A estratégia das lideranças petistas e de seus aliados pagos e voluntários para desviar a atenção de evidências cada vez mais contundentes.
Desde que Lula apareceu chorando na TV pedindo desculpas por seus companheiros que o haviam “traído”, o PT tem se notabilizado por conseguir driblar as repercussões dos cada dia mais frequentes e escabrosos casos de corrupção envolvendo figurões do partido. O “eu não sabia” de Lula foi passado para Dilma, de modo que mais de uma década depois o país continua no mesmo suspense, agora no escândalo do Petrolão: sabiam ou não sabiam? Eis a questão.
Quem acompanha o noticiário diariamente lembra muito bem dos esforços de Lula para tentar barrar as investigações, tanto no Congresso (nas duas CPIs criadas e esvaziadas para investigar a Petrobrás) quanto nas demais instituições com prerrogativa constitucional de investigação, ao mesmo tempo que o governo insiste, na cara de pau, em tentar vender a ideia de que as investigações só acontecem “porque o governo manda investigar”.
No caso do Mensalão, Lula chegou a tentar chantagear o então presidente do STF Gilmar Mendes para adiar o julgamento, insinuando que este teria algo a esconder por ter viajado com um condenado por corrupção. No caso do procurador Roberto Gurgel, Lula chegou a alertá-lo, em público, sobre uma possível “castração de poderes” da Procuradoria Geral da República, caso a instituição não tivesse o devido “cuidado” com as biografias dos investigados.
Portanto, é muito cínica a tentativa do governo de querer pegar carona nas investigações da Polícia Federal, com o discursinho eleitoreiro de que não “engaveta investigações como em outros governos” e que tem todo interesse em que tudo venha à tona. Não tem. Nunca teve. E tem tentado várias manobras nos bastidores para se safar das evidências cada dia mais contundentes que vão surgindo.
A estratégia do governo é clara. Ele trabalha em quatro frentes. Na primeira, tenta pegar carona na investigação dizendo que estão “passando o país a limpo”. Na segunda, tentam reforçar a tese de que tudo isso sempre existiu. Na terceira, tentam incriminar partidos da oposição. Na quarta, tentam desqualificar os investigadores, a começar pelo juiz Sérgio Moro e se estendendo aos policiais “tucanos” que participam das investigações, como se não houvessem também petistas na PF e como se hoje fosse possível ser totalmente imparcial nesta guerra em que o PT jogou o Brasil.
De forma indireta, através de colunistas aliados e da sua rede de blogueiros pagos, o governo tenta relembrar e super dimensionar escândalos de corrupção de governos anteriores, listando rankings dos maiores escândalos de corrupção do país onde a tal “privataria tucaca” aparece em primeiro lugar disparado com um total de recursos desviados na casa dos R$ 100 bilhões!
De onde eles tiraram este fabuloso valor não importa. O que importa é preparar o terreno para que, caso as investigações do Petrolão continuem a inflar os bilhões já comprovados, mesmo assim continue ainda muito distante do primeiro lugar. Claro que tal balela não aparece nas colunas dos jornalistas aliados do PT na grande imprensa (pois se chegassem a este ponto seriam ainda mais desmoralizados), mas nas redes sociais proliferam livremente.
Nesta estratégia de banalizar a canalhice atual, Ricardo Semler publicou um artigo na Folha com o título “Nunca se roubou tão pouco”, onde ele chega a citar a evasão de R$ 1 trilhão do Brasil através de empresários que vão se esbaldar em Miami. De onde ele tirou esta quantia também é um mistério. O importante é juntar tudo, colocar num saco e relevar o caso do Petrolão.
O que chama mais atenção no artigo do Semler é justamente o fato dele se apresentar como um tucano — afinal, além de Bresser Pereira, tal migração ideológica não é algo que se vê todo dia. Na direção contrária, sim, é muito comum. Aliás, vários ex-fundadores do PT não só abandonaram o partido como votaram na oposição nas duas últimas eleições (repito, “ex-fundadores do PT” e não simplesmente pessoas que se dizem de um partido com o claro objetivo de favorecer o adversário). Nesta longa lista, que inclui figuras ilustres como Fernando Gabeira, Hélio Bicudo, Cristovam Buarque, entre outros, a última foi Sandra Starling, que não aguentou mais ver a cara de pau do seu partido ao fazer tudo que criticava quando era oposição.
Portanto, se não fosse este detalhe do “tucano” (repetido mais de uma vez no artigo, vale salientar), os argumentos do Semler estariam no mesmo patamar do que já estamos acostumados a ver no dia a dia dos colunistas partidários do PT.
