O que Aécio e Dilma precisam fazer para vencer.
Finalizado o primeiro turno da eleição, é hora da readequação de alianças, com a busca por apoios de candidatos e partidos derrotados. Mas é também o momento de especulação sobre o comportamento do eleitorado que não optou inicialmente pelas duas candidaturas mais votadas.
Não só na eleição deste ano, mas também nas últimas, as pesquisas de intenções de voto veem cometendo erros grosseiros. Das dezenove pesquisas de boca de urna realizadas pelo Ibope neste ano, em dezesseis delas obteve-se um candidato fora da margem de erro. E em algumas situações, muito longe da margem. Um erro superior a 10% numa pesquisa de boca de urna é inaceitável.
No entanto, isto não significa que houve má intenção, até mesmo porque ninguém possui o interesse de expor seu instituto a tal ridículo, podendo causar descrédito. Há tempos que os institutos sérios (em especial o Ibope) precisam rever sua metodologia. Ao menos o instituto nos oferece uma pesquisa no dia da eleição para ficar mais claro se está havendo acurácia. Os outros institutos podem falar de movimentações intensas em menos de 24 horas.
Desta forma, talvez seja mais fácil compreender a partida do segundo turno através dos votos dados na urna do que pelas primeiras pesquisas. Vejamos o resultado oficial do primeiro turno:
DILMA ROUSSEFF (PT): 43.260.549 – 41,59 %
AÉCIO NEVES (PSDB): 34.894.077 – 33,55 %
MARINA SILVA (PSB): 22.174.860 – 21,32%
LUCIANA GENRO (PSOL): 1.612.150 – 1,55%
PASTOR EVERALDO (PSC): 780.415 – 0,75%
EDUARDO JORGE (PV): 630.083 – 0,61%
LEVY FIDÉLIX (PRTB): 446.850 – 0,43%
ZÉ MARIA (PSTU): 91.207 – 0,09%
EYMAEL (PSDC): 61.248 – 0,06 %
MAURO IASI (PCB): 47.841 – 0,05 %
RUI PIMENTA (PCO): 12.323 – 0,01 %
Sem dúvida, a migração de votos de Marina para Aécio e Dilma será decisiva no segundo turno. Pelas últimas pesquisas Datafolha, Marina transferiria em torno de 62% dos votos para Aécio, e 24% para Dilma. Enquanto Luciana Genro transferiria 41% para a petista e 32% para o tucano. Aécio ganha mais votos dos outros três “nanicos” mais votados: Eduardo Jorge (45% contra 38%), Pastor Everaldo (47% contra 38%), Levy Fidélix (57% contra 23%). Repartindo os votos obtidos pelos candidatos derrotados aos dois postulantes, somando a votação obtida no primeiro turno, temos então que a disputa do segundo turno parte disto:
AÉCIO NEVES: 50.063.414
DILMA ROUSSEFF: 49.906.875
Ou seja, terminada a votação e aplicada a proporção vista na última pesquisa do Datafolha, Aécio e Dilma partem das urnas praticamente empatados, resultado diferente dos seis pontos de diferença dados pelo Datafolha na véspera da eleição, e ainda mais longínquos dos oito pontos do Ibope. Num espaço tão curto de tempo, menos de 24 horas, é praticamente impossível que um candidato tenha tirado tanta diferença. É provável, portanto, que as pesquisas vinham captando as intenções de voto da petista acima do seu real teto, e inversamente, o tucano abaixo de sua realidade.
Provavelmente pelo ânimo empregado e apoios dados, o tucano está um pouco à frente da petista. Obviamente que, por esses fatores, ele possui mais capacidade eleitoral para ampliar esse percentual através da transferência de votos. Assim como é importante lembrar que, pela diferença dada entre as pesquisas e as urnas, o tucano possivelmente esteja captando uma percentagem maior dos adversários. Mas tudo isto revela apenas um levíssimo favoritismo seu na partida, muito longe ainda de ser uma grande vantagem. Três semanas em política é uma eternidade. Tanto Aécio quanto Dilma precisam prestar atenção em pontos chaves para garantir a vitória. Vejamos o “mapa da mina” de cada um.
O mapa da mina de Aécio
Quando olhamos para o mapa regional de votação, duas coisas são claras: a)Aécio vencerá no Sul, Sudeste e Centro-Oeste; b)Dilma vencerá no Nordeste e Norte. O tucano venceu em São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os três estados onde ele perdeu serão essenciais: Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
No primeiro turno, Aécio venceu no Sudeste com 17,5 milhões de votos, contra 14,3 milhões da petista e 10,4 milhões de Marina Silva. O tucano venceu também no Sul com 7,6 milhões de votos, ante 5,8 milhões da petista e 2 milhões da socialista. Igualmente, no Centro-Oeste, Aécio recebeu 3,1 milhões de votos, Dilma conquistou 2,5 milhões e Marina, 1,8 milhão.
O Centro-Oeste é responsável por 7,6% do eleitorado nacional. Lá, Aécio venceu em todos os estados, e possivelmente poderá conseguir uma frente de um milhão e trezentos mil de votos, por captar mais de Marina do que Dilma. O Sudeste é responsável por 43,40% do eleitorado, e o Sul por 14,78%. Apenas São Paulo responde por 22,4% do eleitorado nacional. Aécio teve cinco milhões de votos de vantagem para Dilma no primeiro turno neste estado. No segundo, ele precisa conquistar mais votos de Marina e abrir uma vantagem superior a sete milhões de votos. Fazendo o cálculo proporcional por estados de transferência entre a ambientalista e o tucano, é possível que Aécio consiga uma frente de três milhões de votos sobre sua adversária em outros três estados: Paraná, Santa Catarina e Espírito Santo. Somando estes estados, São Paulo e o Centro-Oeste, Aécio pode conseguir uma frente de onze milhões e oitocentos mil votos.
