O time mais regular num campeonato muito regular: o Corinthians foi o melhor time do primeiro turno (37 pontos, 11 vitórias, 65% de aproveitamento) e o segundo melhor do segundo turno (34 pontos, 10 vitórias, 60% de aproveitamento). O time mais equilibrado num campeonato muito equilibrado: apenas o 8º melhor ataque, com 53 gols, mas a melhor defesa, sofrendo apenas 36.
Um time sem grandes craques, num campeonato sem grandes craques. Com exceção talvez do Fluminense, que foi o melhor do segundo turno, e tinha o time mais repleto de estrelas, os times que disputaram o torneio primaram pela aplicação tática, pelo esforço físico, pela coletividade, pela marcação e pelo passe. Os jogadores mais caros deste campeonato não são grandes craques do momento, mas grandes nomes do passado – ex-craques, para ser mais preciso. E até nisso o Corinthians foi típico, gastando alguns milhões de reais no salário de Adriano, que ficou no Departamento Médico o tempo todo, e entrou poucos minutos em campo, o suficiente para fazer um gol decisivo num jogo decisivo.
O outro grande jogador do passado que passeou pelos gramados brasileiros foi Ronaldinho, que esboçou alguma vontade de se consagrar como principal jogador na temporada, e mereceu até nova chance na Seleção. Tudo apenas para confirmar que voltaria a ser apagado como tem sido nos últimos anos — exceto pelo gol decisivo contra o Inter na penúltima rodada, aproveitando uma bobeira do normalmente ótimo zagueiro colorado, e marcando o gol que pode ter significado a vaga de Libertadores em 2012.
Não apenas pelos ex-craques é que Flamengo e Corinthians foram paradigmáticos. Mas também pela completa ausência de grandes treinadores. Luxemburgo é um nome apagado há muitos anos. Mesmo tentando um retorno ao alto nível com que já dirigiu times à beira do gramado, e fazendo isso no seu time do coração, Luxemburgo mostrou que o futebol brasileiro está mesmo numa péssima safra de técnicos. O único que talvez esboçou ser exceção foi Jorginho, que comandou o Figueirense numa incrível seqüência invicta no segundo turno, colocando o time na disputa por Libertadores e título, apenas para perder tudo nas últimas três rodadas. Isso com um time sem grandes craques, talvez o maior destaque positivo deste Brasileirão. (Não! O maior destaque, além do campeão Corinthians, foi o Vasco. Um time que já tinha feito tudo que precisava no ano quando venceu a Copa do Brasil. Não jogava mais por vaga de Libertadores e, ao invés de fazer como fazem todos — e fez o Santos este ano –, surpreendeu jogando com toda força o campeonato e disputando o título até a última rodada.)
Mas o título era mesmo do Corinthians – estava escrito. Porque foi o time que liderou de ponta a ponta. Exceto por um breve momento de descuido entre a 24ª e a 27ª rodadas. Assim, quem sabe, o alvi-negro paulistano apague a pecha de ter ganhado em 2005 um campeonato completamente melado por escândalos de arbitragem, convenientemente aproveitados para favorecer a segunda maior torcida do Brasil.
As grandes decepções do campeonato podem ser enfileiradas, e explicam em grande parte porque o campeão deste ano foi um time que, de fato, em momento algum jogou futebol de campeão. Do mesmo modo como o Vasco havia ganhado a Copa do Brasil empatando jogos e classificando-se no critério de mais gols fora de casa.
Os concorrentes que tinham fôlego mas não apresentaram futebol condizente, terminando como os grandes fiascos do ano, podem ser enumerados nesta ordem:
1. Cruzeiro. Eu coloquei o time entre os favoritos ao título, antes do campeonato começar. Mas não errei sozinho, fui acompanhado dos especialistas da Placar (abaixo). Depois de encantar na fase de grupos da Libertadores, o Cruzeiro entrou numa espiral descendente, e fez sua pior campanha na história do Campeonato Brasileiro. No segundo turno teve momentos totalmente vexaminosos, ficando 11 rodadas sem vencer.
2. Flamengo. Campeão carioca invicto (mais empatando do que ganhando, é certo), último invicto a cair no Brasileirão, e time que terminou o primeiro turno disputando a ponta com o Corinthians, o Flamengo somou apenas 25 pontos no segundo turno (44% de aproveitamento). Dependendo demais de jogadores como Ronaldinho e Tiago Neves, e com um técnico com validade vencida à beira do gramado, o Flamengo terminou o ano com salários atrasados, jogando pouco e conquistando vaga de Libertadores por causa dos maus resultados dos outros.
