Filosofia

A Revolta do Subsolo (I): o conceito

por Elton Flaubert (30/09/2018)

As elites ocidentais são sacerdotisas de uma nova religião – a religião do humanismo. Por isto, são essencialmente anticristãs.

Em Macbeth, há um diálogo primoroso sobre o perigo e as responsabilidades do exercício do poder. Os filhos do Rei Duncan, Malcom e Macduff, conversam sobre as virtudes de um Rei e a sua influência na bonança e na tragédia de um povo. Ao final, depois de se inculpar, Malcom descobre que as virtudes residem na constante vigilância, na autoconsciência de si diante das suas responsabilidades.

Quando as elites fracassam, a sociedade inteira “range os dentes”. Compostas de vários elementos (religiosos, políticos, econômicos, midiáticos etc.), as elites são uma minoria numa posição de hierarquia e de dominância por tradição, ou conhecimento, ou técnica, e por aí vai. Elas são responsáveis pela reprodução e pela estabilidade dessa sociedade. As elites traem a sua responsabilidade quando desejam escapar da autoconsciência, ou seja, daquele procedimento usado por Malcom para refletir, ver suas limitações, e compreender que o seu papel não é de um super-herói que tutela e manda, mas de um sujeito que precisa cumprir uma missão que coloca em risco a sua própria alma.

Ao agirem como agente de transformação do resto da sociedade, as elites estilhaçam a sua responsabilidade e a confiança que lhes depositaram. A partir daí, vem a descrença na elite política, a falta de credibilidade do empresariado, o fenecimento da fé pública de que todo jornalista necessita, etc. As elites vão cavando a sua própria cova quando pensam em si mesmas como “parteiras” de um futuro brilhante, diferente do vivido pelas pessoas comuns. As elites tencionam desde cima e criam: a) no primeiro momento, desconfiança; b) no segundo momento, sentimento de estar sendo oprimido; c) no terceiro momento, raiva; d) no quarto momento, a cristalização da revolta, o que leva ao ato político do “basta!”.

Em 1994, o historiador americano Christopher Lasch escreveu o livro A rebelião das elites e a traição da democracia”. Lasch já via no problema das elites afastadas de suas responsabilidades e distantes das pessoas ordinárias, o grande fomento de ameaça à democracia. Ele começa o segundo capítulo fazendo um comparativo com a tese de Ortega y Gasset sobre a rebelião das massas. Para Lasch, a crise da cultura ocidental não estava mais na ascensão das massas, mas nas elites que perderam a fé nestes valores: “For many people the very term ‘Western civilization’ now calls to mind an organized system of domination designed to enforce conformity to bourgeois values and to keep the victims of patriarchal oppression—women, children, homosexuals, people of color—in a permanent state of subjection”.

As elites ocidentais estão convencidas de que a estabilidade, a vigilância de si, a autoconsciência, a desconfiança do uso do seu próprio poder, não são mais virtudes. Para mim, este é o ponto central da revolta das elites. A virtude cívica se torna a transformação da sociedade em direção ao mundo perfeito, imaginado com novos valores e excomungando todo o passado e a sua noção de experiência, instrumentalizando esse grande “futuro em aberto” que as democracias induzem. Grande parte das elites não representam mais o espírito que funda uma comunidade, a existência da vida coletiva, mas são – ao contrário – os grandes inimigos desse espírito e dos seus valores. Elas se viram contra as pessoas ordinárias, e dizem a elas: queremos transformar a maneira como você vive, pensa, e ama. As elites se alienaram da sua própria responsabilidade de fundação.

Para compreender isto, precisamos puxar os fios lá atrás. A modernidade política foi construída numa tensão entre os conceitos e o imaginário cristão e a sua substituição por um secularismo que aparece como uma nova religião imanente a este mundo. No mundo cristão, a liberdade é uma concessão divina, o livre-arbítrio com que praticamos ou não a liberdade interior. Através da influência de Aristóteles na escolástica, a liberdade irá aparecer também como integrante de uma teologia natural que engloba a ideia de lei natural e, logo depois, será desenvolvida como um direito natural de cada indivíduo nas relações que regem a vida dentro de uma comunidade.

