSOL, PSTU e tutti quanti). Afirma o autor:
O totalitarismo não surge de um golpe de Estado, como se temeu tanto: surge de um pensamento único, planificado, de massas marchando por abstrações, diluindo em um corpo coletivo o que cada ser humano tem de individual. De camisas pretas até máscaras V de vingança sob o coletivo “Anonymous”, destruição da individualidade e a crença de pertencer a uma legião é a origem da tirania absoluta. O totalitarismo, sendo total, não é força estatal: é a totalidade da sociedade se imiscuindo com o poder, apenas enumerando seu líder. Se a massa inteira pensa uniformemente, […] não é preciso ter um parlamento para discutir e diferenciar seus múltiplos propósitos – basta um único líder, que represente a massa inteira. Stalin, Mao, Hitler, Pol-Pot, Mussolini, Khomeini – nenhum desses precisou necessariamente de um golpe: todos tiraram as forças do poder pelas rebeliões massificadas e, representando a turba, subiram ao poder de forma mais ou menos pacífica.
3.
Quando surge o black bloc cometendo atos que transgridem a lei, o autor escreve que “o serviço secreto da Polícia Militar diz que PSOL ‘recruta’ punks para protestos.” Segundo o jornal Folha de São Paulo, black bloc até então seria um grupo, mas Morgenstern afirma que o termo não tem correspondência com um grupo: “ninguém se filia ao black bloc. Black bloc é uma tática. O manifestante pacífico de um protesto de um dia é o mesmíssimo galalau que veste roupa preta e cobre o rosto no dia seguinte, depois de perceber que provocar confronto com a polícia é a melhor decisão tática naquele momento, podendo ainda, como Malcom Harris (outro guru líder estatólatra) já deixara claro no Occupy, destruir os frutos do trabalho alheio por puro hedonismo revolucionário”.
E esse é um artifício bem esmiuçado no livro: o da criação de confrontos com a polícia. O black blocker (aquele que faz uso da tática black bloc) é então mais um gato no balaio que usa de artimanhas para fazer com que as forças policiais tenham fama de “más” e “fascistas”, enquanto os manifestantes podem sair com a reputação ilesa de boas ovelhinhas que quebram tudo porque estão sendo insultados e oprimidos pela força policial em um protesto “pacífico com uma minoria de vândalos”. Segundo o autor, o MPL e a tática black bloc servem para criar essa imagem fascistóide policial e transmitir isso à população, que precisa estar praticamente anestesiada entre os pouco espaçados períodos de agitação (quanto mais curto o período entre uma agitação e outra, melhor – não há tempo para parar e pensar com sensatez sobre a obviedade de um bando de imbecis histéricos vestidos de preto destruindo e defecando sobre o patrimônio público e empresas que “representam o capitalismo”, como o Mcdonalds).
Ao longo do livro ainda podemos observar inúmeros relatos (com suas respectivas fontes nas notas no final do livro, para os céticos) de como se dá a relação entre os movimentos Fora do Eixo e MPL (entre outros braços de partidos esquerdistas paridos dentro de universidades) com políticos e partidos. É uma mistura de desonestidade e sordidez, que engana a população e traz o jogo político para um plano de “coletivos”, onde arruaceiros mandam e desmandam batendo o pé, impondo sua vontade e argumentando em seu favor usando a defesa da “democracia” e do “diálogo”, mas negando diálogo com políticos quando são chamados, pois querem ganhar tempo e aumentar o falatório em torno de suas causas “nobres”.
O Movimento Fora do Eixo é mais um braço dessa maçaroca coletivista “horizontal sem líderes” que dita os rumos que o país precisa tomar. Usando como pano de fundo a lorota “movimento cultural” para promoção de bandas de música, atividades teatrais e outras espécies de espetáculos, o Movimento não passa de um conjunto de desonestos que tomam os contorno de nossa política (além de torrar uma boa quantidade de dinheiro público em suas agendas) e tutelam pessoas ludibriadas com essas quimeras tolas que surgiram no século XX: paz, amor, drogas e um pouco de sacanagem – defendendo a tirania da liberdade absoluta. Atuam no cenário “alternativo” e possuem até a própria moeda: o Cubo Card. O artista usa a moeda para a compra de produtos dentro do próprio movimento e pode guardar seus créditos para outras ocasiões, todas dentro do pequeno mundo Fora do Eixo. Apesar de ser um movimento “horizontal sem líderes”, dois nomes se destacam no furdunço: Pablo Capilé e Bruno Torturra.
No FdE tudo parece muito bom e com intuitos altruístas. É o pessoal do “preconceito? Jamé”. Entretanto, a cineasta Beatriz Seigner denuncia que nem tudo são flores. Nas proximidades do fim de Por trás da máscara, um depoimento de Beatriz expõe exatamente o que é o Fora do Eixo. Os detalhes do show de horrores do movimento “igualitário” podem ser lidos no livro de Morgenstern. Uma prévia: dentro das comunidades alternativas FdE, mulheres se submetem para ser o brinquedo sexual dos homens mais destacados do movimento, além de, no depoimento, Beatriz afirmar que o Fora do Eixo usou seu nome para receber do SESC sem consultá-la.
A maré de negativas continua nas páginas seguintes, recheadas com informações sobre como o FdE consegue captar homens e mulheres (com um lack de personalidade) para sua “causa”: é o rebanho de Pablo Capilé. Mais: É quase uma obrigação curtir e compartilhar mensagens de Capilé; obedecer às regras de confinamento; não falar com estranhos (a não ser com os estranhos permitidos e até incentivados pelos líderes do movimento sem líder); deixar que sua vida amorosa seja patrulhada; catar e cooptar, que não vou explicar o que é. Deixo isso para quem quiser ler o livro que detalha a enxurrada de absurdidades cometidas por esses movimentos que sempre surgem da mente iluminada de alguém ou de um grupo. O que está por trás das máscaras dos protestos de junho de 2013? Grupos de pacíficas ovelhas compostas por “pessoas da paz”, que falam em nome das “minorias”? Morgenstern faz questão de desmascará-los.
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Catatau