Falta de estratégia de engajamento abriu espaço para críticos da reestruturação escolar.
Não importa de que lado você esteja, é consenso que Alckmin e a secretaria da Educação falharam na reestruturação escolar. Mas falharam onde? Qual foi o erro?
Com certeza, o recuo do Alckmin não é resultado direto da mobilização das escolas, embora esteja relacionado a ela. Ele está sim, relacionado a erros táticos que permitiram que uma mobilização vanguardista ganhasse apoio popular e colocasse o governo contra a parede. Alckmin não se rendeu às ocupações, mas à pesquisa Datafolha publicada na própria sexta-feira, que apontou rejeição à reestruturação e apoio às ocupações.
Um boneco de posto sabe que qualquer política de mudança em Educação atrairá a oposição dos suspeitos de sempre: grêmios estudantis, sindicatos de professores e grupos de extrema esquerda.
Por isso, quem quer promover uma política pública educacional precisa construir um consenso atraindo os atores com os quais é possível dialogar, para isolar aqueles com quem não cabe interlocução. No caso, atrair diretores de escola, coordenadores pedagógicos e pais de alunos para debater e contribuir com a proposta, incorporando propostas pontuais de ajuste e abrindo os dados sobre ganhos pedagógicos e orçamentários da proposta.
Ao desenvolver uma reforma em gabinete, sem dar aos principais interessados espaço para contribuição, o governo Alckmin substituiu o engajamento de stakeholders por uma abordagem autoritária (o que explica o apoio obtido pela proposta em círculos tarados por um cacetete). Isso somado ao desconforto típico de qualquer mudança deu palco aos setores opositores, que conseguiram alavancar um movimento radical com forte apoio popular.
O lado opositor também precisa pôr os pés no chão antes de comemorar. Sair dizendo “Só a luta muda a vida” tem o mesmo valor de frases de auto-ajuda, como “O trabalho dignifica o homem”. Ou seja, nenhum. Alckmin não recuou porque os estudantes fizeram ocupação, mas porque a ocupação teve a simpatia da opinião pública, e ameaçou a popularidade do governo. Manter a ocupação neste momento, após o recuo do governo, pode queimar a frágil aceitação popular que conquistaram.
Afinal, a batalha neste caso está no campo da opinião pública, não no poder de fogo de autoridades cretinas ou movimentos de radicalização casuísta.
Paulo Roberto Silva
Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.
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