Leo Strauss, em Direito natural e História, nota que o “direito natural moderno” (Hobbes, Locke e Burke, mais precisamente) nasce reagindo a esta associação entre direito natural e teologia natural, pois os princípios morais seriam mais claros a razão pragmática do que a teologia. Assim, para muitos teóricos modernos, a “natureza das coisas” torna-se a sua razão. Aqui, se estabelece uma primeira tensão sobre aquilo que dá substância a liberdade política.

No começo da modernidade política, a racionalização do Estado moderno, a igualdade de todos perante a lei, e o governo das leis, garantem não só a segurança, como também as liberdades cívicas enquanto não-interferência. A liberdade política passa a ser um campo de disputa. Ela possui um fundamento transcendente, garantida pelo poder político na figura do soberano (ordem absolutista) ou da formalidade jurídica do império da lei (ordem liberal), ou é apenas uma concessão política fundamentada num direito natural imanente à condição humana, de uma ética universal presente no sujeito transcendental?

Dito de outro modo, a liberdade política é uma série de arranjos legais para tornar a concessão divina análoga a comunidade ou é um princípio universal ligado a moral laica civil. Na primeira interpretação, como um arranjo, entende-se que liberdade de alguma coisa é sempre limitação de outra. Se eu tenho liberdade para me exprimir, limito a liberdade do outro de calar a minha boca. Ter direito à vida é limitar a liberdade do outro de me matar se quiser. As liberdades são um arranjo de ampliação e limitação para garantir coisas mínimas para a melhor vida em comunidade num estado civil. Na segunda, não existe a dimensão do mundo como um entremeio, e a liberdade aparece como algo independente daquilo a que ela é relativa. Ou seja, a liberdade política se torna um princípio universal, e não um elemento pragmático. Ou por autopreservação ou porque os indivíduos descobrem racionalmente uma ética imanente e universal.

Esta tensão entre arranjo e ordem irá se ampliar no liberalismo moderno, que abandona a ideia de jusnaturalismo e passa a ver a liberdade como uma utopia, uma promessa de felicidade futura a ser construída. Como ordem, a liberdade política deve ser sempre estendida, garantida e produzida. No liberalismo moderno americano, em figuras como Herbert Croly, a educação assume uma importância elevada nessa transformação. E cabe as elites conduzirem e educarem a sociedade para esta transformação. O brain trust foi formado para fazer várias reformas importantes e necessárias, mas também refundar a nação, com FDR sendo o seu negociador político e popular. Chegamos às nossas elites rebeldes.

O novo liberalismo, desde o final do século XIX, elaborava outro conceito de liberdade, mais afirmativo, onde a ampliação dos direitos fosse sinônimo da realização da utopia da liberdade no futuro. Esta utopia não se baseava mais na limitação estatal, mas na volta do governo constitucional e democrático como construtor – a partir da legitimidade do seu poder – da ampliação dos direitos. O tribunal da moral comandado pela sociedade civil se dirige agora ao Estado e aos seus aparatos, seja como políticas públicas, ampliação de todo tipo de direito como algo benéfico etc. As elites (econômicas, midiáticas, intelectuais, etc.) se voltam ao poderio estatal para usá-lo na reforma da sociedade civil que deveriam zelar de maneira responsável. É o uso e a reforma desse aparato que irá produzir a sociedade perfeita do futuro, livre da opressão, das limitações, dos preconceitos etc.

Essa percepção vai transformando vários frutos do pensamento cristão em algo separado e mesmo avesso a este. Toda política ocidental possui um imaginário e uma linguagem cristã, e a modernidade política ampliou isto. Todavia, por outro lado, construiu-se também uma utopia a partir de um secularismo em busca de independência do seu lastro, anunciando-se quase como um “novo tempo” do mundo.