Mas nada mais me surpreende na política. Quando li o texto da Folha lembrei imediatamente da até pouco tempo combativa senadora Kátia Abreu surpreendendo todo o meio político ao declarar voto na Dilma. Passadas as eleições, hoje já sabemos o porquê de tão brusca migração ideológica: a indicação para o Ministério da Agricultura. Se este é o caso do Semler ainda não temos como afirmar. Mas o fato é que tal discurso apareceu logo depois de uma reunião de dez horas entre Dilma e Lula. Coincidência? Pode ser, mas as falas do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, seguem na mesma sintonia. Na última sexta-feira, por exemplo, ele apareceu novamente para falar da “corrupção cultural” no Brasil, onde fez questão de citar nossa tradição de confundir o público e o privado desde a época da colonização. Depois foi além e chegou a dizer que qualquer síndico superfatura.
O que ele quer dizer com este discurso? Claro, se existe uma cultura de corrupção, então tudo é permitido, tudo é perdoado. Os governantes não precisam dar exemplos. E este é o ministro da Justiça e futuro ministro do STF, que, a exemplo de Dias Toffoli, poderá julgar os políticos indiciados no esquema do Petrolão daqui a alguns anos.
“Petrolão Tucano”
Da mesma forma que no caso do Mensalão, quando os petistas transformaram um esquema de corrupção do PSDB mineiro em um “contraponto” ao escândalo nacional envolvendo toda a cúpula do partido do poder, mais um vez o PT tenta criar um contraponto ao Petrolão. Em artigo publicado na Carta Maior, Antônio Lassance já fala em “Petrolão Tucano”, baseando-se no suposto recebimento de propina pelo falecido Sérgio Guerra para esvaziar a CPI da Petrobrás. Não vou colocar minha mão no fogo por Sérgio Guerra, mas vou citar quatro pontos que me deixam muito intrigado nesta história.
Primeiro, a forma como este suposto envolvimento veio à tona. Lembro bem porque dois dias antes da “bomba” do envolvimento do PSDB estourar, o PT já alardeava que tinha uma carta na manga que curiosamente veio a ser divulgada justamente no dia de um dos debates entre Dilma e Aécio.
O segundo fato estranho deste caso é que tal acusação partiu de Leonardo Meirelles, o testa de ferro do doleiro Youssef, que já tinha prestado depoimento antes e não tinha citado tal pagamento de propina ao Sérgio Guerra. Por que resolveu falar depois e ainda passar tal informação em off para o PT surpreender Aécio no debate do SBT é ainda um mistério. Mas certamente quem conhece o histórico do PT de agir nos bastidores para criar dossiês falsos pode imaginar. Claro que se Paulo Roberto Costa também citar Sérgio Guerra a tese de que este teria recebido a propina se fortalecerá, mas por enquanto não surgiram provas concretas que comprovem tal acusação.
O terceiro ponto é que o próprio doleiro Youssef negou que tenha tido qualquer contado com Sérgio Guerra, chegando inclusive a propor uma acareação com Meirelles. A negativa do juiz Sérgio Moro a tal acareação deu discurso aos petistas que alardearam que este está trabalhando para o PSDB, mas é importante observar que o advogado de Youssef, Antônio Figueiredo Basto, que também pareceu alinhado ao PSDB ao negar a acusação de Leonardo Meirelles, é o mesmo advogado que foi citado pelos petistas nas redes sociais negando que seu cliente teria prestado o depoimento que teria servido de base para a reportagem da Veja que afirmava que Lula e Dilma sabiam da corrupção na Petrobrás.
O quarto ponto estranho do suposto suborno de Sérgio Guerra é que a CPI da Petrobrás, que teria sido o motivo da propina, era formada por sete governistas e três oposicionistas. Portanto, o governo tinha amplo domínio, de modo que não havia qualquer motivo lógico para tal suborno — afinal os três foram tratorados em todas as votações.
Ainda na estratégia de tentar colocar a oposição na mesma lama, o PT tem usado as redes sociais e seus blogueiros para acusar Aécio Neves de ter recebido dinheiro do esquema. Na verdade, tal estratégia marota tenta confundir doação de campanha com dinheiro do esquema de corrupção. Infelizmente, Aécio não tem feito jus ao papel que lhe foi conferido pelas urnas, pois resolveu sumir justamente em uma semana movimentada. Talvez não seja tão inocente quanto eu gostaria que fosse. De qualquer forma, pelo que conheço do PT e pelo que vi de Aécio até aqui, custo a acreditar nesta tese.
