Por que o Ocidente é melhor

Podemos discutir causas e consequências, podemos discutir o que deve ser feito, mas apenas porque vivemos na civilização, não na barbárie.


bush-kerry

Li nos últimos dias a nova coletânea de crônicas do João Pereira Coutinho, Vamos ao que interessa. E o que interessa? Há crônicas para todos os gostos, mas talvez o que una os textos sobre arte e cinema às análises da questão judaico-palestina seja uma única questão: que deve fazer a civilização diante da barbárie? Diante da barbárie da arte, da barbárie da ética. E diante da barbárie do terrorismo.

De novo, um ataque terrorista em Paris. Agora, sem “charge islamofóbica”. Mas agora, com o número de vítimas chegando à casa das centenas. É difícil explicar o terror, e é mais difícil ainda explicar o que se passa na cabeça de um terrorista. Estamos tão acostumados com a civilização que simplesmente não conseguimos entender a barbárie. E qual é a principal característica da civilização? Dizem por aí que é a democracia, o respeito aos direitos humanos, ao pluralismo e à tolerância. Ouso discordar: o traço mais característico de uma sociedade civilizada é não levar as coisas tão a sério, é uma saudável falta de compromisso com nossos próprios valores. Não levamos nossas religiões tão a sério, não levamos nossas ideologias tão a sério. Brigamos, é claro, e discutimos, e discordamos. Mas não, não matamos por isso.

Não reconhecer que há aqui um traço não só distintivo, mas valioso e superior, é abrir as portas à barbárie. Porque não estamos dispostos a matar pela causa — mas eles estão. Podemos discutir as causas da ascensão do ISIS, os resultados desastrosos de intervenções militares desastrosas. Mas não podemos tentar encontrar na civilização as causas da barbárie. DCEs pelo Brasil estão cheios de pessoas que odeiam americanos, mas não matam americanos — até o ódio, no mundo civilizado, é também civilizado.

A combinação de tragédias transmitidas em tempo real e o amplo espaço oferecido pela internet para opinarmos resulta em opiniões imbecis, em tentativas de mitigação de tragédias, em colocar aquele “mas”, depois daquele “foi uma tragédia”. Podemos discutir causas e consequências, podemos discutir o que deve ser feito e o que deveria ser feito. Podemos até colocar a culpa em George W. Bush. Só não podemos esquecer que toda essa discussão só é possível porque vivemos na civilização, e não na barbárie. Para os bárbaros, não há discussão: há bombas, e tiros, e reféns. E mortos.

Não há o que argumentar com animais detonadores de bomba, que carimbam seus passaportes para o paraíso com o sangue de inocentes. Mas podemos argumentar com nossos pares. Se o terrorismo é um problema que parece escapar às nossas forças, a progressiva abertura da civilização para o terror é algo que está ao nosso alcance discutir, e mudar. Não há diálogo com bárbaros, mas talvez haja diálogo com civilizados que tentam a todo custo eliminar suas diferenças para os bárbaros. E não, não se trata de condenar “toda uma religião”. O que importa é lembrar que existem valores fundamentais que independem de sua filiação religiosa. E que — desculpem a sinceridade — são mais importantes que sua religião. Cristãos, muçulmanos, budistas, são todos bem vindos à civilização: desde que aceitem a civilização.

Em momentos como estes, em que vemos os bárbaros adentrando de assalto na civilização, deveríamos reconhecer: somos melhores que eles.

Amálgama




Horacio Neiva

Advogado. Mestrando em Teoria do Direito.


Amálgama






MAIS RECENTES


  • Júlio Crespo

    A civilização é fruto da moral cristã, do não matarás. Portanto, a civilização é que tem que aceitar o cristianismo e não o contrário. Essa civilização que tem por base moral, esses valores e princípios cristãos, está em franca decadência devido a negação desses mesmos valores e princípios, ao legalizar atrocidades como a pena de morte, o aborto e a eutanásia. A cultura de morte domina hoje o mundo ocidental. Os maiores bárbaros do mundo ocidental são as suas próprias elites. Os islâmicos só estão fechando a tampa desse caixão.

  • Alex Regis

    Ora, temos 40 mil assassinatos no Brasil por ano e mortes acontecem por racismos e intolerâncias de toda sorte. A barbaridade, a intolerância, a ignorância, o fundamentalismo para se encontrar apenas no outro, em geral, no oriente né? Ora, a Civilização e barbárie não pode ser representada por uma geografia territorial bem definida, amas habitam cada um de nós em todos os tempos e espaços, caminham lado a lado, uma pode produzir a outra e vice-versa. Somos todos potencialmente bárbaros até o fim de nossa existência.