Os republicanos se manterão na linha sobre austeridade fiscal, como prometeram nos anos de oposição?
Noah Rothman, National Review
trad. Fabrício de Moraes
Ao vencer a indicação do Partido Republicano, Donald Trump baniu o conservadorismo como ethos dirigente do GOP. Como presidente, ele pode levar os conservadores no Congresso a cravarem uma estaca no coração da ideologia de governo mínimo.
Donald Trump venceu as eleições presidenciais ao mesmo tempo que se afastava abertamente dos ideais conservadores. Como candidato à indicação republicana, ele abraçou mandatos de segurança, rejeitou a reforma de prerrogativas e prescreveu uma expansão do governo federal e da autoridade executiva com o intuito de promulgar suas preferências com relação à imigração. Quando conservadores hesitaram em apoiar Trump mesmo depois de ele receber a indicação, o indicado do GOP disse que o sentimento era mútuo. “O nome do partido é Republicano”, Trump afirmou na época; “não é chamado Partido Conservador”. No que diz respeito às políticas, Trump jamais mudou sua natureza. Ele concorreu numa plataforma nacionalista retrógrada, defendendo a ressurreição da indústria pesada americana por meio de tarifas, protecionismos e da “guerra comercial” (palavras dele) com a China.
E no fim de tudo isto, Donald Trump recebeu o maior total de votos para os republicanos desde 1988. Embora seu total de votos tenha sido menor do que de Mitt Romney, sua distribuição na parte central e meridional do Centro-Oeste representou uma vigorosa demonstração de força política. Todavia, esses mesmos ventos que impulsionaram Donald Trump para o gabinete presidencial também ratificaram a legitimidade das maiorias do Partido Republicano no Congresso. Vários dos membros que foram reeleitos aos seus assentos na Câmara dos Representantes e no Senado não se consideram como populistas trumpeanos, mas sim como conservadores, filhos da onda eleitoral do Tea Party em 2010. A não ser que Donald Trump, uma vez no Salão Oval, dê meia-volta, ele solicitará que um Congresso conservador abra mão de suas convicções e abrace um admirável novo futuro populista-progressista sob Trump.
Os conservadores teriam tido sorte em viver num exílio confortável. Afinal, é uma condição com a qual estão familiarizados e onde os riscos são baixos. No entanto, o destino não foi tão gentil para com aqueles que apoiaram Donald Trump; eles devem agora governar tendo Trump como o líder de seu partido. Os conservadores curvar-se-ão às suas propostas perdulárias, permitindo com isso que seu presidente faça deles e de sua filosofia hipócritas?
Aqueles republicanos que lamentam que o conservadorismo austero não é capaz de apelar àqueles para quem o débito nacional é uma abstração aplaudiram a proposta de suporte infantil (“marca registrada de Ivanka Trump”) do presidente eleito. O plano expande o crédito fiscal relativo aos rendimentos auferidos às mães de recém-nascidos e também estende, às mães que satisfazem certos requisitos, seis meses de seguro desemprego a um custo aproximado de US$ 2,5 bilhões por ano. Esta, porém, é provavelmente uma estimativa tosca, visto que alguns empregadores provavelmente tirariam proveito do programa, abandonando as opções já existentes de licença-maternidade. Para pagar por isso, a campanha simplesmente afirmou que desejava buscar a eliminação do gasto estimado de US$ 3,4 bilhões, os quais estavam ligados a fraudes de seguro desemprego. Trata-se, pois, de um insulto, não de uma proposta política neutra com relação aos débitos. Os republicanos que se opuseram a um plano semelhante de Barack Obama aceitarão esse proposto por Trump?
Donald Trump gastou semanas no afã de convencer como seu plano de dispender US$ 500 bilhões em obras públicas e em projetos de infraestrutura era aproximadamente o dobro daquilo que Hillary Clinton alegava que iria gastar. No último mês, ele inexplicavelmente dobrou sua proposta para US$ 1 trilhão. Isso é prática comum para promotores imobiliários arrogantes, para quem preços altos são um pré-requisito para garantir investidores, mas é um comportamento irresponsável num legislador conservador. Como os republicanos pagarão isso? Manter-se-ão na linha sobre austeridade fiscal, como prometeram nos anos de oposição, ou ficarão em suas tocas quando a proposta onerosa vier de um presidente republicano?
Trump também propôs uma expansão dramática no financiamento na área da defesa. Ele solicitou que o Congresso revogasse o Ato de Controle Orçamentário de 2011 (“o sequestro”), e prometeu lidar com os problemas candentes no Departamento de Assuntos de Veteranos simplesmente injetando dinheiro nele. Para compensar esses novos gastos, Trump sugeriu a eliminação dos “desperdícios governamentais e dos esquemas orçamentários” e “pagamentos governamentais inapropriados”, o que equivale a dizer, “desperdício, fraude e abuso”.
E falando de obras grandiosas, há ainda a questão das propostas de imigração de Trump. Funcionários da equipe de transição de Trump já estão moderando as expectativas de que o Grande Muro no Rio Grande brotará, subitamente e a qualquer momento, no sudoeste do país. Alguns já estimaram que somente os custos dos materiais ultrapassarão US$ 17 bilhões, isto sem mencionar os anos de agrimensura, estudos de impacto ambiental, taxas e custos de sindicatos de trabalhadores ligado à construção de tal muro. Com relação à promessa de Trump de prender e deportar por volta de 11 milhões de imigrantes ilegais no decorrer de dois anos apenas, o diretor do Gabinete Orçamentário do Congresso, Douglas Holtz-Eakin, estimou que uma operação tão ambiciosa como essa custaria, no mínimo, US$ 300 milhões. E, conforme Linda Chavez apropriadamente observou, esses projetos irão provavelmente acelerar o início de uma recessão resultante da produtividade e mão-de-obra baixas. Mesmo se Trump se afastar demasiadamente desse plano, ele não será capaz de abandoná-lo por completo. O que os republicanos conservadores farão?
O Partido Republicano é atualmente conduzido por um populista que concorreu numa plataforma nacionalista; mas os republicanos no Congresso não têm obrigação alguma de abandonar seus princípios e bom senso a serviço da ideia nebulosa de um mandato eleitoral. Os republicanos do Congresso não precisam ter um relacionamento antagonista com o líder de seu partido, mas também não deveriam desistir daquilo pelo qual seus eleitores votaram: economia pelo lado da oferta, orçamentos sustentáveis e liberdade individual. Para Donald Trump o conservadorismo pode não ter muita utilidade, mas para o Partido Republicano e para o país ele certamente tem.
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