Veja
No seu esforço de contra-informação, o governo trava uma batalha particular com a revista Veja. A polêmica edição da véspera das eleições que afirmava que Lula e Dilma sabiam do Petrolão colocou ainda mais lenha na fogueira.
Como era de se esperar, dias depois o PT armou uma ofensiva para desqualificar a revista e colocar em cheque a reportagem. O caso foi bem relatado por Reinaldo Azevedo, mas certamente muita gente engoliu a operação de contra-informação montada pelo PT que ganhou as manchetes dos jornais de todo o Brasil, mostrando o advogado do doleiro Youssef negando que seu cliente teria dado um “depoimento de retificação” no dia 22, o que foi repercutido nas redes sociais e em boa parte da imprensa como se a revista Veja tivesse inventado tal depoimento.
No entanto, em nenhum momento a revista se referiu ao tal depoimento do dia 22, que de fato não existiu. Este surgiu do nada em uma nota não assinada no jornal O Globo — desmentida pelo próprio jornal no dia seguinte. Ou seja, alguém com um perfil ideológico claramente alinhado ao PT plantou uma notícia falsa no Globo; com base nela, interrogaram o advogado do doleiro e este simplesmente negou que o tal depoimento tivesse ocorrido, como era de se esperar. Pronto! Foi o suficiente para que Veja fosse “desmascarada”, segundo os critérios petistas.
Acontece que, com uma “calúnia” tão grave, o mínimo que se poderia esperar do PT era que processasse a revista para receber uma indenização milionária que quebraria as pernas do órgão de imprensa. No entanto, o PT se contentou com um direito de resposta pífio no site da revista concedido às vésperas da eleição.
Por que não foi adiante? Certamente porque o partido sabe que Veja tem como comprovar a fonte da reportagem, caso seja necessário chegar às últimas consequências em um tribunal. Neste caso, é politicamente mais lucrativo deixar o burburinho no ar, jogar para a torcida e apostar que a militância nas redes sociais faça seu trabalho sujo de sempre.
Mas Veja não se intimidou, nem mesmo com o corte de verbas publicitárias do governo, usada para amaciar os demais veículos. Já na semana seguinte, a revista publicou outra capa, agora mostrando um pouco da contra-ofensiva do PT para se safar do Petrolão: mirar no juiz Sérgio Moro, que conduz a operação Lava Jato. Assim como Joaquim Barbosa e Roberto Gurgel se tornaram alvos do PT no processo do Mensalão, Moro tem sido desconstruído nas redes sociais, sendo acusado de afrouxar no caso do Banestado e de agir politicamente no caso do Petrolão. O PT usa sua velha tática de apostar na polarização para jogar uma cortina de fumaça no caso em si.
Esta semana, Veja deu outro golpe no PT, ao publicar reportagem de capa que traz um e-mail do Paulo Roberto Costa, de 2009, endereçado à então ministra Dilma Rousseff, solicitando uma “solução política” para evitar a paralisia das obras superfaturadas que o TCU tinha apontado nos últimos três anos. Desde 2007 o TCU apontava irregularidades nas obras da Petrobrás, e os alertas foram todos desconsiderados pelo governo. A coisa chegou a tal ponto que Lula vetou parecer do Congresso que seguia as mesmas orientações do TCU.
Mas o desinteresse do governo do PT em combater a corrupção não ficou por aí. A chamada Lei Anticorrupção, aprovada no Congresso logo após as manifestações de junho, não foi regulamentada pelo governo. E por que não foi regulamentada? Simples. A lei prevê a responsabilização de empresas em casos de corrupção. Portanto, regulamentá-la seria o mesmo que colocar na berlinda as grandes empresas amigas do rei, algumas das quais contam com o lobby da presidência da república para construir portos, aeroportos, usinas hidrelétricas e obras de grande porte em outros países, financiadas a juros subsidiados do BNDES com prazos a perder de vista. Alguém lembra das andanças de Lula pela África fazendo lobby para as tais construtoras? Ou de Dilma em um dos debates tentando justificar as grandes obras em Cuba com uma suposta geração de empregos nas mega-empreiteiras?
Pois é, as mesmas empresas que agora foram pegas na operação Lava Jato. Mais um forte indício de que tanto Dilma quanto Lula sabiam muito bem de tudo que acontecia na Petrobrás e, na melhor das hipóteses, recusaram-se a dar um basta na farra ao vetar o pareceres do TCU e ao não regulamentar a Lei Anticorrupção. Ambas as ações prejudicariam quem eles sempre trabalharam para beneficiar.
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André Martins
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Helton
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Guilherme Silva Araújo
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Glauco Lima