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Relatório eleitoral: panorama de 120 cidades

por Vinícius Justo (03/10/2016)

Região por região, uma análise do primeiro turno da eleição 2016.

lula-1994

Fechadas e contadas as urnas, é possível comentar vários aspectos das eleições municipais de 2016. A grande manchete, sem sombra de dúvida, é o desempenho sofrível do PT, reduzido de um dos três grandes partidos brasileiros a partido médio sem quase nenhuma das grandes cidades brasileiras sob seu controle. Outros pontos que devem ser considerados são o crescimento do PSDB, especialmente em São Paulo, e as dificuldades do PMDB nas capitais em comparação com seu desempenho costumeiro no restante do país.

Este post fará um breve panorama de 120 cidades do Brasil. São as maiores cidades brasileiras, incluindo as 26 capitais, a maior parte das 67 cidades em que pode haver segundo turno, e outros municípios importantes em seus estados, como Marabá (PA), Sobral (CE), Juazeiro (BA), Macaé (RJ), Rondonópolis (MT), Foz do Iguaçu (PR), entre outros. A lista de municípios considerados está disponível neste link. Alguns municípios importantes não entraram na lista pois tentei representar as regiões do país de forma mais balanceada, evitando uma quantidade enorme de cidades paulistas, por exemplo.

Antes de tratar os resultados deste pleito, é necessário colocar os dados em contexto. O resultado agregado dos votos para prefeituras no primeiro turno em 2012, no conjunto das 120 cidades analisadas, está apresentado na tabela a seguir. O número de prefeitos obtidos em 2012 já leva em conta os resultados do segundo turno, que não foram acrescentados aos números da tabela para evitar distorções.

É visível a preponderância de PT, PSDB e PMDB no conjunto de 2012, além do crescimento do PSB. Outros partidos aparecem menores do que seu tamanho na Câmara de Deputados, como PP, PR e PSD. Isso se dá porque seus resultados em eleições para a Câmara dependem muito mais de municípios menores, a chamada capilaridade. Da mesma forma, os resultados de partidos como o PSOL e o PRB estão “inflados” devido às candidaturas competitivas nos maiores centros urbanos: Marcelo Freixo sozinho responde por 43,7% de todos os votos do PSOL nas 120 cidades em 2012; Celso Russomanno obteve 77,5% dos votos do PRB nesse grupo de municípios.

Para esta eleição, a expectativa de muitos era uma forte redução nos resultados eleitorais do PT, além de um aumento significativo da fragmentação partidária decorrente do surgimento de novos partidos (como Solidariedade, Pros, Rede e Novo) e do fortalecimento de legendas menores no Congresso. No entanto, a segunda tendência poderia não se apresentar de modo tão forte no conjunto das maiores cidades, pois esses partidos carecem de figuras com grande potencial de votos na maioria das eleições majoritárias em grandes centros urbanos.

Região Sul

Rio Grande do Sul

O PT já não vinha bem nas eleições municipais gaúchas, tendo conquistado apenas Canoas dentre as cidades aqui selecionadas. Desta vez conseguiu São Leopoldo e foi para o segundo turno com chances em Santa Maria, mas a expectativa de disputar Porto Alegre e outras cidades de modo competitivo foi frustrada pelo crescimento das candidaturas do PSDB e de outros partidos. E isso porque certamente o Rio Grande do Sul deu as melhores notícias de 2016 para o PT entre todos os estados brasileiros.

Os tucanos perdem São Leopoldo, mas têm muito a comemorar ao chegar na frente do primeiro turno em Porto Alegre, além de ganhar em Pelotas, Novo Hamburgo e Viamão. Enfrenta o PT no segundo turno de Santa Maria. O PMDB tenta segurar sua campanha na capital, mas contabiliza apenas Gravataí como vitória relevante no estado – uma péssima notícia para o governador peemedebista Sartori. Partidos menores bem-sucedidos foram o PRB, que disputará segundo turno em Canoas e Caxias do Sul (embora nesta cidade o favoritismo seja do PDT).

Santa Catarina

Talvez Santa Catarina seja o estado em que o PSD tem mais capilaridade, devido à dissidência no antigo PFL provocada pela família Bornhausen e o governador Raimundo Colombo. O PSD prossegue com alguns bons resultados, tendo mantido a prefeitura de São José e estando no segundo turno em Joinville e Blumenau. Mas em ambas vai com desvantagem, contra PMDB e PSDB respectivamente. Além disso, cedeu a chance de manter Florianópolis para o PP de Angela Amin e pode acabar vendo essa coligação ser derrotada pela união entre PMDB e PSDB.

Deve ser anotado o desempenho de Elson, do PSOL, na eleição para a capital catarinense, com 20,6% dos votos e desbancando Angela do PCdoB como maior força política da esquerda na cidade. Mas tanto o PT quanto o PCdoB carecem de relevância como representantes da esquerda em SC, enquanto o PSB é dominado pela tradicional família Bornhausen.

Paraná

O Paraná é outro estado em que o PT não tinha grande relevância, mas ainda assim o desempenho ruim assusta. Em 2012, teve boas votações em Londrina, Maringá e Cascavel. Desta vez não chegou nem perto de ter uma candidatura relevante, assistindo partidos médios e até nanicos emplacarem candidatos em várias cidades. O grande exemplo é o PMN de Rafael Greca, que acabou indo para o segundo turno de Curitiba com um candidato do PSD (Leprevost) e não contra o atual prefeito Fruet.

Nas sete cidades paranaenses analisadas, só Maringá e Ponta Grossa também terão segundo turno (entre PP e PDT na primeira e entre PPS e REDE na segunda, com boa vantagem para os primeiros colocados); o PSC conseguiu as prefeituras de Cascavel e São José dos Pinhais, o PSD com Foz do Iguaçu e o PP com Londrina. No geral, a novidade tem sido o crescimento do PSC no estado (projetando força para a eventual candidatura de Ratinho Júnior para o governo); no mais, há manutenção de grupos de poder locais tradicionais, especialmente em Londrina.

Região Sudeste

São Paulo

Delenda PT est. Esse é o mote das eleições municipais de 2016 em SP. No ciclo anterior, o PT conseguiu as prefeituras de seis dos sete maiores colégios eleitorais do estado, ficando no segundo turno da cidade restante (Campinas). Desta vez, só ficou a mínima chance de manter Santo André no segundo turno, que deve confirmar a vitória do PSDB. O partido de Alckmin já venceu em São Paulo, São José dos Campos, Santos, Piracicaba, Itaquaquecetuba e Mogi das Cruzes. Disputa o segundo turno tendo ficado em primeiro lugar em Santo André, São Bernardo do Campo (contra o PPS), Ribeirão Preto (contra o PDT), Jundiaí (contra o PSD) e Franca (contra o DEM). São Paulo manteve o PSDB no governo estadual por cinco mandatos seguidos, mas nunca deu tantas prefeituras importantes ao partido dessa forma.

O PSB também ajuda as pretensões de Alckmin ao disputar o segundo turno de Guarulhos contra o DEM, em Mauá contra o PT e ao garantir uma reeleição tranquila em Campinas, deixando o PT com pouco mais da metade dos votos de 2012. O PMDB se garantiu em São José do Rio Preto e São Vicente, e ainda tenta vencer o PPS em Taubaté. O PV conseguiu Carapicuíba e disputa segundo turno contra o PSD em Bauru e contra o PRB em Diadema. As cidades da região metropolitana de São Paulo abandonaram o vermelho.

Osasco tem uma disputa dura entre o ex-petista Lapas, do PDT, pela reeleição contra o PTN O PSD já garantiu sua prefeitura em Limeira, e o DEM tentará confirmar o favoritismo contra o PSOL em Sorocaba, única grande derrota do PSDB no estado após 20 anos de domínio.

Os percentuais de votos do PT caíram em todo o estado. Na capital, Haddad teve pouco mais da metade do resultado de 2012 e ainda viu a cria de Alckmin, João Doria, vencer no primeiro turno. Foi a primeira vez desde a existência de segundo turno, e Haddad não conseguiu vencer em nenhuma zona eleitoral da cidade. Marta também foi fragorosamente derrotada, mas ainda arrancou uma vitória magra em Parelheiros. Visto como renovação do PT, Haddad viu sua rejeição reverter em uma vitória emblemática de um PSDB controlado por Alckmin e com descontentes internos.

Rio de Janeiro

Antes de falar da capital, é bom deixar claro: o PMDB não perdeu espaço no restante das prefeituras fluminenses. Manteve Nova Iguaçu, perdeu Volta Redonda (segundo turno entre PRB e PV), mas compensou ganhando em Macaé, Belford Roxo e indo ao segundo turno em Petrópolis (contra o PSB) e em Duque de Caxias (contra o PTN), ambos em primeiro lugar. O PT perdeu Niterói, que terá segundo turno entre PV e PSB, e o clã Garotinho perdeu Campos para o PPS, que também vai disputar o segundo turno em São Gonçalo (contra o PRB). Em São João de Meriti o vencedor foi o PRB.

Mas tudo isso fica eclipsado pela derrota fragorosa de Eduardo Paes e seu protegido Pedro Paulo, ao não conseguir sequer segundo turno e tendo votação mais de quatro vezes menor do que em 2012. Responsável direta pela diferença total negativa de votos do PMDB nas 120 cidades analisadas, a candidatura Pedro Paulo naufragou contra Crivella e Freixo. O segundo turno entre PRB e PSOL promete, ainda que este tenha tido uma votação muito inferior à de 2012. O vencedor terá o desafio de gerir a segunda maior cidade brasileira e ser a maior figura de seu partido no país.

Espírito Santo

Fora Cachoeiro de Itapemirim, as outras cidades capixabas aqui incluídas terão segundo turno. Em Cachoeiro o PT não conseguiu sustentar a prefeitura, perdendo-a para o PSB e amargando a quinta colocação. Evitou lançar candidatura em Cariacica, apesar de quase chegar ao segundo turno em 2012 (desta vez PMDB e PPS disputarão). Em Serra o atual prefeito Audifax (REDE) enfrenta segundo turno contra o PDT. Vila Velha verá uma disputa entre PSDB e PSD, tirando as chances de reeleição do DEM. Por fim, a capital Vitória também viu uma redução brutal de votos do PT (de 18,4% para 3,5%) e o prefeito do PPS tenta a reeleição contra um desafiante do Solidariedade.

Minas Gerais

Com votação seis vezes menor em comparação com 2012, o PT nem chegou perto da disputa em Belo Horizonte. Assim como o PMDB. O segundo turno será entre João Leite (PSDB) e Kalil (PHS), dois nomes famosos do Atlético-MG. Um representa a continuidade, outro é o segundo maior representante da onda de outsiders de 2016 (perdendo apenas para Doria).

Nas doze cidades selecionadas, o PT do governador Fernando Pimentel não conseguiu vencer nenhuma e está em apenas um segundo turno; talvez seja o maior fiasco do partido fora do estado de São Paulo. O PMDB se deu bem em Sete Lagoas, Ipatinga e Uberaba, além do segundo turno em Juiz de Fora contra o PT. O PSDB de Aécio não foi tão bem, obtendo apenas Governador Valadares e o segundo turno contra o PCdoB em Contagem.

Em Uberlândia o PP derrotou o PT, que governava a cidade, com facilidade. De resto, os resultados mineiros enfatizam a fragmentação: vitórias de partidos menores por toda parte. Foi assim em Betim (PHS), Divinópolis (PROS), Montes Claros (PPS) e Ribeirão das Neves (PSC). Em todas essas o PT lançou candidato, mas não conseguiu ser competitivo.

Região Nordeste

Bahia, Sergipe e Alagoas

A continuidade em Salvador e Feira de Santana, além da obtenção de Camaçari, fortaleceu o DEM para disputar o governo da Bahia em dois anos. O carlismo finalmente conseguiu ressurgir liderado por ACM Neto, e mesmo a continuidade do PCdoB em Juazeiro e a entrada do PDT em Itabuna não contrariam a tendência. Em Vitória da Conquista, o segundo turno entre PMDB e PT é a última chance do partido do governador Rui Costa de salvar alguma coisa no maior colégio eleitoral do Nordeste.

Mas em Aracaju o DEM foi tirado da prefeitura; a capital sergipana verá um segundo turno muito disputado entre PCdoB e PSB. Em Alagoas o prefeito tucano tem vantagem sobre o desafiante do PMDB e deve se reeleger. Somando isso à vitória em Arapiraca, o PSDB pode sonhar com destronar Renan Filho em 2018 e terá mais um ponto de vantagem na briga interna da aliança federal entre PMDB e PSDB.

Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte

Campina Grande e João Pessoa decidiram pela continuidade. O PSDB prossegue no comando da primeira e Luciano Cartaxo foi reeleito na segunda, saindo do PT e entrando no PSD, o mais bem-sucedido dos ex-petistas que tentaram a reeleição neste ano. No Rio Grande do Norte, Mossoró viu o retorno político de Rosalba Ciarlini (DEM), ex-governadora, a reeleição de Carlos Eduardo do PDT em Natal e a entrada do PRB em Parnamirim. Novamente o PT ficou a ver navios, vendo inclusive a redução do número de votos de Mineiro em Natal para menos da metade de 2012.

Em Pernambuco o PSB do falecido Eduardo Campos ainda dá as cartas. Geraldo Júlio não foi reeleito em Recife por um tris, e o ex-prefeito João Paulo do PT deve se contentar com o segundo lugar. Em Olinda o PCdoB sofreu uma derrota histórica, ficando fora do segundo turno entre PSB, com Antônio Campos, irmão de Eduardo, e Solidariedade. A vitória de Miguel Coelho em Petrolina e a continuidade em Paulista fecham o rol de vitórias do PSB. As outras duas cidades incluídas aqui foram Jaboatão dos Guararapes (segundo turno entre PR e PDT) e Caruaru (segundo turno entre PMDB e PSDB).

Ceará, Piauí e Maranhão

A sopa de letrinhas não pode confundir no Ceará: os irmãos Gomes têm a precedência na política local e a mantiveram em Sobral (em que Ivo Gomes foi eleito) e em Fortaleza (PDT indo ao segundo turno contra o PR). Mas o PDT foi derrotado em Juazeiro do Norte pelo PTB e em Maracanaú pelo PR. Resta Caucaia, em que o PDT apoiou a candidatura do PMB e enfrenta segundo turno contra o PSDB. Dependendo do segundo turno, Ciro Gomes terá um pouco menos de vitórias do que o ideal para cimentar sua candidatura à presidência.

Teresina reelegeu Firmino do PSDB. Em São Luís, o atual prefeito saiu do PTC para ir ao PDT e enfrentará segundo turno contra o PMN em posição de favoritismo. Outra cidade maranhense, Imperatriz, troca de mãos: do PSDB (que nem lançou candidato) para o PMDB.

Região Centro-Oeste

O Centro-Oeste tem sido uma pedra no sapato do PT ao longo dos anos. Não seria diferente em 2016, ainda mais com três governadores tucanos e o processo de evitar ou não conseguir alianças com partidos como PMDB e PP. Um exemplo é Goiânia: o atual prefeito é petista, tendo sido eleito como vice de Iris Rezende (PMDB). A candidatura petista naufragou e o segundo turno será disputada pelo próprio Rezende contra o PSB. Em Anápolis, em que o PT venceu com 70% dos votos em 2012, é a única esperança no restante da região, enfrentando difícil segundo turno contra o PTB. Outras cidades relevantes de Goiás, como Aparecida de Goiânia e Rio Verde, viram vitória do PMDB, fortalecendo a pretensão de desalojar o grupo político de Marconi Perillo em 2018.

No Mato Grosso do Sul, PP e PSB serão substituídos em Campo Grande e Dourados, respectivamente. Na capital do estado, PSD e PSDB vão disputar quase 40% de votos válidos dados para outros candidatos, especialmente o prefeito derrotado do PP. Em Dourados a vencedora é do PR, por uma margem relativamente pequena contra a candidatura do PSDB.

A fragmentação se acentua em Mato Grosso: Rondonópolis ficará com o Solidariedade e Várzea Grande ficará com o DEM, saindo das mãos do PPS e do PMDB, respectivamente. A dúvida é Cuiabá, em que PMDB e PSDB irão disputar o espólio do candidato Procurador Mauro, do PSOL. Este foi bem ao conseguir quase 25% dos votos, mas mal se levarmos em conta que aparentemente herdou apenas metade dos votos que o PT teve quatro anos atrás.

Região Norte

Pouca coisa mudou nas capitais do Norte. O PMDB continua em Boa Vista, o PSB continua em Palmas e o PT continua em Rio Branco (todos reeleitos); o prefeito Clécio de Macapá vai ao segundo turno mesmo tendo trocado de partido (do PSOL para a REDE), assim como os atuais prefeitos tucanos de Manaus e Belém, desafiados pelo PR e pelo PSOL respectivamente.

Em outras cidades relevantes do Pará, o PSDB conseguiu se manter em Ananindeua, mas cedeu Santarém ao DEM. Já em Marabá, o PTB chega ao governo para substituir o atual prefeito, que saiu do PPS para ir ao PROS (ambos os partidos apoiaram o PTB nesta eleição).

Balanço final

Antes de mais nada, vejamos uma tabela idêntica à anterior com os dados agregados de 2016, mas dessa vez incluindo os futuros segundos turnos à parte:

A maior derrota da história do PT

A redução brutal do número de votos válidos é evidente, mas não conta toda a tragédia. A votação foi apenas 37,26% do obtido em 2012, mas naquela eleição o PT conseguiu 22 prefeitos. Caso opere o milagre de vencer todos as disputas de segundo turno daqui a quatro semanas, o partido chegaria a apenas oito prefeituras dentre as 120 analisadas. Mas é muito mais provável não conseguir nenhuma do que conseguir todas. Em termos de votação, o PT ainda teve o tamanho do PSB. Em termos de sucesso eleitoral (ou seja, obter prefeituras), caiu para o tamanho do PPS. É um derretimento histórico, sem precedentes de que eu possa me recordar no mundo ocidental.

O símbolo dessa derrocada não é Haddad exatamente: este tinha problemas específicos e seu mapa de votação demonstra como nunca dispôs da tradicional (ainda?) base petista em São Paulo. O melhor exemplo são candidaturas como as de Raul Pont em Porto Alegre ou de Eloi Pietá em Guarulhos: a aposta no recall de ex-prefeitos pretendia reduzir as perdas do partido, mas acabou enfatizando e intensificando a comparação com tempos melhores do PT.

Agora, de volta a um tamanho que não tinha desde os anos 90, o PT corre o risco de observar mais uma rodada de desfiliação em massa. Ficou evidente que alguns políticos poderiam ter tido resultados melhores se não estivessem com a marca da estrela vermelha: o sucesso de Luciano Cartaxo em João Pessoa pode ser a senha para isso. Se os políticos conseguirão evitar que a associação prévia ao PT ainda contamine suas chances eleitorais (o que aparentemente ajudou a derrubar a candidatura de Marta em SP), essa é uma questão provavelmente melhor respondida localmente.

PMDB, estabilidade

O padrão do PMDB foi de estabilidade, mas o resultado da Cidade Maravilhosa vai perturbar o partido por muito tempo. Eduardo Paes sai muito enfraquecido desta eleição, mas o PMDB conseguiu se segurar em muitos lugares, e compensou outras perdas com novos ganhos. O problema é que as tentativas de estabelecer bases sólidas nos maiores centros fracassaram de modo retumbante em São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte e há boas chances de não vencer em Porto Alegre, deixando os aliados em situação melhor nas maiores capitais.

Mas o forte do PMDB sempre foi a capilaridade, e esta não parece ter sido comprometida. O que pode apresentar o dilema geral do PMDB: mesmo no governo federal, o partido falha ao apresentar o protagonismo de seus grandes nomes no cenário. Eduardo Paes já foi cogitado à Presidência e não consegue fazer seu sucessor mesmo com muito mais recursos que os adversários; outros grandes nomes do partido, como Marta, Requião e Calheiros não obtiveram muito sucesso também. Resta o poder dos diretórios de médias e pequenas cidades para eleger deputados em um Congresso cada vez mais fragmentado e desorganizado. O PMDB é uma árvore gigante que não dá frutos.

PSDB e Alckmin

A eleição de Doria, o sucesso no resto do estado de São Paulo e a timidez dos ganhos de outros caciques tucanos (especialmente Aécio), combinados ao surgimento de novas lideranças em potencial (como Marchezan Jr. em Porto Alegre, a depender do resultado no segundo turno), deixam Geraldo Alckmin em excelente situação para lançar sua candidatura à Presidência em 2018. À diferença de 2006, em que a sombra de Serra ainda era muito forte e as ambições futuras de Aécio e outros nomes pareciam pesar, Alckmin alcançou uma musculatura invejável para concorrer em dois anos.

Mas Alckmin pode acabar sendo o arquiteto do próprio fracasso. Um fator importante na votação de Doria em SP foi o perfil outsider do prefeito eleito. Alckmin, apesar de sua força no interior paulista, é um representante da política tradicional, além de provavelmente ter alguma dificuldade com o eleitorado fora de São Paulo. Se algum outro outsider se animar para tentar a Presidência, como Joaquim Barbosa ou alguém ainda fora do radar, Alckmin acabará como os rivais de Doria, incapaz de se diferenciar dos outros políticos. A conferir se o J. Pinto Fernandes que pode surgir para 2018 fará sua aparição.

Outros fatores

A manutenção da força do PSB em Pernambuco e em outras cidades o projeta como aliado preferencial para voos nacionais. Depois da perda de Eduardo Campos, o PSB ficou acéfalo e sem rumo, mas pode conseguir cavar uma vice-presidência ou ainda ser o recipiente de uma candidatura competitiva novamente, após Marina em 2014.

As eleições de Rio e Belo Horizonte serão fundamentais. Nesta última, uma vitória de Kalil pode consolidar a percepção de que apostar em um outsider é a melhor forma de chegar ao governo federal. No Rio, o partido vencedor mudará de status: o PRB pode finalmente se consolidar como força de projeção nacional com Crivella; o PSOL pode emergir como o herdeiro preferencial do PT, mas a que preço?

A Rede Sustentabilidade de Marina não logrou muito êxito e permanecerá nanico, dificultando as pretensões presidenciais da ex-senadora. Por outro lado, ficou nítido que o campo de esquerda que se pôs decisivamente contrário ao impeachment de Dilma Rousseff foi penalizado nas urnas. A Rede precisa recomeçar o trabalho tendo isso em mente. Do lado direito, o Partido Novo conseguiu quatro vereadores em grandes cidades. Isso pode ajudar no crescimento do partido, mas suas limitações ficaram também mais claras. Sem capilaridade, é uma espécie de PSTU liberal-conservador com mais apoio.

Não houve um grande beneficiário da derrocada do PT, exceto pelo PSDB em São Paulo. Os resultados municipais apontam para continuidade do processo de fragmentação partidária, tornando urgente para os maiores partidos a promoção de uma reforma política capaz de concentrar mais a votação.

Vinícius Justo

Mestre em Teoria Literária pela USP.

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