por Raphael Tsavkko Garcia
Caiu mais um ministro. O sexto. Quinto por corrupção denunciada pela mídia. Agora foi a vez do PCdoB, conhecido no movimento estudantil e sindical pelas práticas sujas, intimidação, faudes…
Mas pouco se sabe da veracidade das denúncias contra Orlando Silva. Não que ele seja inocente, não que seja impossível, mas com tanta coisa para se pegar o PCdoB no flagra, a mídia buscou o caminho mais tosco. E, claro, quem acusa é a Veja, a revista mais podre e falsa do país – mas que goza de milhões do nosso dinheiro investido pelo governo a título de propaganda institucional.
Mas foi bem sucedida. E não é à toa.
— Amizade com a mídia —
Comentei logo no início do governo Dilma que Lula teve uma falha terrível em seu governo: Não promoveu a democratização das comunicações e sequer tratou seriamente do controle social da mídia.
Era a chance de Dilma fazer alguma coisa, chegar de sola. Franklin Martins havia preparado um projeto que, segundo muitos, era excelente, mas foi engavetado sem nenhuma discussão, assim como outros ótimos projetos que eram discutidos pela sociedade, como a Reforma da Lei de Direitos Autorais.
E, de quebra, Dilma ainda passou algum tempo afagando a mídia, com entrevistas exclusivas a redes de TV e até uma visita especial à festa de 90 anos da Folha, o veículo que mais tentou derrubá-la durante a campanha.
Para uns uma forma de dar um tapa com luva de pelica na mídia, indo até ela com tom de desafio. Ledo engano. Meses depois, a verdade começa a surgir aos poucos, na medida em que ministros vão caindo como moscas.
— O quinto ministro —
Seis ministros caíram, mas cinco por pressão midiática. Dificilmente eram inocentes, mas surpreende a velocidade com que deixaram os cargos frente à denúncias que, muitas vezes, eram frágeis. De alguns Dilma se livrou rapidamente, o Orlando ainda resistiu 12 dias, mas mais por pressão e unidade do PCdoB do que por vontade da presidente.
O único ministro a cair por razões “legítimas”, ou seja, sem a mão extremamente visível da mídia foi o Jobim, que era insustentável em todos os sentidos. Mas a história ainda guarda surpresas.
Denúncias de corrupção vindas da mídia são comuns, por duas simples razões: Em primeiro lugar porque ela tem total interesse em minar o governo, já deixou isso claro, e em segundo lugar, porque corrupção é algo internalizado, comum e corriqueiro em todo e qualquer governo. Questão é saber o tamanho do rombo e o quanto isto é visível, detectável.
A questão da mídia querer minar o governo, aliás, é algo que merece análise pormenorizada e até mesmo teorias da conspiração que ficam cada vez mais populares.
— Teoria da conspiração? —
Teoria que se espalha, e que a cada dia parece menos conspiratória e mais verdadeira, é a de que, pasmem, a própria Dilma ou pessoas próximas seria responsável por vazar para a imprensa pequenos pecados e deslizes de seus ministros, ou melhor, de ministros de Lula.
Notem que ministros de posição muito mais frágil, como Ana de Hollanda, repudiada abertamente por quase toda a militância petista ou não, não caem e sequer balançam, não importa o teor e a veracidade das denúncias que já foram feitas.
E Ana de Hollanda é indicação de Dilma. Sua administração (sic) é o posto da dos ministros de Lula (Juca e Gil) e, ainda assim, ela se mantém soberana e “imexível”.
Mas Orlando Silva, assim como os outros 4 ministros derrubados pela mídia eram indicação do Lula, eram ministros “dele” e não da Dilma. Jobim é caso a parte.
Por muito tempo apenas uma teoria conspiratória, começa a tomar corpo e se provar mais verdadeira do que muitos gostariam.
Aliás, porque será que, uma vez derrubado o ministro, as denúncias e investigações sobre a suposta corrupção logo somem e nunca mais ouvimos falar do assunto? Será que é porque, seguindo adiante, respingaria no governo diretamente e o objetivo é apenas derrubar ministros?