Em 1874, após a morte do seu autor John Stuart Mill, foi lançado os Três ensaios sobre a religião. Ele argumentava que a evolução das doutrinas religiosas se dirigia a unidade da “religião da humanidade”. Esta nova e decisiva religião da liberdade seria alcançada pela educação e pela cultura agindo civicamente nas instituições. A “religião da humanidade” não seria como as tradicionais, com seus tabus e proibições, mas antes um norte ético dando propósitos diversos ao sentido de nossas ações. Para Mill, a crença num Deus onipotente, que nos doava a liberdade, era preguiça intelectual, pois o mal não deveria existir se assim fosse. Ao contrário, a nova religião seria útil para todos os seres humanos, pois seria o culto a liberdade de ações, capacidades e diversidades de sentido. O seu “deus” é a humanidade em sua história de conquistas, dramas e evoluções, adquirindo e conquistando a sua liberdade sobre o mal. O término da história desta utopia é a coroação do ser humano em repouso da sua liberdade, e a religião da humanidade é o instrumento dessa conquista. Aqui, fica ainda mais claro como a liberdade política passou de um arranjo concedido e produzido formalmente para uma utopia, uma esperança dum futuro sem penitência.

Por isto, enquanto utopia, a liberdade política vira uma conquista de um mundo perfeito a ser realizado, livre de qualquer tipo de limitação, onde viveríamos na harmonia de interesses. Esta ideia é uma má imitação, que se torna inversa a toda origem da modernidade política. Não existe mais a percepção de que a liberdade enquanto um direito também limita outra coisa, porque vivemos em meio à incompletude. Por exemplo, se criminalizo piadas com gordos porque isto é preconceituoso e pode deixar a outra pessoa chateada, então estou criando um novo limite legal para a liberdade de expressão, e muito mais fluído, que diz respeito apenas a um senso estético. Criminalizo a simples fala de um grupo de religiosos sobre uma conduta sexual ser pecado, então cesso automaticamente a liberdade de religião.

Esta ampliação cria um curto-circuito nos arranjos legais da modernidade política e nos trazem de volta para o mundo do mais forte pura e simplesmente. Deixamos de ter a compreensão de que os direitos fundamentais são coisas complexas, cheias de nuances, um arranjo social para viver um pouco melhor diante do livre-arbítrio de cada um, e críamos uma infinidade de leis que caem em contradição. Hoje, já há decisões legais contra pessoas que associam o aborto ao holocausto na Europa, pois seria ofensivo as mulheres, limitaria a liberdade delas e a felicidade social. Caindo em literal contradição, este arranjo da liberdade política volta à “lei da selva”, onde manda quem tem força e obedece quem tem juízo, contando não só com o porrete estatal, mas principalmente com os grupos de pressão e suas maneiras sórdidas de linchamento. A ideia de que pais levando os seus filhos para a Igreja viola os direitos da infância é apenas reflexo da violência silenciosa desta utopia.

Neste ponto, as elites ocidentais são sacerdotisas de uma nova religião – a religião do humanismo. Por isto, são essencialmente anticristãs. Estas elites são as encarregadas de parir espiritualmente o novo mundo. Para isto, possuem o monopólio da força, das ideias, da imprensa, do dinheiro, para transformar o aparato estatal e a própria sociedade. As elites não agem mais diante de um acordo com aquilo que lhe fundou, formou e manteve a comunidade política, mas como o principal inimigo disto.

O historiador inglês Skinner mostra que a percepção da escolástica influenciou até mesmo o humanismo renascentista e a sua ideia de que as virtudes cívicas levavam a uma melhor vida de toda comunidade. A paz de um povo dependeria da sua virtude cívica, da sua capacidade de se motivar e agir por (e pela) sua liberdade. O que ocorre hoje é que esta virtude cívica se transformou e se adaptou, para estas elites, na capacidade de usar todos os aparatos disponíveis (estatais ou não) para transformar o povo, realizar sua utopia em nome de uma suposta harmonia de interesses, e mesmo ampliar certas liberdades que são, na verdade, limitações de toda liberdade política consagrada no início da modernidade.

