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Donald Trump é um ser humano inqualificável, como ficamos novamente sabendo nas últimas 24 horas.

John Podhoretz, Commentary
trad. Daniel Lopes

Há muitas razões para Donald Trump não ser presidente dos Estados Unidos que não têm nada a ver com seu temperamento. Suas ideias sobre comércio são contraproducentes e levariam a recessão. Sua adesão a soluções estatistas para nosso marasmo econômico mergulharia o país em um endividamento ainda maior que o atual. Seu isolacionismo nos deixaria menos seguros. Por incrível que pareça, isso chega a ser irrelevante. Trump tem ideias terríveis, mas Hillary Clinton também, e ter que escolher entre eles nesse campo é atroz.

Trump é inapto para ser presidente dos Estados Unidos – e isso desde que desceu por aquela escala rolante dourada em junho de 2015 – por razões que não têm a ver com suas políticas. Para colocar de forma simples, ele é um ser humano inqualificável, como ficamos novamente sabendo nas últimas 24 horas. Ele pega tudo em que toca ou quer tocar e reduz a um charco pornográfico. Não falo apenas da maneira como ele se referiu a uma mulher na gravação asquerosa relevada ontem, embora isto talvez tenha sido o peso que finalmente quebrou a coluna do camelo. Falo da maneira como ele se refere a todos e a tudo.

Ben Carson, diz ele, é um psicopata, por conta do crime intolerável de tentar vencê-lo na corrida pela presidência. O pai de Ted Cruz pode ter se envolvido no assassinato de John F. Kennedy, e tem uma esposa feia. Megyn Kelly foi dura com ele porque estava menstruada. Rosie O’Donnell parece uma porca.

O excesso pornográfico se estende às controvérsias que o ajudaram a asseguração a nomeação. Não basta dizer que a imigração é algo ruim para o país; não: os mexicanos que para cá vêm são estupradores e assassinos. Não basta dizer que muitos dos nossos centros urbanos estão inundados de violência, e que novas políticas são necessárias para eliminá-la; não: os negros vivem no Inferno. Não basta dizer que o ISIS é perigoso e que precisamos endurecer nossas normas de entrada; não: ele ventila banir todos os muçulmanos chegando aos Estados Unidos, mesmo os que já são cidadãos.

A comédia ridícula de republicanos e conservadores aderindo a este caluniador de milhões, este difamador de rivais, tem origem na presunção central de que ele fala sem medo como as coisas são e de que não se intimida com a correção política. Mas, para Trump, “politicamente correto” significa algo diferente do que o esforço para bloquear o debate de questões sensíveis por meio da intimidação de alguém que pise fora de limites estabelecidos. Trump parte do termo para aderir com alegria ao estereótipo e para rejeitar as nuances; para se vangloriar de usar as palavras mais caricaturais contra pessoas diferentes; para gritar com todo gás que você é um c**ão.

Sem dúvida, o esforço constante neste país para suprimir os caminhos do livre pensamento sobre os problemas que o assombram, por meio do sistema intimidatório do politicamente correto, nos ajudou a chegar ao estágio atual. Quando nossas autoridades culturais declaram ilegais os processos de pensamento, elas apenas redirecionam esses processos para o subterrâneo.

Ainda assim, o balanço geral que o povo americano e o partido Republicano terão que fazer depois de novembro (ou antes) não será apenas sobre a disposição de muitos no partido e no eleitorado em tolerar um sujeito desses por achar que fosse melhor que a alternativa, mas sobre o fato de acharem que ele fosse um tônico medicinal. Não é. Ele é um emético, e está prestes a ser vomitado.

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