Se você está disposto a calar seus adversários, já admitiu que o procedimento de silenciamento é adequado.
Judith Butler vem ao Brasil e os valorosos soldados da Guerra Cultural querem impedi-la de falar. Bravos, corajosos, defensores da civilização ocidental – civilização que não resistiria a uma palestra de duas horas no SESC.
Admiro esses bravos soldados. Não pela coragem, mas pelo esforço tremendo que fazem para sentir-se íntegros e coerentes.
Porque, afinal, esses são os mesmos soldados que rasgam as vestes e denunciam aos quatro cantos do mundo quando é o Olavo de Carvalho (ou o filme sobre ele) que não tem espaço em locais e eventos públicos.
São os mesmos soldados que denunciam a “intolerância dos intolerantes” quando figurinhas da direita americana, como Ben Shapiro e Milo, são impedidos de falar em universidades de elite.
São soldados que acham que a única forma de vencer uma dita “Guerra Cultural” é proteger a humanidade dos discursos que não concordam.
Mas aqui está o problema: se você está disposto a calar seus adversários, já admitiu que o procedimento de silenciamento é adequado. A dúvida agora é sobre quem silenciar – e, sim, podem ser os conservadores os próximos alvos.
Que ditos “liberais” tenham se juntado ao coro reacionário para calar Judith Butler é só um sinal do baixo nível político do Brasil. E também um sinal de um defeito intelectual – para não dizer moral – em parcela importante do “liberalismo” brasileiro.
Mas e a Guerra Cultural? Não é importante? Claro que é: é importante para que pessoas de preparo intelectual questionável se sintam famosas e prestigiadas ao pregarem para pessoas ainda menos preparadas do que elas.
Então já sabem, não é? Vocês podem até calar a Judith Butler. Mas não vão ficar chorando no quarto quando Olavo ou Bolsonaro forem os próximos.
Horacio Neiva
Mestre em Teoria do Direito pela USP.
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