Sua campanha, até aqui, não tem conseguido gerar momentum positivo.
Prezado Governador,
Lhe escrevo essa carta aberta desde a perspectiva de um possível eleitor seu que, nessa eleição, é um voto que talvez lhe esteja perdido. Possível, porque nunca votei em outro partido que não o PSDB para a presidência da República. Perdido, porque não sinto vontade ou inclinação de votar no senhor ou no seu partido, diante de campanhas e candidatos muito melhores. Aberta porque, quem sabe, possa essa carta ultrapassar as muitas camadas da sua ineficiente assessoria e da traventa burocracia partidária, tão características de sua agremiação, e chegar aos seus olhos.
Como eu, Governador, existem milhões de outros eleitores que provavelmente deixarão de votar em sua candidatura nesta eleição. Mesmo, ressalte-se, tendo sufragado votos em Aécio Neves, em José Serra, ou mesmo na sua primeira candidatura, em 2006. As razões vão muito mais além da insipidez tão característica de sua personalidade pública – não o conheço de modo privado – caracterizada por Antônio Tabet como “agradável tal qual receber uma ligação de telemarketing às seis da manhã, num domingo de chuva, por engano”. Vão muito mais além do sabor de sua campanha televisiva e de internet, que lembra muito o de pudim de baunilha de caixa, da Dr. Oetker.
Marina Silva, outra eterna candidata, é tida como uma política em cima do muro. Com alguma habilidade e firmeza – inéditas, aliás, para ela! – tem se limpado dessa imagem, partindo para o ataque. Ciro Gomes, sujeito prolixo com arroubos retóricos pouco calcados na realidade, aparenta a outros tantos ser um homem de ação. João Amoedo, com cem vezes menos exposição de mídia e de televisão, tem se colocado para outra parte de seu eleitorado como uma esperança de mudança. Enquanto isso, o senhor assiste a tudo impassível, sem se mover. Nunca é suficientemente de direita, nem de esquerda, nem liberal, nem conservador. Sua plataforma não nos sabe a nada, candidato. A alcunha de “picolé de Chuchu”, que é a primeira coisa que vem à cabeça de cada um dos eleitores, não é vinculada apenas ao seu carisma: para além disso, ela nos refere ao fato de que o senhor, mais do que os outros, não tem qualquer firmeza ideológica.
A bobajada nacional-desenvolvimentista, tão preconizada pelo petismo, já não está mais tão em voga entre o eleitorado. Não é necessário, por exemplo, que o senhor resolva comparecer a um evento trajando um casaco e um boné com logomarcas de todas as estatais, assegurando que mantê-las-ia talqualmente. Pelo contrário: é necessário que o senhor, publicamente, assuma o seu programa de privatização e diga, com clareza, quais são as empresas que passarão à iniciativa privada com urgência. Estamos cansados – é essa a nossa maior insatisfação – da ineficiência do serviço e administração públicos.
Como eleitor circunscrito da distante Petrolina, em Pernambuco, não quero definitivamente ouvi-lo escandir as sílabas falando sobre a “re-com-po-si-ção da mata ci-li-ar do Rio São Francisco”. Nem pretendo, a bem da verdade, ouvir o senhor batendo um papo entre amigos com o candidato Ciro Gomes, a respeito do governo Temer e sua influência no lusco-fusco da cabine indevassável. Suas participações nos debates, que são os momentos mais fundamentais para a decisão do voto do eleitor, têm sido modorrentas e insuportáveis. Aqui fora, o senhor resolve mandar recados com ataques duros a Jair Bolsonaro – obviamente, maior alvo de sua campanha, uma vez que é com ele que todos os candidatos do centro democrático disputam a vaga do segundo turno. Mas, nos debates, se afrouxa e cala, sem coragem de apontar a incompetência do capitão da reserva, e suas tendências ditatoriais demonstradas à farta. Da mesma forma que não queremos votar num bravateiro, meu preclaro Governador, tampouco queremos votar em um homem pusilânime. Entendemos seu medo, diante do vexame que foi o segundo turno de 2006, quando o senhor se transformou num homem violento contra um então “símbolo” de paz e amor, que era Lula. Mas, não estamos em 2006. A principal ameaça que o Brasil hoje sofre vem da parte de dois protótipos de Hugo Chávez: um, mais fidedigno, vindo de vida semelhante; e outro, mais good vibes, saído de um botequim da Vila Madalena. Ou o senhor demonstra firmeza, ou vamos escolher alguém mais firme. Pense nisso.
