Dramaturgia inglesa a preço de banana

-- Cena da peça "Amigos Ausentes" --

por Larissa Saram * – Imagine que a namorada do seu melhor amigo morreu. Imagine agora que você não vê esse seu amigo há anos e que ele resolveu te fazer uma visita. O que dizer?

É a partir desta embaraçosa situação que se desenrola a comédia dramática “Amigos Ausentes”, do autor inglês Alan Ayckbourn, vencedor dos prêmios Tony Award, nos Estados Unidos, e Laurence Olivier, na Inglaterra. Ayckbourn escreveu mais de 70 peças e hoje é considerado um dos mais importantes dramaturgos vivos do Reino Unido.

Montada pela primeira vez em 1975, a peça consegue manter-se atual, mais de 30 anos depois de escrita, e aborda a deterioração do relacionamento entre um grupo de amigos de classe média.

Colin é o rapaz que perdeu a noiva. Diana, sua amiga de adolescência, decide organizar um chá para homenageá-lo e prestar-lhe algum consolo. São convidados para a reunião o marido de Diana, o ocupado Paul; o casal formado pelo inquieto John e pela mal-humorada Evelyn; e Marge, que vive preocupada com o sempre doente, e ausente, Gordo, seu marido.

A espera por Colin gera tensões. Reunidos no jardim, os convidados inventam desculpas a todo o momento, ninguém quer passar por uma situação constrangedora, e o antigo amigo começa a se transformar num verdadeiro problema – para não dizer estorvo. Na verdade, ninguém queria estar ali.

Quando Colin chega para o chá a tensão contrasta com o seu ar excessivamente alegre. Ao perceber que seus amigos estão com problemas enrustidos, Colin oferece conselhos do tipo auto-ajuda, o que, é claro, gera um climão. Um a um os personagens, que no começo eram gentis e delicados, vão revelando suas verdadeiras essências e escancaram suas mágoas uns com os outros. A reunião revela que o grupo não está unido apenas por laços sentimentais: dependência, comodismo e infidelidade revestem suas relações, sustentadas pela aparência.

“Amigos Ausentes” é um retrato fiel da sociedade contemporânea, que não tem mais tempo de cultivar a fraternidade e tem suas vidas baseadas em ego, sexo e negócios.

Impossível assistir e não se reconhecer em algum personagem, ou encontrar ali uma tia ou o pai de uma amiga. Apesar desta triste comprovação, é fácil rir das situações expostas no palco, que, não raro, ganham pitadas de humor negro.

O bom entrosamento dos atores garante a fluidez da trama – inclusive nas diversas cenas de silêncio –, e esse fator se deve ao longo convívio dos artistas. A peça ficou uma temporada em cartaz no 12º Cultura Inglesa Festival, em 2008, e em seguida realizou apresentações no Espaço Parlapatões, na praça Roosevelt, também em São Paulo, e agora retorna ao palco paulista até 28 de novembro.

É possível assistir a encenação por módicos R$10 (R$5 a meia entrada) ou por meio do projeto Vá ao Teatro. O preço popular, além de incentivar a ida ao teatro, parece ser mais uma forma de levar as pessoas ao abandonado Arthur Azevedo, que fica na Mooca. A capacidade e a acústica são ótimas, mas as paredes e as demais instalações gritam por reformas.

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SERVIÇO:
Amigos Ausentes
Onde: Teatro Arthur Azevedo, Av. Paes de Barros, 955 – Mooca / SP.
Quando: Sextas e Sábados21h / Domingos19h. Até 28 de novembro de 2010.
Quanto: R$10 (R$5 meia)

* Larissa Saram, São Paulo-SP, jornalista e pós-graduanda em jornalismo cultural pela FAAP.



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