3. Fluminense. Defendia o título de campeão brasileiro, e era o time mais forte do campeonato, ao menos na prancheta. Demorou a se recuperar da saída de Muricy Ramalho e perdeu Conca para um time da China, mas recuperou o fôlego com a chegada de Abel Braga. Só que teve um início pífio – no primeiro turno terminou em 11º, com 25 pontos (44%) e zero gols de saldo, exatamente como o Flamengo no segundo turno. Sendo disparado o melhor time do segundo turno, o Fluminense terminou em ascensão, em terceiro lugar e com vaga de Libertadores, o que diminui a sensação de fracasso. Some-se o brilho tardio de Fred, que na reta final fez 4 gols no jogo contra o Grêmio, 3 contra o Figueirense, 3 contra o Coritiba e 2 contra o Avaí. Com a festa dos 12 gols sobre os times do Sul, Fred pulou para a vice-artilharia do campeonato, atrás de Borges, do Santos. Tendo praticamente decidido estes jogos com seu brilho individual, pode-se dizer que os 12 pontos devidos à estrela de Fred foram os responsáveis pela classificação do Fluninense à Libertadores. E pensar que o artilheiro esteve a ponto de ser demitido porque tomou umas caipirinhas…
4. São Paulo. O melhor time da história recente do futebol brasileiro passou 2011 em processo de renovação do elenco, tendo várias jovens promessas em fase de consolidação na carreira, especialmente Lucas, Cícero e Casemiro — somado a outros jogadores capazes de oscilar entre jogadas de talento e desempenhos pífios (como Carlinhos Paraíba, Marlos ou Dagoberto), à experiência de Rivaldo sempre desdenhada pelos técnicos (mas que se mostrou decisiva em diversos momentos) e à entrada tardia de Luis Fabiano no campeonato. Contratação muito cara, o centro-avante esteve bastante tempo no Departamento Médico, mas no final do campeonato mostrou que é candidato a melhor jogador em atuação no Brasil. A campanha do São Paulo foi irregular, terminando o primeiro turno em 3º, com 61% de aproveitamento, mas sendo apenas o 14º do segundo turno, com míseros 42%. A vaga de Libertadores foi perdida, certamente, na seqüência de 9 jogos sem vitória, entre a 25ª e a 33ª rodadas. Aliás, coincidência ou não, Atlético PR e São Paulo são dois times que afundaram este ano nas mãos de Adilson Batista, um treinador que vai ficando terrivelmente marcado por fracassos desde que saiu do Cruzeiro.
O Botafogo só não é uma decepção se pensarmos que ninguém dava nada por ele no início do campeonato. Mas para um time que chegou a disputar a primeira posição no início do segundo turno, seu desempenho no final do campeonato foi sim bem decepcionante. A 9ª posição em que terminou foi sua pior classificação no ano. A perda da vaga de Libertadores se deu pelo fato do time ter vencido pela última vez na 32ª rodada, quando fez 1×0 sobre o Cruzeiro. Depois disso foram 5 derrotas e 1 empate, 12 gols sofridos, apenas 3 marcados. Demitir Caio Júnior não resolveu nada, porque não era ele o culpado. Na verdade, o Botafogo sofreu a falta de peças de reposição e de possibilidades de variação tática. Seu brilho momentâneo pode ser creditado mais à incompetência dos outros que às suas virtudes.
O Internacional pode não ser exatamente uma decepção, pois terminou com vaga de Libertadores. Mas tendo um elenco tão caro, acabou mostrando pouco futebol. Antes do campeonato começar, era apontado como sério candidato ao título. Durante o torneio foi muito irregular, oscilando entre vitórias convincentes e jogos com resultados horríveis diante de times fracos. Sobrou do time o atacante Leandro Damião que, junto com Lucas do São Paulo, é o único novo talento capaz de empolgar quando se pensa em quem deverá vestir a camisa verde-amarela em 2014.
O Coritiba também não seria exatamente um time para se dizer que decepcionou. Não fosse pelo futebol encantador do primeiro semestre, que parecia não ter adversários, não seria cogitado como candidato a alguma coisa neste campeonato. A questão é que olhando alguns detalhes, fica-se em dúvida sobre qual Coritiba considerar neste Brasileirão: no Couto Pereira o time foi simplesmente arrasador – o melhor mandante do torneio, com 43 pontos, 13 vitórias, 40 gols marcados e 27 de saldo. Como visitante, uma moçoila, que venceu apenas 3 jogos e teve a mesma pontuação do Cruzeiro quase rebaixado. Um time sem grandes craques, com uma defesa segura e muita aplicação tática, capaz de jogar por música em seu estádio e não apresentar nada fora de casa.
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Além disso tudo, o Brasileirão vai cada vez mais mostrando que é um campeonato mal organizado, com clubes cuja administração continua no limiar da bandidagem. A televisão continua influenciando demais no torneio, impingindo o horrível horário das 21:50h, um desrespeito ao torcedor, que também segue sendo desrespeitado em estádios de más condições. Os jogadores recebem salários astronômicos e apresentam pouco futebol em troca. Os treinadores não precisam fazer nada útil, porque, se forem demitidos, terão emprego em outro clube desesperado no dia seguinte. O campeonato continua longo demais e com muitos clubes, e o calendário certamente precisa de muitas melhorias.
Mas tudo bem. A CBF continuará fazendo o que bem entende, junto com a Rede Globo e os cartolas dos clubes, com a conivência dos jogadores e treinadores que recebem uma fatia do dinheiro que corre. Pago por nós, torcedores, que, afinal, não nos importamos muito com nada disso, na espectativa de possíveis vitórias do nosso clube preferido. Afinal, somos “apaixonados por futebol”.
A continuar nesta toada, algum dia vamos perceber o quanto andamos de lado nestes anos decisivos da história brasileira. Mais ou menos como fizeram todos os clubes no campeonato deste ano.
Se eu tivesse que apontar algum destaque neste campeonato, seja time, seja treinador, seja jogador, eu seria incapaz. Acompanhei este torneio como nunca antes, pela mera empolgação de ver o melhor Coritiba que já vi jogar (eu era pequeno demais para acompanhar as façanhas daquele time da década de 1970). Aliás, para mim o Coritiba de 2011, apesar do desfecho decepcionante, é realmente o que o futebol brasileiro tem de bom atualmente: jogos bonitos, grandes vitórias, uma administração decente, respeito ao torcedor e, principalmente, continuidade: o time em 2012 será o mesmo, e promete muito para torcedores como eu. Um time capaz de grandes resultados mesmo sem atletas caros e honrando seus compromissos financeiros. Qualidades capazes de apagar as várias decepções da temporada.
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