Sua campanha, até aqui, não tem conseguido gerar momentum positivo. Só aparece, para nós, no rastro dos escândalos de seu governo em São Paulo. E, agora, com muita justiça, com o poderoso ataque que lhe dirige o presidente da República, Michel Temer, a quem o seu partido apoiou (e finge que não). Não é o senhor capaz de aprender com seus próprios erros? Em 2006, o senhor ignorou e escondeu Fernando Henrique Cardoso – que, até aqui, foi um dos melhores presidentes da história desta infeliz nação. Agora, esconde que participou de um governo, através do seu partido, que salvou o país da iminente ruína gerada pelo Partido dos Trabalhadores. Perceba, senhor Governador, que não foram escolhas ruins: as assuma, congregando, através de uma defesa vigorosa, o legado positivo que ela nos deixou!
Uma grande parte de nós, agora, opta por nomes como Marina, Meirelles ou Amoedo, porque estamos cansados da polarização. O senhor soa como mais do mesmo. Não há, salvo aqui e ali, apoio autêntico e firmado à sua campanha. Precisa de muito mais do que prometer o retorno do vale-gás, ou de uma proposta completamente imbecil e estapafúrdia que dá às mulheres o direito de saber quanto ganham seus colegas – como se isso, aliás, fosse agregar algum voto feminino à sua campanha. Já parou para pensar no que realmente nós queremos? Queremos deixar de ter um estado-babá, candidato. Queremos menos filas, queremos menos burocracia, queremos segurança, queremos eficiência. Queremos, muitos, a revogação do estatuto do desarmamento; outros, queremos mais liberdades civis. Queremos que o senhor trate a questão das drogas de forma madura e libertária, como defende publicamente o presidente Fernando Henrique. Ao mesmo tempo, queremos que o senhor demonstre plena disposição para prender e arrebentar a vagabundagem, em vez das vacilações sempiternas que caracterizaram – ao menos, para nós, o público! – sua questão com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Fala tanto o senhor, meu prezado Governador, em reforma política. Diz que temos partidos demais. Propõe alguma solução legítima para gerar debate e atenção? Não, centra-se em, artificialmente, diminuir o número de partidos por lei. Isso é especialmente ridículo quando o seu partido, em seu programa, defende a implementação do regime parlamentarista. Regime esse que é o ideal, em verdade, para diminuir de forma legítima o número de partidos e resolver, com habilidade, a questão do presidencialismo de coalizão, sinônimo de rapinagem, corrupção, e verdadeiro garante da administração pública dominada por marginais. Tenha um espírito verdadeiro de estadista e resgate o programa, afinal, que foi defendido com unhas e dentes pela sua agremiação durante a Assembleia Constituinte. Saia do terreno das platitudes, e venha realmente para o lugar que importa.
Sua campanha tem sido tão insossa, senhor Governador, que os candidatos à Câmara, Senado, Assembleias e Governos de Estado, que são membros do seu partido, lhe escondem. Tenho acompanhado a eleição em dois estados do Nordeste brasileiro: na Bahia, desde sua capital, que é onde vivo; e em Pernambuco, onde voto. Lhe garanto, com muita verdade, que nenhum candidato do seu próprio partido tem coragem de aparecer com o senhor, ou fazer campanha pela sua eleição. Por que? Lhe falta postura de líder.
Se lhe escrevo essa carta, Governador, é porque sei que o senhor é o candidato do centro democrático com mais perspectivas de vitória dentre todos os outros. Tem a maior máquina, tem o maior tempo de televisão, e tem o maior número de prefeitos que lhe apoiam – embora a maior parte, diante do vexame que tem sido a sua campanha até aqui, tenha lhe virado as costas. O senhor é o mais capaz, dentre os outros desse campo político, de vencer essa eleição – embora, sem qualquer constrangimento, lhe diga que não é o melhor entre os candidatos. Sua inércia e a ineficácia da sua campanha, doutor Geraldo Alckmin, em persistindo, vão nos levar ao pior dos cenários possíveis: um segundo turno entre o poste de Lula, Fernando Haddad, e o poste de Geisel, Jair Bolsonaro. Mexa-se enquanto ainda há tempo, para que, quem sabe, possa reconquistar um mínimo da nossa confiança.
Lucas Baqueiro
Bacharel em Humanidades pela UFBA. Editor de política e atualidades da Amálgama.
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