Para vencer a eleição, Aécio precisa levar uma frente segura de doze milhões de votos para o Norte e Nordeste. Por isto é essencial a vitória em Minas Gerais (10,67% do eleitorado nacional) e no Rio Grande do Sul. É possível que Dilma tenha uma pequena vantagem no Rio de Janeiro (8,5% do eleitorado nacional), de modo que o tucano precisa de uma vitória em Minas, mesmo que por pouca margem, para neutralizar esta diferença. Com o forte apoio de Sartori, e por conseguir captar mais votos de Marina, é possível a vitória do mineiro no Rio Grande do Sul. Nos pampas, Aécio deve buscar 200 mil de diferença para conseguir esta frente de doze milhões de votos.
Em 2010, no Nordeste (atualmente 26,79% do eleitorado nacional), Dilma obteve 61,63% no primeiro turno. Neste ano, ela obteve 59,58% dos votos desta região. Comparando 2014 com 2010, a petista viu seu percentual crescer em cinco estados: Sergipe (+7%), Paraíba (+2%), Rio Grande do Norte (+9%), Ceará (+2%), e Piauí (+3%). Na Bahia, no Maranhão e em Alagoas, Dilma perdeu 1%. A grande diferença veio de Pernambuco, segundo maior colégio eleitoral da região (4,45% do eleitorado nacional), único estado em que ela foi derrotada, com a queda de 17%.
José Serra obteve um pouco mais de sete milhões e 600 mil votos, perdendo por uma diferença de quase onze milhões de votos para Dilma. Para resistir a esta avalanche, Aécio precisa conseguir oito milhões e meio de votos na região, tornando a diferença dela para Dilma girando na casa dos dez milhões.
Para conseguir isto, é fundamental o avanço do tucano em Pernambuco, estado onde ele contará com o apoio do governador eleito, Paulo Câmara, e da família Campos, que levaram Marina à vitória. Para alcançar sua meta, Aécio não precisa vencer em Pernambuco, mas necessita conseguir ao menos 40% dos votos válidos. É importante também que Aécio não permita um aumento considerável da vitória da petista na Bahia, maior colégio eleitoral do Nordeste (7,13%), devendo buscar ao menos um pouco mais de dois milhões de votos. Cumprindo esta tarefa, levará ao Norte uma margem de quase dois milhões de votos de diferença, e vencerá a eleição.
O que Aécio precisa fazer?
a) ter no mínimo 8 milhões e 500 mil votos no Nordeste;
b) confirmar amplo favoritismo em São Paulo, abrindo ao menos uma frente de 7 milhões e 500 mil de votos;
c) conseguir no Sul, Sudeste e Centro-Oeste uma frente de 12 milhões de votos, e para isto é preciso vencer em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul;
d) não perder por muito no Norte.
O mapa da mina de Dilma
Em 2010, Dilma venceu no Sudeste por um pouco mais de um milhão e meio de votos. Nesta eleição, é certo que perderá para Aécio no Sul, Sudeste e Centro-Oeste (em 2010, teve quase 300 mil votos a mais do que o tucano nestas três regiões). Para que o Nordeste absorva esta derrota, ela precisa amenizar as perdas.
Em São Paulo, Dilma precisa diminuir sua rejeição e impedir que Aécio lhe abra uma frente de mais de sete milhões de votos. O objetivo de Dilma deve ser impedir que o tucano abra uma vantagem maior do que onze milhões de votos no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Conseguindo isto, as chances de vitória da petista aumentam. Para isto, ela precisará vencer no Rio de Janeiro e em Minas Gerais e, dependendo do resultado paulista, também no Rio Grande do Sul.
Fazendo isto, Dilma poderá reverter no Norte e no Nordeste a vantagem conquistada por Aécio. Para conseguir ampla margem na região nordeste, ela precisa recuperar Pernambuco. Para obter uma vantagem de ao menos dez milhões e meio de votos no Nordeste, Dilma precisará vencer em Pernambuco por mais de 62% dos votos válidos. Se não conseguir isto, será difícil ter vantagem tão ampla na região quanto o desejado, devendo ter uma frente em torno de 9,5 e 10 milhões, precisando vencer no Norte por um milhão e meio de votos. Em 2010, ela venceu Serra por exatos 1.044.810 votos. Naquele ano, obteve no primeiro turno 49,23%. Em 2014, Dilma conseguiu em tal região 50,52% dos votos, devendo ficar com uma margem próxima da que conquistou em 2010.
O que Dilma precisa fazer?
a) impedir esmagadora derrota em São Paulo, não perdendo por mais de sete milhões de votos;
b) vencer em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul;
c) ter no mínimo 62% dos votos válidos em Pernambuco;
d) ampliar vantagem no Nordeste, conseguindo uma frente de mais de dez milhões de votos para o adversário;
e) manter vantagem no Norte.
Portanto, estamos numa disputa que se apresenta, na partida do segundo turno, como bastante acirrada. Todos os estados são importantes, mas há cinco batalhas fundamentais: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco.