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Venezuela: o assassinato do referendo por milicos vulgares

por Amálgama Traduções (24/10/2016)

Agora, nós venezuelanos estamos diante do maior dilema de nossas vidas.

Gregorio Salazar, Tal Cual
trad. Daniel Lopes

Finalmente, o mundo tem agora diante de seus olhos a verdadeira face, a autêntica essência do que se pregou com fanfarronice por mais de 15 anos como a “revolução bonita” de Hugo Chávez, um projeto humanista e democrático que deveria “refundar o país” e produzir “o novo homem”. E essa face veio revelar nada mais que os velhos traços do militarismo de sempre, o mesmo golpismo de sempre, o mesmo fascismo cujos frutos nefastos renderam tantas horas amargas para a humanidade, em várias épocas e latitudes.

Em poucas horas da tarde da quinta-feira 20 de outubro, cinco juizinhos obscuros e prostrados diante de seus amos cercearam a possibilidade do povo venezuelano expressar sua vontade de mudança por meio de um referendo que, sem margem a dúvidas, culminaria com a revogação do mandato do governante mais estúpido, insensato, despreparado e antinacionalista de toda a história da Venezuela. Apenas a coleta massiva já diria ao mundo que o governo da Venezuela está órfão de qualquer apoio popular.

A ativação do dispositivo fraudulento deixa clara a orquestração militar na base de sua execução: tanto pela sincronia, como pelo protagonismo de três governadores militares que, por mais que usem roupas civis, jamais tiraram da cabeça a concepção de quartel e tropa que têm da vida e do funcionamento da sociedade.

Nos outros dois estados, governam civis. Aragua é o principal bastião militar do país e local da gestação golpista de fevereiro de 1992. O civil que o governa é conhecido por seu radicalismo delirante. No quinto estado, governa uma mulher, mas na verdade quem manda é outro chefe de tropas, alguém que, pelo simples fato de ter nascido neste estado, o considera como seu pequeno reino. Claro, não foi casual que este personagem se encontrasse na região no exato momento em que se produziu a sentença que declarou ilegal a coleta de 1% das assinaturas em Monagas.

Os autores deste golpe militar sem canhões não deixaram nada ao azar. Carrizales (Apure) e Cabello (Monagas) estão entre os adeptos mais intransigentes e recalcitrantes do regime, e se vangloriam de serem herdeiros do “grande legado” de Chávez, na verdade uma grande tragédia social que hoje acomete 30 milhões de venezuelanos. Eles acreditam que, virando a mesa e pisando na Constituição, produzem um gesto heroico que os levará ao Altar da Pátria. Na verdade, nem acreditam nisso, apenas fingem, porque esse é o grande palco de que precisam para manter a farsa viva.

O nefando Conselho Nacional Eleitoral também atuou com precisão militar. Suas dirigentes reconheceram a sentença em tempo recorde e anunciaram que a coleta de assinaturas que deveria ocorrer nos dias 26, 27 e 28 estava suspensa e, com ela, qualquer esperança de realizar ainda este ano o referendo revocatório que removeria do poder o governo de Nicolás Maduro, o mesmo que mantem os venezuelanos em meio à maior crise humanitária em tempos de paz de que se tem memória.

A centelha cujo brilho mantinha nos venezuelanos a esperança de uma saída desse desastre nacional rápida mas pacífica, ordenada e democrática, se apagou, sufocada pela bota dos milicos. Agora, nós venezuelanos estamos diante do maior dilema de nossas vidas: escolher entre a possibilidade de forjar um futuro de liberdade, oportunidades e superação em todas as esferas da vida para as futuras gerações de venezuelanos, ou chafurdar no chiqueiro revolucionário, aquela réplica do mar de felicidade que é Cuba e que nos foi oferecida pelo finado caudilho, em meio à mais abjeta miséria e submissão.

Deste lance inconstitucional, o governo não sai nem fortalecido, nem permanece com qualquer resíduo de prestígio ante a comunidade internacional, da qual com certeza virão resoluções. Esperamos que os líderes da oposição ajam com serenidade e acerto. O povo é sábio, e com o passar dos dias saberá perfeitamente o que tem que fazer.

Amálgama Traduções

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