A revolta das elites é o que pressupõe e fomenta a “revolta do subsolo” como uma resposta. A revolta das elites constrói não o paraíso na terra, um novo mundo melhor, pois, num mundo onde se quer a liberdade ilimitada, o que se tem é a tirania do mais forte, a tirania dos mais poderosos. A tirania dos grupos de pressão, dos que possuem o dinheiro, o poder, a visibilidade do espetáculo, para quem só existe o mundo a ser transmitido. Uma tirania que vai em direção ao abismo, pois é contrária a todo o espírito do que pode unir e manter uma vida em sociedade.

Imagine que um sujeito se destaca na sua sala de aula por seus discursos, então vira o orador que representa a todos e carrega grande responsabilidade com isto. Outro é muito bom negociando interesses, resolvendo problemas, então se torna o representante da sala perante os professores. Agora, o orador e o representante assumem para si o papel de tutelar o resto da sala, transformar as consciências, exercendo suas responsabilidades de maneira cínica para te direcionar em nome do “bem comum” e do “mundo melhor”. Qual sentimento esta tutela despertará?

Uma crise de espíritos. A ruína das elites faz a sociedade inteira “ranger os dentes”. Uma elite iníqua e irresponsável cria sofrimento para todos, não só materiais como também no que há de mais importante para nós – a consciência. E é neste grave problema da consciência que surgirá o grande problema da revolta do subsolo.

A primeira consequência desta maneira de agir das elites é a quebra de confiança. Depois que as pessoas ordinárias deixam de confiar em seus políticos, jornalistas, intelectuais, artistas, começa o sentimento de se sentir oprimido pela tutela deles. É aqui que as coisas vão da realidade prática para as questões da consciência. Esse sentimento de opressão vai criando raiva, ira contra a injustiça, contra as pessoas que estão fazendo isto no topo da hierarquia. Esta raiva gera o ato político da revolta, o grito contra “o que está aí”.

Enquanto as elites fazem os seus planos, explanam suas razões, acariciam mutuamente os seus egos no único mundo que deveria existir e é apresentado para todos nós; lá no subsolo, um homem irado se movimenta. As coisas estão a acontecer, o caldo grosso da revolta está se formando, e as elites ensimesmadas estão cegas diante de um discurso fechado em si mesmo, pois parte da utopia da harmonia de interesses.

Entretanto, é aqui que mora todo o perigo. Raras vezes da revolta não se faz o ressentimento. Citando Camus, Martim Vasques mostrou num artigo para a Folha que ressentir-se é, acima de tudo, invejar aquilo que não se possui. O ressentimento é a reciprocidade do mal. A revolta quando tomada pelo ressentimento deseja apenas substituir essa elite e tomar o seu lugar com as mesmas condições. A consciência dirigida pelo ressentimento leva o espírito para o “subsolo” da existência. Neste lugar, o homem parece um libertador, um ser grandioso, altivo, um sujeito bondoso ajudando as pessoas contra o mal; mas, na verdade, o que se passa ali é dor, rancor, o domínio de um comichão que vai corroendo a sua alma.

Tomado pela reciprocidade do mal, essa revolta contra a iniquidade das elites tende quase sempre a ser marcada pelo ressentimento. Por causa da reciprocidade com o mal, o que só gera mais violência, a aparente luta de um homem bondoso contra um homem mau acaba revelando também que este bondoso é apenas mais um homem mau querendo o mesmo lugar. É um pouco do que vimos nos últimos dois anos em toda a esfera política do Ocidente.

As elites ocidentais falam em dissolução das fronteiras nacionais, fim dos traços locais em benefício de uma cultura universal, laica, amorfa, além da imigração em massa sem perceber ou tratar dos problemas de adaptação. A resposta do homem tomado pelo ressentimento é o discurso contrário a figura do imigrante, a volta do tribalismo, de um nacionalismo agressivo, e mesmo a total falta de piedade para com humanos fugindo de fome, guerra, catástrofes. O mal da elite irresponsável e rebelde se transforma no mal do ressentido, que apenas inverte qualquer discurso dessas elites.