— O poder da mídia —
O que explica que um governo – que se diz de continuidade – tenha mais de 80% de aprovação e, ainda assim seja um refém da mídia? Refém sorridente, não?
É, sem dúvida, muito suspeito que denúncias em muitos casos vazias ou fracas, derrubem tão rapidamente tantos ministros. O bombardeio midiático nunca foi tão certeiro.
Alguns apontam que Orlando Silva era contrário à posição de Dilma de ceder em absolutamente tudo frente à FIFA. Aí está uma boa razão para que as denúncias tenham surtido efeito tão rápido. Nunca foi segredo que Ricardo Teixeira e outros não gostassem do Orlando Silva que, em teoria, se opunha aos interesses da CBF e FIFA, ou melhor, à farra.
Mas se opunha, claro, com limites. Na hora da pressão era mais sensato se manter no cargo que garantir o respeito às leis brasileiras. O fato é que, ao menos neste último caso, não há nenhuma prova concreta contra o ministro e, ainda assim, os esforços para mantê-lo foram mínimo.
A certeza que fica é a de que a mídia só precisa apontar e atirar e que, então, um ministro cairá. Sob ordem de quem, são conjecturas. Dilma ou é fraca ou extremamente inteligente, mas mesmo inteligência tem limite na medida em que se fica cada vez mais refém.
— PNBL, Ley de Medios… —
Pouco a pouco a mídia vai conseguindo enterrar a Ley de Medios, a democratização das comunicações, que passou a ser apenas um grito vazio que ainda une governistas e oposição de esquerda. O PNBL foi entregue de vez, por um ministro que a mídia não quer jamais que seja trocado. Pertence, hoje, a eles.
As oportunidades foram aparecendo e o governo deixando passar.
Ana de Hollanda é a prova cara do caminho escolhido por Dilma para seguir. Paulo Bernardo foi rapidamente cooptado – se é que não tinha essa intenção desde o começo – e o PNBL foi entregue às teles.
E a Copa está nas mãos da FIFA. Nossa soberania será violada, nossas leis deixadas de lado para que contentemos uma empresa privada. Isto sem contar os superfaturamentos e crimes ambientais e contra a população que estão em curso. Dizem que Orlando Silva era contra tantas facilidades para a FIFA. Eis o resultado.
Na Amazônia temos Belo Monte, projeto feito para contentar as empreiteiras que tão docemente financiaram campanhas. E as greves? Melhor nem comentar.
Este governo, definitivamente, não é dos trabalhadores.
— E o PCdoB? —
Durante os 12 dias de crise o PCdoB se mostrou unido e até mesmo intransigente na defesa de Orlando Silva. Militantes do partido afirmaram diversas vezes que, caso ele fosse demitido, o partido deveria se retirar do governo.
Não faltaram os que, fato consumado, afirmassem que o PCdoB devesse ir para a oposição até. Mas será que o PCdoB estaria disposto a abrir mão das verbas e benesses de ser governo? Segundo pronunciamento do ex-ministro, não.
O fato é que o PCdoB foi humilhado, tratado como um PMDB, de quem se espera corrupção e onde isso não faz a menor diferença. Militantes e lideranças, agora, em geral, parecem prontos a engolir as ofensas e a humilhação em troca da boquinha governamental. Podem até continuar com os Esportes, mas o fato é que o clima não é mais o mesmo.
O desfecho do episódio dá razão ao colunista da Folha, Fernando Rodrigues, que se jactou do poder da imprensa para derrubar ministros. Para ele, a presidenta só demorou na decisão porque “não quer consolidar a imagem que existe – e é verdadeira – de que ela foi sempre a reboque da mídia nas demissões de todos os seus ministros”. Haja arrogância! O triste é que a cedência é verdadeira!
Diante da demissão de Orlando Silva, fica a pergunta: quem será o próximo ou a próxima a cair no governo Dilma? Em apenas dez meses de gestão, seis ministros já foram defenestrados – um recorde desde a redemocratização do país, em 1985. Na prática, a mídia demotucana pauta o governo. Ela “investiga”, julga, condena e fuzila… e o Palácio do Planalto cede!
