Mudança no Ministério da Fazenda pode trazer confiança ao mercado e estimular investimentos. Só que não.
Os números do PIB do terceiro trimestre são reveladores sobre a causa do desastre econômico que vivemos: a queda de quase 20% na taxa de investimento. Estamos investindo pouco porque o futuro é incerto, e o futuro é incerto porque o governo do PT se esforça muito para assegurar que a recessão se prolongue sempre mais. A troca do ministro da Fazenda é apenas a ponta do iceberg.
Senão vejamos: o investimento no cálculo do PIB é apontado pela Formação Bruta de Capital Fixo, indicador composto da soma dos gastos com construção civil e aquisição de equipamentos. Para medi-lo, o IBGE compara a evolução de ativos nas declarações de imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas. Então por que o gasto com construção civil e compra de equipamentos está diminuindo? Basicamente, porque as pessoas e as empresas estão temerosas sobre o futuro, e por isso tendem a evitar contrair dívidas de longo prazo, por não saberem se poderão pagá-las. O cidadão comum deixa de comprar a casa própria, e a empresa deixa de expandir seu negócio.
Em uma economia normal, o emprego e a renda crescem por conta do investimento. Um governo não pode inventar empregos. Dos economistas da escola austríaca, avessos ao intervencionismo estatal, aos cepalinos, adeptos fervorosos do estatismo, todos estão de acordo que o papel do Estado é estimular os investimentos. O que muda é o tipo de estímulo: os menos estatistas defenderão salvaguardas ao capital privado, os mais estatistas defenderão investimento estatal direto.
O que o petismo tem feito, especialmente no período Dilma, é antieconômico ao extremo. A Nova Matriz Econômica de Mantega-Augustin-Barbosa promove um forte intervencionismo estatal, mas com foco no consumo. É neste sentido que vão projetos como as desonerações e os subsídios oferecidos às empresas e pessoas físicas. Melhora-se a margem das empresas, expande-se ou sustenta-se o consumo, mas não se gera emprego. Este só pode ser gerado pelo investimento.
A ilusão de que o fomento ao consumo geraria empregos se deve à existência de uma demanda reprimida por bens de consumo entre 1999, ano da crise do Plano Real, e 2002. Nos anos de Lula, medidas como Bolsa Família, aumento do salário mínimo e formalização do trabalho aumentaram a renda da base da pirâmide e puxaram os investimentos pela demanda. Mas neste período a produtividade estagnou, com efeitos deletérios sobre a economia e a sociedade: a partir de 2010 a renda dos mais pobres parou de crescer, e os empregos gerados na onda de prosperidade foram altamente precários, como operadores de telemarketing e pedreiros.
Joaquim Levy tinha um projeto consistente para reativar a economia: promover um ajuste duro e rápido em 2015 e fomentar reformas institucionais para estimular o investimento privado a partir de 2016, com foco em elevar a produtividade. Para dar certo, precisaria enfrentar resistência de diversos setores empresariais, sindicais e políticos, o que só seria possível com uma liderança política que endossasse o projeto Levy e que fosse hábil o suficiente para construir um pacto pelo ajuste.
Nem Dilma nem o PT estavam à altura dos acontecimentos. Os mesmos que pedalaram para ganhar as eleições sabotaram o projeto Levy desde o primeiro dia. Com isso, minaram a confiança do mercado e da sociedade e tornaram o ajuste ainda mais doloroso. Foi a crise de confiança promovida pelo governo do PT que intensificou a crise ao reduzir o nível de investimentos e consequentemente deprimir a economia e reduzir ainda mais a arrecadação. A perda do investment grade é apenas a constatação deste cenário.
Nelson Barbosa, um dos sabotadores de Levy, pode ter sabotado a si mesmo. A desconfiança com que é recebido exigirá dele um ajuste fiscal ainda mais rigoroso que o de Levy, com impactos ainda mais recessivos. O PT acabou demonstrando não entender o homo aeconomicus, o comportamento econômico do ser humano, e confirmou as suspeitas de que sua política pode nos levar ao nível de vida do homem de Neanderthal.
Paulo Roberto Silva
Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.
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