Fidel Castro foi um tirano execrável e seu irmão, Raul, não é diferente.
Andrew Roberts, The Spectator
trad. Fabrício de Moraes
Por que os ditadores de esquerda, quando morrem, são sempre tratados com mais respeito reverencial do que os ditadores de direita, mesmo entre a própria direita? As mortes de ditadores como Franco, Pinochet e Somoza são lembradas, com justiça e enfaticamente, junto com sua história de abusos dos direitos humanos; todavia, o mesmo tratamento não se aplica aos ditadores de esquerda que foram tão monstruosamente cruéis para as pessoas que se opunham aos seus regimes.
A morte de Fidel Casto é um caso perfeito, nesse sentido. A BBC News descreveu-o como “um dos líderes mais icônicos e mais permanentes em seu governo em todo o mundo”, mencionando somente no quarto parágrafo que “críticos o viam como um ditador”. Críticos?! Que outra designação objetiva existe para um homem que jamais realizou eleições livres ou justas, encarcerou oponentes políticos após julgamentos presididos por juízes mancomunados, controlou completamente toda a mídia nacional e instalou seu irmão como seu sucessor?
A Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional documentou mais de 8.600 detenções politicamente motivadas de oponentes do governo e ativistas durante o ano. A despeito disso, o jornal The Guardian anunciou que “o ícone revolucionário, um dos líderes mais conhecidos e controversos do mundo, sobreviveu a incontáveis tentativas de assassinatos por parte dos EUA e a necrológios precoces, mas, no fim, provou-se mortal”. Em seu décimo primeiro parágrafo mencionou “as preocupações para com os direitos humanos sob o regime de Castro”, porém somente na medida em que foram mencionados antes por François Hollande do que pelo próprio jornal. Qualquer leitor estaria perdoado por pensar que Casto era “controverso” não por sua ditadura impiedosa e pelo uso da tortura, mas simplesmente porque a CIA não apreciava seu marxismo-leninismo.
Também The Telegraph, lamentavelmente para um jornal conservador, apresentou seu necrológio como manchete: “Herói Revolucionário” e afirmou “em sua terra, ele eliminou o capitalismo e recebeu o apoio [popular] por construir escolas e hospitais aos pobres. Entretanto, também criou legiões de inimigos e críticos, os quais se concentram entre os exilados cubanos em Miami que fugiram de seu governo e o enxergavam como um tirano implacável”. Isto implica que os cubanos que vivem em Cuba amavam-no devido às suas reformas na assistência médica e educação, ao invés de odiá-lo secretamente por fazer com que a ilha deles permanecesse vivendo nos anos de 1960.
Quando visitei Cuba ano passado, percebi como todo mundo fora de Havana permanecia suspenso numa geração tecnológica anterior, com burros e carroças, e não ônibus, conduzindo pessoas ao trabalho, e bois, em vez de tratores, sendo usados na agricultura. Os médicos ganhavam mais à noite servindo como guias turísticos do que no tão alardeado sistema de saúde.
A Anistia Internacional – cuja descrição de Cuba como uma ditadura fascista não foi registrada pelo Guardian – afirmou em seu Relatório de Cuba 2015/16 que, a despeito de todos os esforços por parte do presidente Obama em normalizar as relações com os regimes dos Castros, “os críticos do governo continuam a sofrer assédio, ‘atos de repúdio’ (demonstrações levadas a cabo por partidários do governo juntamente com a participação de oficiais de segurança do Estado) e processos criminais por motivos políticos. Continuaram aparecendo informações de críticos do governo, incluindo jornalistas e ativistas dos direitos humanas, sendo rotineiramente sujeitados a prisões arbitrárias e detenções de curto prazo devido ao exercício de seus direitos à liberdade de expressão, associação, reunião e de circulação”.
Fidel Castro foi um tirano execrável e seu irmão, Raul, não é diferente. Os meios de comunicação livres do Ocidente deveriam ter dito isso logo no cabeçalho de suas notícias, em vez de admiti-lo nos parágrafos finais como se fosse um detalhe desagradável.
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