O lulopetismo teria tirado mais vantagem da derrota eleitoral em 2014 que de sua vitória a qualquer custo

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A perda do grau de investimento pelo Brasil, quando a Standard & Poors reduziu o rating do país, colocou a pá de cal no cenário paradisíaco que o lulopetismo construiu para si desde o período eleitoral. Um a um, os argumentos que o sustentavam caíram: o desemprego sobe, os projetos sociais perdem recursos, e a expansão fiscal não gerou crescimento.

Do nosso ponto de vista – o do cidadão comum – nem mesmo o mais pessimista da oposição previa há um ano atrás uma crise tão forte. Sabíamos que 2015 seria um ano de ajuste, que a situação fiscal estava crítica, mas as experiências de 2003 e 2008 nos levavam a crer que a dor seria curta, mesmo em um governo de continuidade.

Onde tudo deu errado desta vez? Em 2003 e 2008 o governo contava com um capital que se tornou escasso desta vez: a confiança. Em 2003 foi a Carta aos Brasileiros e o compromisso com a austeridade desde o começo que tranquilizou sociedade e mercado. Em 2008 a ação eficiente do Banco Central, respaldada pra valer pelo presidente da República, reverteu o cenário de crise. Foi Meirelles, adequando o crédito e atacando o câmbio, quem debelou os efeitos da crise global, não o expansionismo fiscal de Mantega.

Desta vez a confiança foi dilapidada no processo eleitoral. Dilma fez com as tarifas e os gastos públicos o que FHC fez com o câmbio em 1998: segurou artificialmente para soltar após as eleições. Contudo, a habilidade política do presidente e o respaldo a Armínio Fraga superaram a sensação de traição, e FHC terminou o mandato. Dilma não: cercou-se de idiotas, explodiu as pontes com o Congresso, e não deu a Levy o respaldo necessário para fazer o que era preciso. Respaldo esse que Armínio Fraga, Palocci e Meirelles tiveram nas crises anteriores. Hoje é a falta de confiança que alimenta a crise. Tanto que é possível acreditar que no dia seguinte a um afastamento de Dilma o dólar cairá, a bolsa subirá e os investidores voltarão a apostar no país.

Especialmente, o lulopetismo foi alvejado pelo seu baixo compromisso com a democracia. Era melhor correr o risco de perder a eleição em 2014, mas evitar as pedaladas fiscais e o congelamento de tarifas que geraram a crise fiscal em que estamos metidos. Talvez até o PT perdesse a eleição, mas o país não estaria nessa crise. Não, a vontade de permanecer no poder falou mais alto. Mesmo com a Lava Jato batendo às portas da classe política.

Para o amadurecimento da nossa democracia, chegou a hora da nossa classe política substituir projetos de poder por um verdadeiro compromisso com o pluralismo e a alternância no governo. Abandonar a política do tudo ou nada. Do nós contra eles. E especialmente saber a hora de parar e apear do poder.

Afinal, foi a escolha por um projeto de poder que levou o lulopetismo a construir uma relação fisiológica com o Congresso. E que deu a Eduardo Cunha o poder que tem hoje. Poder esse que se volta contra seus criadores. Ao recusar-se a deixar o poder democraticamente por meio de uma atitude eleitoral honesta, agora o PT agoniza, perde prefeitos e senadores, e está perto de perder o poder institucionalmente por meio de um impeachment.

Paulo Roberto Silva

Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.

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