O romance é um dos melhores da nova literatura policial brasileira.
O porto-alegrense Luis Dill nasceu em 1965 e é um dos mais prolíficos autores do País, com mais de 40 livros no currículo e diversas indicações e prêmios. Só neste ano, publicou incríveis seis (!!!) volumes, de todos os tipos, para todos os públicos. Tal variedade talvez o impeça de ser rotulado – o que o faz, também, um dos mais diversificados escritores do Brasil.
Ao constatar, no cardápio de títulos, alguns romances policiais, decidi degustar. E a surpresa não podia ser maior: Safári, publicado pela Rocco, foi uma das melhores experiências da literatura policial brasileira que experimentei neste ano.
O romance curto tem longo alcance – como a arma utilizada pelo protagonista para abater marginais na Vila da Fumaça, onde o romance se desenrola. Temos, nesse microcosmo, um escritório de advocacia com personagens bem delineados: Arnaldo Sándor, dono do negócio; Geraldo Delvecchio, advogado cadeirante e sardônico; Hortênsia Lenzi, sensual e instigante; e Murilo Marques, advogado de carreira ascendente, noivo da filha do patrão, Francisca Sándor. Eles transitam no ambiente asséptico do escritório com ar-condicionado, roupas caras, móveis planejados e frieza calculada, enquanto lá fora o mercado de drogas corre livremente nas esquinas.
Alguns desses marginais começam a ser abatidos por tiros de uma arma poderosa, como se alguém os caçasse. Entra em cena um investigador da Polícia Civil, Ronaldo Querubim.
Contada em duas vozes alternadas, vamos conhecendo o desenrolar da história em tempo real e na cabeça do assassino, que nos conta um pouco sobre sua vida. O romance funciona magistralmente por conta desse artifício, que nos empurra para o próximo entrecho com a expectativa da ação do assassino enquanto acompanhamos os dramas dos personagens. Pontas soltas devem ser costuradas na cabeça do leitor.
O resultado final, do romance como um todo e da conclusão, não podia ser melhor, já que estamos no Brasil – e eu acho isso muito interessante. A literatura policial está em alta por aqui – com nomes como Raphael Montes e Roger Franchini, para citar apenas dois autores –, e tenho dito sempre que devemos nos livrar dos padrões do romance policial americano ou inglês para criar uma identidade própria, nacional, para o gênero. Nesse sentido, Safári é um excelente exemplo.
Pingback: Entrevista com Luís Dill da Rádio FM Cultura | literaturapolicial.com()