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A pedalada de André Singer

por Daniel Lopes (15/10/2015)

Quem ainda se engana com o partidarismo travestido de expertise?

andre-singer

O status quo político brasileiro está podre. Isso inclui a classe política em si, mas também os mandarins na imprensa e na academia. Pelo PT ser o mais interessado na não ruptura desse status, os mandarins petistas são os mais conservadores.

André Singer, por exemplo. O partidarismo travestido de expertise do ex-porta voz de Lula ainda engana alguém?

Em sua mais recente entrevistona, à versão brasileira do El País, ele diz que o impeachment de Dilma colocaria em risco “30 anos de construção democrática e social”, e que PT, PSDB e PMDB deveriam entrar em acordo para evitar essa tragédia.

Ora, meu senhor, vamos e venhamos!

Desde quando a derrubada constitucional de um governo alucinadamente corrupto, incompetente e mentiroso faz mal a democracia alguma? Quer dizer que daqui a 10 anos, 20 anos, se um governo tucano ou de direita se eleger com dinheiro roubado de estatal e cometendo crime de responsabilidade fiscal, os Singers defte paíf vão ser contra o impeachment para preservar 40 ou 50 anos de avanços sociais e democráticos? Sei.

Em mais de uma coluna da Folha este ano, Singer disse que o Tribunal de Contas da União não pode embasar o fim do governo Dilma, “dado o caráter político do órgão”. Pouco importa que as pedaladas petistas tenham sido descobertas e esmiuçadas em centenas de páginas pelo corpo técnico do tribunal.

Como se vê, mesmo para os petistas aparentemente menos toscos, as instituições só podem ser levadas a sério de verdade quando referendam o projeto de poder petista – ou “vontade das urnas”, como dizem os exemplares democratas que se vangloriam de fazer o diabo para ganhar eleições.

Odeio me repetir, mas o que faz mal a democracias é a impunidade, não o fim de governos que o fizeram por merecer. Os acordões, a falta de justiça é que faz o eleitorado perder a fé em sistemas políticos, inclusive abrindo caminho para aventureiros.

Não sou da banca uspiana de especialistas em ciência política, mas peço que o leitor reflita por um minuto sobre essa realidade apoiada pelo bom senso e pela experiência histórica.

Daniel Lopes

Editor da Amálgama.

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