Quem conhece o Movimento Estudantil, conhece o PCdoB. E sabe que as denúncias contra o Orlando não tocam nem na ponta do iceberg, não são nem o começo do problema. Será que o partido, no entanto, terá a coragem de pressionar toda sua base a largar o osso? Irão manobrar a UNE para a oposição ou para uma posição menos subserviente?
Duvido.
Melhor um sapo engolido que dinheiro perdido.
— Futuro e a Militância —
Até quando uma parte considerável da militância ainda ficará acreditando, sentada e esperando que o governo magicamente vá para a esquerda, quando já deu mostras mais que suficientes de que seu projeto é, em muitos casos, o mesmo da mídia e não aquele dos movimentos sociais e dos direitos humanos?
Está claro que o povo elegeu o governo, mas é a mídia quem vem determinando seus rumos. Ou, ao menos, a mídia tem sido o arauto de um processo irreversível de mudança ideológica partidária.
E esta simbiose com a mídia é clara, mesmo o professor Gilberto Maringoni diagnosticou com maestria, a militância critica o chamado PIG, o PT algumas vezes denuncia a “ditadura midiática”, mas membros do governo e do PT jamais negam uma entrevista especial e correm em desespero para as saias da mídia sempre que precisam criar fatos, desmentir outros e etc.
Mas e a militância?
Orlando Silva acaba de declarar que deixa o governo. Fez um discurso bonito, mas que não orna com a decisão tomada: como alguém que não é corrupto, que fez uma boa gestão na pasta, que apurou denúncias, que não tem nenhuma prova concreta contra si, que não foi julgado sai então da pasta? Globo News na sequência entrevista o líder tucano na Câmara Duarte Nogueira que repete todo o discurso denuncista da mídia traçando o governo Dilma como o mais corrupto da história (viu Lula, esqueceram até de você). Vitória do PIG, embora tenhamos eleito Dilma Rousseff.
Esta está se dividindo entre o silêncio envergonhado e, em alguns casos, revolta contra o governo. Alguns chegaram até a romper com o mesmo governo, em atitude corajosa de independência:
Com muito orgulho posso dizer que fui governo por oito anos, mas agora é hora de ser oposição. Não foi para ter esse governo que votei na Dilma. Dilma, fique agora com Sarney, Garotinho, Kátia Abreu, Kassab, e afins. Eu prefiro ficar com a minha consciência. Desculpa aos que votaram na Dilma porque eu pedi. Desculpa pelo meu voto!
No twitter, muita amargura, muita revolta, muito ódio de governistas que, talvez, não continuem a apoiar tão radicalmente o governo que os trai cotidianamente.
Agora à noite, o ministro capitulou. O PC do B, que iria até o fim com ele, aceitou o arreglo, e a mídia corporativa vence mais uma. Batem, e conseguem do governo o que querem (como esse fajuta PNBL e o silêncio sobre a Ley de Medios). Só não conseguem ainda vencer-nos nas urnas. Mas, até quando?
Em geral, acusações de que o governo Dilma é fraco, covarde, traidor até. E restou o medo de poder piorar. O governo leiloou os gays, os direitos humanos, o meio ambiente e os trabalhadores. E vem apenas dando os últimos retoques na imparável guinada para a direita.
Mas, claro, sempre há aqueles que preferem continuar cegos.
O certo é que a cada dia que passa o PT/governo vai perdendo mais e mais apoio da militância, que se sente traída e distanciada do projeto de país que vem sendo construído.
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Felipe Lopes
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Felipe Lopes
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Carlos Maia
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Daniel Bacellar
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Raphael Tsavkko
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Raphael Tsavkko
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Alamar Sérgio
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Daniel Bacellar
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Raphael Tsavkko
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Raphael Tsavkko
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Raphael Tsavkko
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Raphael Tsavkko
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Lucas
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Raphael Tsavkko
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Lucas
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Rodrigo Carvalho
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Raphael Tsavkko
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Raphael Tsavkko
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Raphael Tsavkko
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Dirce