Entrevista com José Roberto Torero, autor de “Papis et Circenses”

"A cena que mais gostei foi a de um papa que mandou desenterrar o papa anterior, vestiu o cadáver e promoveu um julgamento póstumo."

Uma coletânea de causos sobre algumas das mais emblemáticas figuras papais – começando por Pedro e fechando com o papa Francisco – é o que sintetiza o recém-lançado livro de José Roberto Torero, Papis et circenses, laureado com o 1º Prêmio Paraná de Literatura, na categoria Contos, em 2012, e que ganha agora sua primeira edição comercial pela editora Alfaguara. Embora algumas das histórias possam parecer um tanto quanto inverossímeis, todas elas, de fato, ocorreram, ou pelo menos estão de acordo com os registros históricos de cada uma das respectivas personagens. E unir história com inteligentes doses de humor é o que melhor sabe fazer o jornalista, escritor, diretor e roteirista José Roberto Torero.

Nascido em Santos, Torero tem mais de 25 livros publicados, incluindo seu romance de estreia O chalaça (Prêmio Jabuti de Literatura em 1995); Xadrez, truco e outras guerras; Pequenos amores (Prêmio Jabuti de Literatura em 2004); e Nove contra o 9, que conta com a coautoria de Marcus Aurelius Pimenta. Participou como roteirista de produções como Pequeno dicionário amoroso (1997), Memórias póstumas de Brás Cubas (2001) e Pelé eterno (2004).

Em entrevista exclusiva para o Amálgama, Torero falou sobre literatura, cinema, o interesse por história e, é claro, sobre Papis et circenses, sem dispensar seu autêntico bom humor.

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Amálgama: Como surgiu o interesse em escrever histórias verídicas sobre papas em seu mais recente livro?
JRT: A geração deste livro é bem pouco divina. Comprei uma bela caderneta que tinha uma cruz na capa e pensei em escrever ali um livro à mão. Mas o que eu poderia escrever? Depois de pensar bastante, achei que seria interessante escrever algo a ver com religião, por conta da cruz, e fiz o primeiro conto do livro, sobre Pedro, que é considerado o primeiro papa. Gostei e fiz outro continho, desta vez sobre o segundo papa. Então comecei a pesquisar o assunto e passei a escrever no computador. Pode-se dizer que é um livro que realmente começou pela capa.

Como foi feito esse trabalho de pesquisa?
Há vários livros sobre papas, editados aqui e em Portugal. Li alguns deles e recorri também às Wikipédia italiana e espanhola. Fiquei um ano lendo, e depois alguns meses escrevendo.

Quanto tempo durou exatamente para você estruturar cada narrativa e, por fim, reuni-las em uma antologia de contos?
Algumas surgiram bem rapidamente. Dá para dizer que escrevi de primeira. Outras foram refeitas várias vezes, mudando o jeito de narrar, o foco, etc… Creio que no total gastei um ano escrevendo o livro.

Qual o fato mais inusitado que você descobriu em suas pesquisas aventurando-se por esse universo eclesiástico?
A cena que mais gostei foi a de um papa que mandou desenterrar o papa anterior, vestiu o cadáver e promoveu um julgamento póstumo. Surpreendentemente, o defunto foi declarado culpado. Os três dedos da benção foram arrancados, tiraram as roupas do cadáver e o atiraram no rio.

Embora você escreva para diversos públicos, indo do adulto ao infanto-juvenil, especificadamente nos livros adultos você tem um interesse pela pesquisa histórica. Como ou quando começa esse interesse em recontar fatos históricos em suas tramas?
Sempre gostei muito de História, e quase fiz essa faculdade. Juntar história com literatura foi algo natural, que aconteceu já no meu primeiro livro, O chalaça.

Até que ponto a pesquisa pode ajudar ou atrapalhar no processo de composição de sua obra?
A pesquisa só ajuda. Ela me dá muitos fatos e personagens interessantes. E, como faço ficção, se algum fato me atrapalha, eu simplesmente o modifico.

Sobre o seu primeiro romance, O chalaça, eu queria saber como foi trabalhar com uma personagem histórica que foi secretário particular e conselheiro de Dom Pedro I. O que te chamou a atenção a ponto de tornar protagonista essa figura coadjuvante?
Acho que a primeira coisa que me atraiu foi seu apelido. “Chalaça” quer dizer chiste, piada, anedota. Um secretário do imperador com este apelido tinha que ser interessante.

Além de escritor, você é jornalista, diretor e roteirista de teatro, cinema e TV. Sei que evidentemente existe distinções de um trabalho para outro, mas como é essa questão de ser roteirista e também escritor? O que é mais prazeroso? Você acha que existe uma intertextualidade em seus projetos ou são coisas completamente diferentes? Queria que você falasse um pouco desse seu lado roteirista.
Ser escritor é mais divertido. Fácil. Quando escrevo um roteiro, sempre estou escrevendo para outra pessoa, e o resultado tem que ficar como ela quer, não como eu quero. São coisas completamente diferentes. Há humor em tudo, mas quando escrevo um roteiro obedeço às ordens de um diretor, logo este roteiro tem mais a cara dele do que a minha. A exceção são os curtas que dirigi. Aí sim há certo parentesco com a escrita. O tom de humor é bem próximo, o tipo de história, etc…

Quando você passou a se interessar também por cinema?
Sou de Santos, uma cidade que vai muito ao cinema. Desde a adolescência essa era uma de minhas diversões.

Como foi a experiência de trabalhar na adaptação cinematográfica de Memórias póstumas de Brás Cubas?
Foi bem divertido. É um dos meus livros favoritos, penso bem parecido com o diretor André Klotzel, e Machado de Assis não reclamou de nada. Preciso trabalhar mais com co-roteiristas mortos.

Se você pudesse adaptar uma obra literária para o cinema, qual seria?
O evangelho de Barrabás. [Um de seus romances em parceria com Marcus Aurelius Pimenta.]

Algum novo projeto para o cinema ou para a TV?
Penso em fazer um programa sobre literatura. Vamos ver se sai.

Sei que você é um apaixonado também por futebol, inclusive é cronista e também comentarista esportivo. Vou te deixar em uma saia justa: literatura, cinema ou futebol?
Não é saia justa. É um pijama largo. A literatura ganha fácil.



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