O papel do PT no caso Celso Daniel fica cada vez mais claro.
Às vezes a realidade é tão dura de encarar que algumas pessoas simplesmente a negam. Os assassinatos dos ex-prefeitos do PT Celso Daniel e Toninho do PT, em um intervalo de apenas quatro meses, é um desses casos. Aliás, não apenas deles, mas de mais sete pessoas relacionadas ao caso. Quando aconteceu a série de assassinatos Lula estava em plena ascensão nas pesquisas, nos braços do povo e nas graças da imprensa. Como acreditar que o PT tivesse algum envolvimento em caso tão escabroso?
Pois é. Pouco depois, a família do Celso Daniel teve que fugir do país para não morrer também, Lula venceu a eleição e o caso caiu no esquecimento. Só recentemente alguns fatos novos começaram a trazer de algumas luzes sobre o que realmente aconteceu.
Primeiro em 2005, com a revelações de trechos de gravações telefônicas entre o braço direito de Lula, Gilberto Carvalho, e o principal suspeito do assassinato, Sérgio Sombra, combinando táticas de defesa, inclusive a intenção de desqualificar a investigação. Em outra gravação, o deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, também em conversa com Gilberto Carvalho, demonstrava sua preocupação com o depoimento de um dos irmãos do Celso Daniel, que hoje é um dos ex-petistas que acusam o partido pelo assassinato do prefeito.
Aliás, não só ele, como também o ex-delegado Tuma Junior, o juiz João Carlos da Rocha Mattos e empresários extorquidos pelo esquema, como, por exemplo, o pai da hoje deputada Mara Gabrilli.
No pouco que sobrou das horas e horas de gravações consideradas ilegais e que foram destruídas, pelo menos outros cinco trechos altamente comprometedores apontam para a mesma direção: o PT sempre esteve mais interessado em abafar as investigações do caso Celso Daniel do que em encontrar os culpados por tal atrocidade. Em nenhum trecho das conversas ninguém (nem mesmo a viúva) demonstra qualquer pesar com a morte do antigo companheiro, apenas preocupação com a versão que iriam passar para a imprensa.
Dez anos depois do exílio no exterior, os irmãos de Celso Daniel voltaram dispostos a arriscar suas vidas para contar o que sabem e punir pelo menos o principal acusado do assassinato de seu irmão, o tal Sérgio Sombra, que até então nem sequer tinha sido julgado. Bruno Daniel, também um ex-político do PT e irmão do Celso Daniel, fez suas graves denúncias em entrevista em rede nacional no programa Roda Viva.
Para surpresa geral, a entrevista não provocou a repercussão esperada, até porque Bruno foi o tempo todo encurralado pelos jornalistas claramente governistas comandados por Mário Sérgio Conti, o então apresentador do programa que chegou a ser deselegante com o entrevistado com sua tentativa descarada de desqualificá-lo, atuando exatamente como aqueles advogados que cobram uma prova material para cada afirmação.
Mas por que diabos um ex-integrante do PT viria a público acusar o antigo partido de assassinar seu próprio irmão, caros jornalistas? Ainda mais quando tais acusações implicam também o irmão morto, um dos envolvidos no esquema de corrupção montado nas prefeituras do interior de São Paulo com o objetivo de fazer caixa para a campanha de Lula em 2002.
É importante salientar também que a mesma opinião dos irmãos de Celso Daniel tem Tuma Júnior, o então delegado que cuidou do caso. A teoria do Tuma para o caso é que o prefeito Celso Daniel teria se revoltado quando descobriu que parte do dinheiro desviado estava sendo usado para o enriquecimento pessoal de alguns integrantes. Ao tentar dar um susto no prefeito, o sequestro teria saído do controle e culminado com o assassinato, embora este não tenha sido o objetivo inicial. Seja como for, nunca se conseguiu provar tal hipótese, embora os depoimentos e gravações apontem na mesma direção.
Logo após a condenação de Marcos Valério no esquema do Mensalão, surgiu nova pista sobre o caso. Tentando uma delação premiada, Valério afirmou que teria pago R$ 6 milhões ao empresário Ronam Maria Pinto, que ameaçava abrir o bico e falar detalhes escabrosos sobre os assassinatos. Meses depois, a PF encontrou provas do tal depósito, mas a coisa ficou parada novamente, até que agora o amigão de Lula, José Carlos Bumlai, começou a abrir a boca e confirmar entre outras coisas o tal acerto para calar o chantagista de Lula.
A reportagem de IstoÉ desta semana é estarrecedora, mas peca por não mostrar os últimos recuos do empresário. Um texto de Reinaldo Azevedo resume bem as idas e vindas de Bumlai:
Bumlai negava de pés juntos que houvesse sido laranja do empréstimo de R$ 12 milhões do banco Schahin ao PT. Agora ele confessa: foi. Bumlai negava de pés juntos que havia pagado o empréstimo com embriões e esperma de boi. Agora, ele confessa: estava mentindo. Bumlai negava de pés juntos que o grupo Bertin tivesse servido de intermediário na transferência do dinheiro para o PT. Agora ele confessa: foi, sim! Bumlai negava de pés juntos que tivesse ouvido falar da operação para pagar empresários que estariam extorquindo Lula e Gilberto Carvalho. Agora, ele diz ter ouvido falar.
Atualizando o texto de Reinaldo, agora Bumlai confessa também esta última parte. Ou seja, Bumlai comporta-se exatamente como esperado. A cada depoimento, vai caindo em contradição, até que não resta outra opção a não ser admitir que mentiu no anterior e corrigir-se. Não custa lembrar que, logo que foi preso, veio com aquela de que “não era tão amigo assim do Lula”.
Portanto, o que este caso de Bumlai deixa claro é que o que sabemos através dos delatores é apenas uma parte do que foi possível extrair deles, afinal envolver outras pessoas pode também trazer sérias consequências a pessoas próximas. Daí os conchavos de bastidores com os familiares, como a tentativa frustrada do Delcídio do Amaral revelou recentemente, por exemplo. Se não é possível impedir a delação, pelo menos atenua-se alguns pontos, omite-se outros, cita-se alguém da oposição… Nada mais previsível.
Enfim, quando nos perguntamos o que mais escabroso poderia acontecer para completar a lista de ilicitudes cometidas pelo PT, na verdade o “mais” já aconteceu: acusação de assassinatos. O mais incrível é como o PT conseguiu sobreviver esses anos todos.
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Daniel Bacellar
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Amilton Aquino
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André Martins
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Amilton Aquino
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André Martins
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