Sua opinião sobre a exposição em Porto Alegre ou o Santander não me interessam.

Diz uma lenda nórdica que o grande deus Odin, séculos atrás, desceu a Reykjavík para responder as grandes dúvidas dos humanos. Tudo ia bem até que alguém perguntou:

– Grande deus Odin, qual é o sinal de que chegou o fim do mundo, o Ragnarok?
– Quando inventarem a internet.

Apropriação cultural. Assédio. Estupro. Exposição de Arte polêmica em Trás os Montes. Furacão Irma. Anitta. Turbante. Uber. Sua avó. Esse tem sido o maior desperdício de energia mental dos últimos tempos. Sério que você tem algo relevante a dizer sobre isso? No máximo você pode falar sobre a avó, e olhe lá.

Durante muito tempo a maioria das pessoas não tinha voz nem vez. Achávamos isso autoritário. Aí veio a internet, e a gente passou a sentir saudades de quando as pessoas não tinham voz nem vez.

Não que as pessoas não achassem que tinham algo a dizer. É que, para a saúde mental do mundo, ninguém prestava atenção. Balzac, em As Ilusões Perdidas, fala do cemitério de obras que ninguém nunca leu. O que o autor francês denunciava como injusto, vemos que era salutar. Tornar-se relevante demandava muito esforço, anos de tentativa e espera. O resultado eram clássicos.

Agora qualquer imbecil acha que tem lugar de fala, e quer fazer sua opinião primária prevalecer apesar de sua fragilidade. Qualquer Zé Ruela acha que tem algo relevante a dizer. Não! Não me importa o que você acha do Santander, ou da exposição queer, ou da foto que acabei de fazer nu no banheiro. Quer que eu te ache relevante? Torne-se relevante. Estude. Pesquise. Reflita. Traga uma visão realmente nova sobre algo que você realmente entende.

A propósito, dizem que Elon Musk está desenvolvendo um GPS que localiza o seu lugar de fala. Mas você não sabe quem é Elon Musk. Nem quer saber.

Paulo Roberto Silva

Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.

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