A história do PT é cheia de boicotes irresponsáveis, mas desta vez o país sairia ganhando.
“O que estamos denunciando é que o impedimento de Lula seria uma fraude nas eleições”, disse esta semana a atual presidente do Partido dos Trabalhadores, nossa distintíssima Gleisi Hoffmann, sobre como a legenda enxerga as chances de o ex-presidente não ser elegível em caso de condenação em segunda instância. Tais invectivas contra as regras constitucionais e as leis, já ingredientes normais no desespero do PT desde pelo menos o impeachment de Dilma, nada teriam de inédito, não fosse a possibilidade que nos surpreendeu desta vez: o PT cogita boicotar a disputa de 2018.
“É uma coisa que não está sendo oficialmente discutida ainda, mas vai caminhar para isso se ele for impedido de ser candidato”, sustenta a mesma Gleisi. Diz ainda o deputado estadual paulista José Américo: “Existem duas hipóteses claras. A primeira é de forçar a candidatura, apelando ao Supremo Tribunal Federal para suspender a decisão da condenação. A segunda hipótese é de boicotar as eleições, sob a justificativa de que não querem deixar o povo decidir. E aí vai ser uma convulsão social, um risco de guerra civil no país”.
Vamos ver se ficou claro: os petistas antes afirmavam que o Brasil, com a queda de Dilma, diante da ampla pressão popular e do alcance do número exigido pela Constituição entre os parlamentares para o andamento do processo, havia mergulhado em um regime de exceção, mediante um golpe de Estado. Estaríamos em plena ditadura via golpe parlamentar, um “autoritarismo neoliberal que nos furtaria os nossos direitos”. Não obstante, não se viu um só parlamentar petista renunciar ao cargo e partir logo de uma vez à conclamação para a luta armada ou a derrubada revolucionária do regime. Ao contrário, já se viu o ex-presidente Lula até falar em viabilidade de diálogo com o presidente Michel Temer.
Agora, cientes de que os ventos já não sopram a seu favor, de que já não repousam tranquilamente sobre a popularidade monumental de seu líder decaído, os petistas apelam ao desespero de tratar as eleições como um outro golpe, subtraindo da disputa alguém que, de acordo com seus grandes especialistas em Direito, está para ser injustamente (sic) sentenciado pela Justiça. Em sua surreal fanfarronice, encaram o “boicote” como uma ameaça – como se nós, os antipetistas, isto é, todos aqueles que têm algum senso de proporções e alguma razoabilidade na apreensão do cenário neste país, fôssemos entrar em profundo desespero com a ausência do seu partido nas eleições. Insinuam, aliás, irresponsáveis que sempre foram, uma baderna ameaçadora nas ruas – cujas proporções, desde que a fonte do imposto sindical efetivamente seque, têm tudo para ser mínimas.
Já que são esses os termos, repassemos alguns fatos curiosos. Primeiro: chega a ser cômico que certos setores da esquerda, horrorizados com a mobilização contrária à exposição do banco Santander – polêmica que seria inútil aqui repisar – não estejam tão horrorizados com a ideia de boicotar as eleições. Se o boicote a uma exibição artística equivale, a seus olhos, a censura e atentado à livre expressão, boicotar o processo eleitoral equivaleria, quem sabe, a censurar a expressão da vontade dos eleitores? Quem é o fascista, ao final das contas, a julgar por tal brilhante raciocínio?
Segundo: o PT não está inovando. Boicotar é algo que sempre fizeram – metafórica ou concretamente. Lá atrás, é sabido, os petistas boicotaram a Constituição de 1988, pouco socialista para o gosto deles. Boicotaram também o Plano Real, aquele mesmo que contribuiu para trazer a estas terras um mínimo de razoabilidade econômica. Boicotaram a conciliação que viabilizaria o governo Itamar Franco, assim como boicotaram ferrenhamente todos os governos que não fossem os seus.
O PT também boicotou a responsabilidade fiscal ao comprometer o mandato de sua presidente por manobras fraudulentas com o Tesouro, eufemisticamente apelidadas de “pedaladas”. O PT boicotou a pluralidade política, quando Lula celebrou a inexistência de candidatos de direita em uma eleição. O PT boicotou a liberdade dos latino-americanos ao patrocinar regimes truculentos e autoritários do eixo bolivariano. O PT boicotou o drama dos venezuelanos, cuja oposição por diversas vezes enviou representantes ao Brasil para serem sumariamente ignorados pelo governo brasileiro, que nos deixava a assistir quietos ao martírio da população nas ruas e dos presos políticos no cárcere. O PT boicotou os avisos de todos os economistas que advertiram para a bizarrice da “Nova Matriz Econômica” de Guido Mantega e Dilma Rousseff. Ao fim das contas, o PT boicotou a década brasileira, condenando o país ao atraso, à recessão e à desonra.
Considerando que não há nenhuma absoluta novidade em um boicote petista, portanto, e que a ausência dessa legenda vergonhosa não poderia ser mais coerente com a trajetória de desserviços e agressões aviltantes que tal instituição estabeleceu no Brasil, queremos manifestar nosso efusivo apoio à proposta suicida do PT de abdicar de tomar parte nas eleições.
Esta será uma rara atitude generosa de reconhecimento da própria decadência de prestígio e o desnudar da sua inerente covardia; generosa, naturalmente, para com os brasileiros, que não serão obrigados a tolerar suas falsas lamúrias nos embates eleitorais. Se não há nenhum abaixo-assinado circulando por aí, queremos dar início: “PT, boicote as eleições de 2018!”. Apoie essa campanha você também!
Lucas Berlanza
Jornalista, colunista do Instituto Liberal e editor da Sentinela Lacerdista. Autor do Guia bibliográfico da Nova Direita.