As coisas agora ficam mais claras. A utopia das elites ocidentais é apenas uma má imitação do cristianismo que se vira contra ele mesmo, uma perversão da caridade. Em nome da vítima, se cria a seguinte posição: “eu sou a vítima, e deste lugar posso fazer aquilo que bem entender, até mesmo vitimar qualquer um”. É o que René Girard chama de “máquina supervitimológica”. A caridade com a vítima é pervertida numa utopia anticristã. Por sua vez, o homem do subsolo se coloca no lugar dessa elite, e usa esta mesma máquina supervitimológica dizendo: “eu sou a vítima das elites, eu fui tutelado e oprimido por elas, agora eu posso fazer tudo”. Revoltado contra as elites, o ressentido quer tomar o seu lugar e se apropriar dessa máquina, continuando a perversão dos valores cristãos; agora, enquanto “nostalgia das proteções sacrificiais”, de uma sociedade tribal, dura, que use de uma violência catártica.

Para ser aceito pelos revoltados no subsolo, o sujeito não precisa parecer um líder implacável, mas apenas um cara extremamente humilhado pelas elites. Quem dirige a revolta do subsolo é quase sempre uma figura marginal dentro do quadro das elites. Donald Trump, por exemplo, é uma figura carimbada da elite americana, que patrocina políticos, entre outras coisas. No entanto, ele sempre foi visto como um excêntrico, um “novo rico” vindo das construções do Brooklyn. Sempre foi uma figura marginal na hierarquia de respeito dentro do quadro geral de pensamento das elites americanas.

Neste sentido, as pesquisas de opinião mostram um grande apoio das classes médias de renda à revolta do subsolo. Ela está ali na margem do dinheiro, sendo surrupiada com impostos altíssimos, vendo os seus pilares e valores sendo nocauteados de maneira autoritária por aparatos estatais e não-estatais, não possui voz, ela é uma quase invisível que conduz o cotidiano das grandes cidades. Nos Estados Unidos, quantos de uma classe média ou mesmo rica de renda do interior não é vista depreciativamente como “jeca”?

Trump pode vir da elite econômica, ter uma grande fatia de votos entre mais ricos e classe média e, ainda assim, representar essa revolta do subsolo. Estamos falando do topo das elites, aquilo representado em aparência, responsabilidade e importância. Faço doutorado, escrevo artigos, posso fazer parte daquilo que se chama de “elite de conhecimento” em algum sentido, mas sou uma figura extremamente marginal dentro dela. Este é o ponto: a revolta começa sempre nas margens das elites e não fora dela, porque é numa posição interna que se tem o contato mais direto e abundam os sentimentos: a raiva, a revolta meritória, ou mesmo o sentimento mais comum – a inveja.

O sujeito que não vivencia isto, longe deste mundo, que sequer reconhece a figura de um William Bonner, não pode alimentar nada em direção ao que desconhece. Não pode ser recíproco, nem se revoltar com a iniquidade que não percebe, mas sofre igualmente as consequências. Note-se que, com as redes sociais, este mundo tem sido colocado em contanto com muito mais gente, agora ciente do poder a ser disputado nas democracias, o qual ele pode almejar, desejar. O que também intensifica a rivalidade.

Quando a hegemonia liberal/progressista vê estas pessoas na margem apoiando algo como Matteo Salvini, costumam pensar na máxima da Chauí: a classe média é fascista. No entanto, o adjetivo é muito mais um xingamento com conotações fortemente emocionais, que serve como esquecimento da responsabilidade do poder exercido e da reciprocidade entre eles. O que está se construindo no meio dessa reciprocidade entre elite e subsolo é algo muito mais amplo, insurgente, implacável e grave.

Por fim, neste jogo de imposição de um lado e ressentimento do outro, quem desdenha vai querer comprar. Quanto mais recíproca essa relação, quanto mais o discurso vai assumindo um tipo específico de revolta contra as elites (do ressentimento), mais vai crescendo a paixão e a sua desmedida por se tornar a nova elite no homem lá do subsolo.

A próxima parte desta série será sobre Donald Trump, Steve Bannon e Roger Stone.

Elton Flaubert

Doutor em História pela UnB.

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